As cortinas fecharam-se e ele olhou para o seu colega de palco.
BRUNO: Viste alguém?
ANDRÉ: Eu não vi nada.
BRUNO: Com estes holofotes acabei por não ver ninguém.
ANDRÉ: Ela veio?
BRUNO: Não sei, não ouvi ninguém a aplaudir.
ANDRÉ: Como esperar que alguém aplauda uma tragédia?
BRUNO: Estava destinado a ser uma tragédia.
ANDRÉ: Estava, estava...
BRUNO: Estava.
ANDRÉ: Existem tragédias que viram comédias.
BRUNO: Mas esta era tragédia...
ANDRÉ: Sim tragédia. Sem duvida tragédia!
BRUNO: Deveríamos continuar? Percebe, se ninguém vêm faz sentido continuar?
ANDRÉ: Agora estás a ser dramático, foi o primeiro dia, que esperavas tu?
BRUNO: Esperava que viesse alguém. Uma pessoa ao menos.
ANDRÉ: Viemos ambos, já somos dois.
BRUNO: Agora sarcasmo meu amigo?
ANDRÉ: Podia-te dizer ironia, talvez...
Lá fora, após aquele pequeno diálogo, e sem ambos se aperceber que os microfones tinham permanecido ligados, começou-se a ouvir um público bater palmas.
Olharam um para o outro surpreendidos.
Irina Marques
27.03.2023
Dia Mundial do Teatro
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