06.24.2018 Republicação
O silêncio era tão profundo, eram seis e meia da manhã, o único som que se ouvia era um pássaro lutando lá fora, exatamente com a mesma pergunta. Insatisfeito com o silêncio, ele se manifestou ativamente, esperando que fosse hoje que sua voz finalmente fosse ouvida. Teve a oportunidade que sempre quis, afinou as cordas vocais, pousou a solo no fio elétrico e parou, olhou, e nesse ato, tão curto, conseguiu conquistar o público com a melodia mais incrível.
No entanto, incompreendido. Manteve-se o respeito profundo, este era o silêncio respeitado, mas no meio de uma multidão apenas um o entendia todo aquele seu ato, um único espectador, o gato.
Este ficou, ficou. Ele observava-o, ansioso para ouvir mais, admiração, fascínio? Mas como poderia tal encantamento acontecer se ambos não comunicavam da mesma forma?
O pássaro olhou em volta procurando o que restava de sua audiência. Ele olhou para o gato, pensou em cantar novamente, mas o gato, apesar de demonstrar admiração, não tinha como retribuir. Ele estava apenas sentado, com ar sombrio, apreciando tudo com olhar místico e hipnotizante.
O pássaro, pensou em quebrar as regras da sua natureza, pensou em se aproximar do gato e tentar cantar em seu ouvido. Ele se aproximou da parede mais próxima e pronunciou uma melodia curta.
O gato, como se, com um gesto natural, esticou-se , caminhou até a parede e olhou para o pássaro. Este, por sua vez, pensou em voar.
- Irina Marques
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