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Foto do escritorIrina Marques

Contos do Além

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O som ecoava na noite estrelada, pontuados pelos derbak, raq, nay e buzuk, transformavam todo o lugar num encantamento digno de sonho envolto em mistério e magia única. E ainda não poderia afirmar se estaria acordada ou a sonhar, talvez dentro de uma ilusão dentro de uma fascinação. Era como se tivéssemos sido envoltos na nossa essência - os berberes sabiam perfeitamente nos dar as boas vindas.

Até a fogueira parecia acompanhar numa dança das musicalidades produzidas pela combinação instrumental, as chamas saltavam de um lado para o outro em movimentos ondulantes como que se elas mesmo nos fornecessem uma dança do ventre.

O céu cobria-nos num manto de luzes definidas, pequenos pontos de brilhos de aléns, que nos levavam em viagens distantes, muito distantes de tudo o que se passava ao nosso redor. Levantamo-nos a fixar o céu, e a areia fina, tão fina, enterrava-nos os pés e, nós movíamo-nos lentamente num ambiente de deslumbre e fascinação impossível de descrever em palavras, era como se fossemos tão pequenos perante o Mundo, afastamo-nos de todos e, deixamos cair o corpo sobre a areia sempre a fitar aquele céu onde o nosso olhar se perdeu no meio de tantas estrelas - um sonho, só poderia ser um sonho. Estaria acordada?


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Foi como se tivesse acordado a meio de um sonho, estava onde sempre quis estar, uma tenda no meio do deserto lá no além. Em volta, só via areia fina e as enormes dunas que se erguiam até se perder de vista repetiam-se como ondas do mar, ora uma mais alta seguida de outra menos elevada. O calor e o sol ainda não se encontravam no seu auge, ainda estávamos nas primeiras horas da manhã, uma leve e tímida brisa ainda nos acariciava a face a relembrar da noite fria que havíamos testemunhado. As tonalidades daquele céu, é algo quase impossível de reproduzir quer seja por palavras, quer por alguma pintura mais realista, aquelas tonalidades ora azuis, laranjas, amarelas, violetas espelhavam-se na areia que parecia uma seda multicolor, uma extensão entre céu e terra. Sempre afirmarei que os sonhos são algo impossível de descrever e este era, sem dúvida, dos ambientes mais belos que tinha oportunidade de presenciar.

Quando sai da tenda as minhas vestes de pano branco solto esvoaçavam naquele vento ainda fresco e tu, chamaste-me para me sentar ao teu lado e usufruir daquela bela paisagem enquanto o sol não raiava plenamente no céu. Vimos o nascer do dia ali, sentados na manta colorida em cima das areias, a comer o pão forjado nas areias do deserto e a beber aquele chá de hortelã que em nenhum outro local me soube da mesma forma.


[...]


In Contos

- Irina Marques

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