top of page
Foto do escritorIrina Marques

De tempos a tempos

Atualizado: 27 de mar. de 2022

Não se sentia à vontade perante as luzes da imprensa, nunca tinha sido boa a dar entrevistas, muito menos não apreciava responder a questões ambíguas que não eram direcionada para ela, subterfúgios pensava. Filomena era assim, meio que estranha, o que os outros apreciavam ela, simplesmente observava, analisava e calava. Cometeu o erro de um dia perguntar como alguém estava, responderam-lhe com silêncio e nesse dia o seu mundo desabou, encontrou-se ligada numa teia de mentiras e enganos das mais variadíssimas espécies. Ela, não era assim. E após tanto silêncio aprendeu a que a novidade tem prazo e que quando alguém segue em frente o outro também já seguiu - não ficamos eternamente á espera e quando nos criam barreiras o melhor é mesmo esquecer. Um dia, nos seus passeios matinais registou, para num futuro não se esquecer:


"De tempos a tempos, tempos que passam, sem darmos conta, passa imenso tempo. Ou quando contamos em demasia e esperamos, ele demora a passar.

Presentes que se fazem passados em brumas de memórias onde só ficam os registos sentidos. Aprendemos a não acreditar nos sentidos porque palavras enganam, olhos percecionam ilusões, os barulhos são confundíveis, o tacto mostra-se confuso e os cheiros, esses vêm de memórias distantes - tudo aprendizagens - em que formamos barreiras ou muralhas ao que está de fora, ao que não presenciamos. Ela era uma profissional em detetar mentiras e desculpas que não se assentavam em verdades, toda a vida tinha lidado com isso, compreendia o mínimo detalhe - era uma particularidade. Os sentidos... aqueles que crescemos com eles...

Como falarei dos desertos que percorri? Terão sido imaginados, vivenciados ou sentidos. Por vezes viajo cá dentro e o real e imaginário fundem-se como se tratasse de uma certeza, deveras ambígua - linhas ténues da imaginação - pego-lhe o gosto. Como é bom criar os nossos mundos experienciados, fan-ta-si-a-dos, aos quais chamam de "loucos são todos loucos" pela nossa imaginação não ser conformada, dito: a obedecer às construções de outros. Não me importo que chamem louca, ora, se fosse sã (de acordo com as normas impostas) não criava limitava-me a descrever a realidade - simulada pelos sentidos. E eu, que tenho tantas em mim...

Procuramos respostas ás perguntas que temos nos sítios mais errados, mas só depois do erro é que constatamos que não era o local onde deveríamos estar, permanecer ou ficar. E é bom não ficar muito tempo no mesmo lugar, a esperar o que não vêm - criamos expectativas - e o tempo passa e, sem dar conta imenso tempo passou. Quando num outro local sabemos que podemos confiar, ficar ou marcar alguém - e como é bom sentir que laços são formados. Fecho os olhos registo aquele breve momento, invoco a memória e uma história se cria. Que loucura de procedimento ter esta mente veloz que liga acontecimento a explicação, ponto a ponto e num instante tem uma composição. Diziam-lhe que isso não é saudável mas sua vida sempre o assim foi quem a conhecia bem sabia que apesar da novidade ela mantia aqueles que a compreendiam por perto, no seu coração."

Komentar


Mengomentari telah dimatikan.
bottom of page