Foi aquele colégio, o maldito colégio em que Felícia se lembra ter passado os piores momentos da sua vida, em criança. Até, porque nessa altura, pouca vida sobrava fora desse espaço, noventa por cento das suas lembranças foram construídas ali, e todas elas, eram desagradáveis.
Felícia, lembra-se daquele dia como se fosse ontem, o dia em que viu a folha dourada, ela brilhava, era belíssima...
Era costume a sua professora pedir-lhe para ir buscar materiais que faltavam na aula, giz quando acabava, material de suporte quando não havia, ela era o alvo mais acessível devido ao seu alto nível de falta de atenção nas aulas, prescindir dela um pouco para fazer recados não se perdia muito na sua formação. Foi num dia desses, em que faltou material que Felícia, se deparou com a folha dourada no meio do corredor da escola a caminho da sua sala de aula.
Foi como se nunca tivesse visto nada assim, uma folha que reluzia, enorme e tão bela. Milhões de ideias lhe passaram pela sua cabeça, um mundo de sonho, imaginação e fantasia sem fim, ora, no fundo ela ainda era só uma criança. Já começava a fantasiar se, no mundo era possível haver algum jardim com aquela espécie de folhas porque as que tinha visto até agora eram opacas, e por momentos a sua imaginação vagueou por lugares pertencentes a universos fantásticos muito longe de tudo que já tinha visto.
Ela tinha achado a folha mágica que já lhe tinha dado mil ideias, pegou nela e seguiu para a sua sala, mas ao pegar notou que era muito delicada e se tinha partido numa parte, mesmo assim não se importou e seguiu.
Ao entrar na sua sala, sua professora ficou abismada quando a viu entrar e, antes de conseguir proferir as palavras “Olhe professora, tão bonito o que encontrei lá fora” não teve tempo. A professora levantou-se de forma possessa e perguntou “Onde encontraste essa folha?”, Felícia só teve tempo de responder timidamente “Lá fora”, nisto pegou na folha, partindo-a ainda mais dirigiu-se porta fora.
Aquele momento foi aterrorizador para Felícia que sabia que quando sua professora reagia assim encontrava-se em problemas. Ficou de pé em frente a todos os seus colegas, alvo de risadas, gozada, aterrorizada e a espera parecia não ter fim.
Quando sua professora entrou partiu a restante folha em pedaços e o castigo feroz aconteceu, sua professora fincou as unhas na sua orelha e pressionou até fazer sangue, quando o fez, deu-lhe um lenço e mandou-a para o canto da sala, os seus colegas riam-se, coisa que ela já estava acostumada. Sem reação, Felícia ficou encostada à parede a tentar perceber o que tinha acontecido, e não foi durante essa aula que percebeu, nem na próxima, ali ficou, à espera…
- Por Irina Marques
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