Raquel e sua mãe encontravam-se no café, mesmo ao lado Sr. Casimiro, de setenta e seis anos, coçava a cabeça e se debatia perante o aparelho rectangular pousado na mesa. Num acto desesperado, estabeleceu contacto visual com Raquel e dirigiu-lhe umas palavras “Menina, não se importa de chegar aqui, por favor?”. De imediato, ela levantou-se e dirigiu-se ao Sr. Casimiro.
A menina não se importa de me ajudar? A juventude percebe mais destas coisas que eu. Dizia enquanto mexia no seu telemóvel touch, com uma certa dificuldade.
Raquel, que sempre foi uma pessoa muito prestável, prontificou-se: “Claro, precisa de ajuda em quê?”
Eu tinha aqui uma coisa no telemóvel que gostava muito de usar, mas ontem, não sei o que aconteceu, depois do rapaz ali do clube desportivo me andar aqui a mexer, eu não sei mais onde isso está.”
“E o que era?” Perguntou Raquel.
“Era uma coisa em que me mandavam vídeos engraçados, e eu encontrava pessoas que já não via à muito tempo. Era um quadrado azul com um F desenhado.” Respondeu Sr. Casimiro.
“O Facebook?”
“Sim, era isso”. Disse Sr. Casimiro com prontidão. “Consegue-me ver onde isso está?” Passando o telemóvel para a mão de Raquel.
“Posso tentar.” Raquel começa à procura do ícone da rede social, contudo não o encontra, procura no telemóvel do Sr. Casimiro e observa que ele não o tem instalado. “Pelo que estive aqui a ver o Sr. não o tem no telemóvel.”.
“Não tenho? Mas eu tinha, tinha sim até tenho aqui um papel”. Saca de um papel onde continha a sua conta de usuário e sua palavra passe. “Foi desde que aquele malandro me mexeu no telemóvel, isso estava aí!”.
“Quer que eu veja se consigo instalar? Para voltar a conseguir ir lá?” Questionou Raquel.
“Oh menina, se me fizer esse favor, agradeço-lhe muito”.
“Deixe-me ver então.”. Enquanto isso, Raquel tentava voltar a instalar o Facebook no telemóvel do Sr. Casimiro.
“Sabe, eu não tinha nada disto menina, nem queria, mas o meu telemóvel antigo estragou-se e tive que comprar um novo. Este aqui é muito mais difícil de usar tem muita coisa que eu não percebo para que serve. Só o tenho á uma semana, e antes de ontem puseram-me aí isso, e sabe que eu gostei? Encontrei pessoas que não via à muito tempo, depois tenho um maluco que me está sempre a mandar videos engraçados. Sabe, é uma distracção…” Dizia Sr. Casimiro enquanto Raquel lhe instalava o programa. “Muitas vezes não temos nada para fazer ou alguém para falar, e vamos aí, estão sempre pessoas prontas para falar. Sabe, eu moro sozinho e distraio-me muito com isso.”.
“E faz muito bem!” Acrescentou Raquel, enquanto terminava de configurar a aplicação. “O Sr. tem nome para entrar na conta e palavra chave?”.
“Ah! Eu tenho aqui um papel que me disseram para guardar que era importante” Nele continha os dados. “É isto?”
“Sim.” Raquel introduziu os dados e entrou na conta de facebook de Sr. Casimiro. Logo, logo lhe surgiram sessenta e cinco notificações e dez mensagens. “Pronto, já está na sua conta”
“Oh menina, muito obrigada!” Agradeceu com seus olhos reluzentes de alegria.
“Olhe que tem aí muita coisa para ver”
Sr. Casimiro clica num botão, começa-se a rir e diz: “Olhe este é o Fernando, passa-me a vida a mandar estes videos malucos, já viu? É mesmo maluco este Fernando!”
Raquel sorriu. “Precisa de mais alguma ajuda?”.
“Oh! Não, muito obrigada, já me ajudou muito, muito mesmo!” Dizia Sr. Casimiro com uma felicidade visível na sua face. “A menina já me deu mais dez anos de vida”.
“Pronto, então sendo assim, vou embora. Tenha um bom dia!” Disse Raquel enquanto se afastava.
“Tenha um excelente dia menina”. Respondeu Sr. Casimiro a sorrir, sem tirar os olhos do ecrã retangular.
- Irina Marques
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