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Foto do escritorIrina Marques

O Caminho de Santiago - Minhoto Ribeiro II

Os Caminhos de Santiago são vários, pois eles percorrem os antigos traçados das vias romanas e medievais. O Caminho Ribeiro Minhoto representava Via Aquis Orígenes-Lucus, que cruzava as terras de Bracara Augusta, as terras do baixo Lima, atravessava a Serra do Gerês e seguia o itinerário do Minho e, onde entramos nos ribeiros. Aqui os arrieiros levam consigo um elemento dignificador ao espírito humano e a muitos peregrinos na antiguidade, as vinhas, desde o início do Caminho sempre foram companheiros inseparáveis dos peregrinos. Um outro denominador comum presente no caminho é a proliferação de águas quentes, presentes em Lobios, Monção, Melgaço, Padrenda, Cortegada, Arnoia, Prexigueiro… elas proporcionam, aos muitos peregrinos, um adoçante à sua fadiga uma forma de relaxar as suas dores da peregrinação.

Este itinerário é uma alternativa a um outro caminho existente, o Caminho do Litoral, que liga Valença a Tui. Existem três entradas em Espanha, falarei, da que percorri que se trata da: Monção, Melgaço, entra em Espanha por Cevide, continua por Padrenda, Pontevedra, Cortegada, Arnoia, Castelo de Mino, Ribadavia, Beade, Leiro, Carballino, Boborás, Beariz, Focarei, A Estrada, Vedra, Boqueixón e Santiago de Compostela. Foram cerca de 150 kms e necessitaram de uma preparação física e mental com muita antecipação.

Inicialmente pensei que a preparação mental não fosse muito necessária visto que estou acostumada a fazer vários trilhos no Gerês, com diversos níveis de dificuldade, entendi que provavelmente conseguiria “domar” a minha mente, até porque o meu trabalho é algo que exige grande esforço mental, pratico meditação, e estou habituada aos boicotes que ela me gosta de fazer. A parte física era a que mais me assustava, apesar de ter preparação física, sabia que nada tinha a ver com a que o meu corpo iria exigir todos os dias, acreditei que conseguiria porque estava habituada ao esforço que fazia nos vários trilhos e caminhadas, novamente, foi uma forma de acreditar que conseguiria perante o desafio que se propunha à minha frente.

Ao meu redor tudo indicava que não iria conseguir, as motivações exteriores só desmotivavam, não acreditando que eu era capaz de superar tamanho esforço físico, criavam mais problemas em algo que para mim já era problemático que chegasse - projectavam em mim, seus receios e eu, projectava a mim própria - sim porque estas coisas funcionavam como ricochete. Não vou dizer que todos duvidaram de mim, tive sempre com quem contar se em algum momento quisesse desistir da viagem e voltar para casa, e apesar de receosos, acreditaram que eu conseguiria. Já a batalha com a minha mente era outra… essas começam mesmo antes do caminho. A mente diz sempre “não vais conseguir! Porque te sujeitas a isto? Porque vais fazer isto? Achas mesmo que consegues? Vais-te magoar! Ainda te pode acontecer algo de mau no Caminho. São muitos quilômetros. Vais desistir nem a meio. Não vais ter onde dormir/comer. Se calhar era melhor não ires. Vais numa outra altura. Não consegues andar tanto. Vai chover”... poderia continuar o discurso que surgia constantemente dentro da minha cabeça mas, este pequeno impostor, todos temos - se lhe dermos ouvidos, é ele que não nos deixa seguir em frente e, se formos a adicionar o que ouvimos no exterior que compactua com as nossas dúvidas provavelmente não teria feito o caminho.


Irina Marques

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