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Foto do escritorIrina Marques

Pela noite dentro, texto.

Ela observava a janela do seu escritório, numa noite em que a insónia, novamente, tomava conta dos seus pensamentos. Tinha-se deslocado para ali porque não queria acordar o seu companheiro, dormia ferrado. Já tinha a tendência de se deslocar a outro local da casa e tentar desobedecer aos seus pensamentos. Naquele momento observava a lua, as suas noites insones calhavam sempre nas luas cheias. Sempre achou bela a lua cheia, expeto nas alturas de férias na praia, em que tentava observar o céu estrelado e aquele grande foco luminoso não permitia ver as constelações. Mas na cidade não, na cidade gostava das luas cheias. Pegou no seu telemóvel para fazer um registo, caía sempre nessa história - aproximava o zoom e voilá, lá saia a típica foto de algo alienígena no céu, parecia com tudo menos com a lua, desfocado e arrastado. Mas não deixava de insistir, ajustava e tentava tirar novamente, e novamente, não queria pegar na sua maquina melhor, estava a meio de noite e só queria adormecer. A determinada altura, e como esta história se repetia constantemente, aceitou que nunca iria conseguir focar a lua, então transformou aquelas fotos como se tratassem de estrelas - as coisas não têm que ser perfeitas nem fazer muito sentido, dizia. Não tinha lua, admirava as estrelas... De certa forma fazia-lhe lembrar episódios fantásticos que sempre admirou, noites na praia com suas amizades, onde observava aquele manto celeste ao som de guitarras, canto e djembes. E sonhava, enquanto o sono aos poucos começava a tomar posse dela, com uma possível ida ao deserto, sonho que sempre tivera, onde todos aqueles encantos estrelados as tendas e a cultura berber lhe iriam contar histórias místicas e de encantos nunca antes vistos - pelo menos era o ela que imaginava. E assim, aos poucos o sono tomava conta de si e a insónia dava lugar ao sonho, ia além.


Irina Marques

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