O hotel Gustinha era um singelo hotel, antes de possuir o nome hotel, era uma pensão. Mas com as trocas e reviravoltas da vida e novas nomenclaturas teve que passar a ser hotel. O serviço interno nunca se havia acostumado às novas imposições e regras exteriores que ditavam o seu comportamento interno. Gustinha, tinha as coisas à sua medida, sem exageros, recatada e de ambiente familiar. Negócio local, que há muito estava aberto por algumas ideias próprias e condições que havia implementado desde que o Sr. Augusto tinha partido para outros lares, nas suas explorações.
As novas exigências sociais exigiam que D. Gustinha tivesse tv cabo em todos os quartos em vez de serviço tdt, wi-fi com password grátis a todos os clientes, espaços próprios para que os seus clientes pudessem estar à sua vontade, servia almoços e jantares, comidas típicas que ela própria fazia na sua cozinha improvisada mas com todas as condições aprovadas pela ASAE. Sempre foi uma pessoa de servir e nunca se habituou a ser servida, nunca teve tais regalias na vida.
Mesmo perante todas estas mudanças, os clientes pareciam não ter apreciado muito a adaptação à nova sociedade moderna, clientes que já não haviam frequentado os seus serviços à muito, queixavam-se das novas regras de confinamento devido ao covid (eram muito rígidas, não permitia haver liberdade para conviver com outras pessoas), que não possuía serviço de lavandaria e que no final do jantar eram obrigados a levar os tabuleiros para o carrinho de recolha.
No final das contas, sem D. Gustinha saber, a classificação do seu hotel passada de boca em boca ou mesmo no Tripadvisor era abaixo de três. E com estas e com outras, perdia clientes, muitos, que até já tinha uma relação de amizade de anos. Certo é, que apesar de todas as regras, naquele hotel ainda nunca tinha sido testado covid positivo em algum hóspede, e assim continuava a ser.
– Irina Marques
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