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Foto do escritorIrina Marques

Quando falo vs. quando escrevo

Sou a pessoa mais calada num grupo de pessoas, sou aquela que ninguém ouve falar porque existem inúmeras condicionantes que me fazem tornar assim. O maior “problema” é eu me perder nos meandros de uma conversa. Alguém que demore muito a explicar seja o que for o meu pensamento “agarra” uma palavra qualquer e começa internamente a divagar perdendo completamente a noção do assunto que se está a abordar. Isto não me acontece sempre, num grupo grande com várias pessoas a conversar a minha tendência é mesmo em me dispersar, ora ouvindo o que uns estão a falar, ora ouvindo o que os de outro local estão a conversar - acabo por não falar porque apanho as coisas pela metade, ou alguma palavra fica presa na minha memória.


Isto sempre me aconteceu portanto prefiro quando estou com menos pessoas, por norma o ideal é três a quatro pessoas, porque consigo seguir a conversa sem os meus pensamentos derivarem muito.


Outra questão tem a ver com os assuntos: nem tudo me prende a atenção. Muitas vezes o que acontece é as pessoas gostarem de ouvir as suas próprias vozes. Ora de feitos que tiveram, eventos que aconteceram, egos, etc… Eu não sou muito de falar de mim às outras pessoas e, para isso criei um blogue que tenho perfeita consciência que ninguém lê (ou lê apenas uma ou outra pessoa).


Quando falo, os meus pensamentos são desconexos, exatamente pela razão acima referida, o meu fenômeno de daydream, nunca desapareceu. É como se fosse um ciclo com reflexões profundas e outras vezes bem irônicas - que nunca ninguém entende. As primeiras, ninguém está com trabalho de pensar, as segundas, levam como ofensivo e pessoal (e eu que nem sou sarcástica, apenas irônica).

Numa conversação em que se fala de, por exemplo, (algo que me chateia imenso) a vida dos outros sem eles estarem presentes, eu desligo completamente. Apanho uma frase “naquele dia em que houve a feira” e o meu pensamento começa a trabalhar - dias em que houve a feira - estava sol - foi um dia de calor - por acaso este verão não tem sido muito quente apenas dias pontuais - será que vou chegar a horas para aquele encontro? - Tenho que pôr o telemóvel porque me vou esquecer - esqueci-me de arrumar os quadros - que é que vou pintar a seguir? - tenho a cor pastel? - tenho que reparar aquele quadro que se estragou - o que é que vou fazer? … E por aí adiante… Quando apanho o assunto que se fala novamente no grupo de pessoas a conversa é “ah ela é uma perseguidora” e eu, na minha cabeça respondo “Tenho que reparar o meu quadro”. É, isto acontece-me com frequência especialmente quando o assunto não me interessa - pura e simplesmente desligo e fico em silêncio.

Se a conversa me atraí, aí a coisa torna-se muito mas muito diferente porque tenho tendência em abordar assuntos e fazer as pessoas questionar algumas coisas, da mesma forma que eu me questiono a mim própria. É interessante como as pessoas (poucas com quem me dou, que são poucas) gostam de mim, é estranho porque não me considero uma pessoa “gostável”, por vezes até penso que devo ser demasiado desagradavel porque digo imensa coisa que me vêm à cabeça e sinto - não, as emoções não se apoderam de mim - mas questiono muito o ser humano. Se me perguntarem o que me define é mesmo isso ser uma questionadora por natureza, sabendo perfeitamente que muitas das questões não possuem respostas.


E lá estou eu a divagar, sem sentido…


Passo agora a explicar como escrevo. O que acontece quando escrevo? Desacelero. Sei que não posso colocar numa folha de papel os meus pensamentos absurdos. Quer dizer, poder, posso. Mas assim, conforme falo e não possui sentido, escrito possui menos ainda. Portanto, o que acontece? Escrevo e desenvolvo e as ideias que vêm encadeadas umas nas outras ligam-se e desenvolvem-se sem muito esforço. Na folha de papel o meu daydream voa e deixa-se levar ao sabor do vento, com palavras. Por vezes as coisas são justificadas e explicadas porque penso “quem me vêm ler, sabe a seca que vai apanhar ao ler-me” enquanto que quando falo não quero de todo falar porque não quero maçar ninguém, dessa forma pontuo silêncios.


Na escrita todas as minhas ideias desconexas, ganham forma, tecem-se e criam frases, parágrafos e textos, passam uma mensagem - que assim como na pintura - cabe à interpretação de cada um. E como sou má a interpretar as mensagens dos outros pois a primeira informação que me vem à cabeça nunca é de todo aquilo que me demonstram. Apanho uma ou outra palavra e navego, é assim um pouco quando comunicam comigo, talvez não seja uma boa ouvinte - pois com certeza, também não sou boa comunicadora.


E porque escrevo sobre isto tudo? Porque pertence à minha Comunicação Inquietante. Porque esta comunicação é um assunto muito vasto, que não começou na altura das minhas exposições, sempre me acompanhou e dela, tenho a certeza que nunca me abandonou, nem me virou as costas. Ela esteve sempre presente. O meu mundo de ilusão ou daydream acompanha-me a cada passo no meu dia.


E cada vez que termino um texto, como este, sei que ele não possui muito sentido. Pois apenas se trata de uma amalgama de pensamentos unidos por palavras e tentativa de dar nexo ao que não têm. Faz sentido?


In Comunicação Inquietante

Irina Marques

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