Chegou o Outono
entrou de mansinho
devagarinho e nem bateu à porta
não vi os seus sinais
apenas as folhas lá fora
vestiram-se de outra coloração
começaram a sua mutação
e o ar...
começou a modificar
o calor deu espaço ao frio
visto um agasalho
e ponho-me a sonhar
viajo nos mares imaginativos
e contemplativos para me acalmar
começo a hibernar
perco o poder de falar
adormeço o meu pensamento inquieto
escondo-me dentro das minhas limitações
sei que elas requerem ações
mas refugio-me nas contemplações.
Cada vez que falo pouco som emito
guardo em pequenos compartimentos
histórias que ficaram por dizer
sou ser de dualidades
vai-se lá perceber.
Coragem não me falta
mas quando não recebido
me faz recolher
até perceber que estava no local errado
segui contracorrente
e novamente recomeçar
todos os dias me inspirar
e não pensar na condição existencial
do meu ser
abrigo-me para não arrefecer.
É tempo de recolher.
Todos os dias escrevo poesia, ela é feita na hora, nunca é pensada de forma a como a estrutura vai soar melhor ou, onde está o erro. Apenas escrevo para me libertar, para libertar as emoções que tenho contidas. A minha cabeça é feita de poesia e histórias logo, escrever para mim não é complicado - complicado é, entender o meu tumulto sentimental. Desde nova que carrego uma forte componente imaginativa e nunca me senti à vontade de a expressar ao público, aos poucos tenho conseguido me libertar um pouco mais graças ao novo grupo onde estou inserida que é composto por músicos, actores, fotógrafos, poetas, escritores, ilustradores e outros artistas, aqui sinto-me integrada, aqui sinto-me compreendida e sentida, pois o grau emocional é similar. É incrível estarmos a trabalhar em conjunto para que outras pessoas se possam sentir acolhidas também com pessoas heterogéneas, aprendemos tanto.
Quando referia que o meu imaginário era impulsionado a criar, constantemente criar poemas, pintar, escrever um amigo pertencente à música dizia que passava pelo mesmo processo, mas no campo musical - a sua mente era composta por notas e harmonias entre si, criação de composições e adorava improvisar. Ser sensível, não era erro nenhum faz parte da criação.
No dia em que pus um pé no palco para ler um excerto do meu livro Labirinto do Sentir, senti-me completamente nua, foi como caísse num grande vácuo, sempre odiei ter luzes apontadas para mim e ser centro das atenções. Ao mesmo tempo senti-me acolhida, lembrei-me dos tempos que andava no teatro e projetei a minha voz - expressei-me, e qual foi a minha surpresa em sentir que os meus colegas bateram palmas e gostaram. Foi um sentimento gratificante que já não sentia há muito. Aos poucos os medos ficam para trás e novas construções seguem caminho. Sentir que alguém gosta ou "sente" os meus sentires é um pouco gratificante especialmente tendo em conta que eles nunca deveriam ter visto a luz do dia.
É tão diferente quando faço exposições de pintura e quando tenho que escrever, as primeiras não me sinto muito desnudada, até sinto que me agasalha - como que enroscada num cobertor quentinho, já as segundas sinto frio em todos os poros da minha pele. Agora eu sei que determinados caminhos tinham que ser seguidos para chegar onde me encontro presentemente e sei, que de hoje para amanhã estarei noutros lugares...
Aqueles que passam por nós
não vão sós, não nos deixam sós
deixam um pouco de si
levam um pouco de nós.
(excerto sempre actual)
"O Principezinho"
Antoine de Saint-Exupery
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