"Um artista nunca termina a sua obra; simplesmente a abandona."
Paul Valéry
Por vezes existem frases escritas que nos dizem muito outras, nada. Esta foi uma das frases que me ajudou imenso no meu processo criativo. Porquê? Obviamente porque sou perfeccionista. Olho sempre para a minha obra como algo inacabado, perco-me em pormenores, detalhes sou meticulosa, deveras, exigente comigo mesma. O que não cobro dos outros, cobro a mim mesma. Tenho noção desta situação e só o facto de ter noção dela é o que me faz querer alterar. Desde há um tempo que cada vez que olho para uma obra minha, em vez de pensar mais uma sombrinha aqui, mais um branco ali, mais um detalhe, faço com o sentido está feito, mais vale estar feito do que não estar. A frase acima, ajudou-me bastante a não me perder e a raciocinar de outra forma.
Um dia, numa conversa com um amigo M.C. ele dizia que quando o nosso coração pede mudanças deveremos segui-lo ou corremos o risco de ficar presos ao e se. Este sentimento reflete-se nas minhas obras em que ou fico eternamente a trabalhar nos detalhes ou, sigo o meu coração e parto para outro rumo. E como me custa deixar para trás algumas das minhas obras mas, no fundo, nunca ninguém irá ver os pequenos detalhes em que estive a trabalhar com tanto afinco. Tudo se constrói com tempo, essa é uma verdade, que muitos se esquecem e isso está presente em todos os aspetos da nossa vida - profissionalmente, a nível de amizades, relacionamentos, confianças etc... Não é num mês ou em duas ou três conversas, que as coisas aparecem. Cada vez mais observo que a impaciência é algo que veio para ficar. Existe um meio termo e, é esse que temos que procurar.
Gosto de me lembrar do livro de Tolkien, um escritor que admiro muito, e sua obra "Folha, de Niggle", apesar de o ter lido em inglês, deixo a tradução em português. É um livro que ainda hoje me acompanha e leio, talvez, por me identificar um pouco com algumas situações. Existem inúmeras frases e situações, por norma ditas por escritores clássicos (aqueles que gosto de ler e interpretar, muitas das vezes no seu tempo passavam pelas mesmas problemáticas que nós). Nos dias de hoje, lembrarmo-nos deles e retirar seus ensinamentos, reflexões e pensamentos podem-nos ajudar, porque não temos que inventar a roda, alguém já a inventou. Temos é que tentar seguir em frente a desprendermo-nos de sentimentos mais amargos e tentar ver o bom nos momentos que passamos, no que fazemos e, sobretudo, quem está à nossa volta.
Irina Marques
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