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Foto do escritorIrina Marques

Tipo, ridículo (conto)

Atualizado: 24 de mar. de 2022

Ela, desde que leu aquela frase, ficou a pensar. O que quereria ele dizer com aquilo? “És a minha predileta.”

Aquela frase não lhe saiu da cabeça durante um longo período de tempo. Seria um elogio? Ela era louca, absurda, só poderia considerar isso um elogio. Aquela frase surgia intensivamente, deixando-a de rastos do significado que pudesse ter. Com o tempo, esqueceu.

“És a minha predileta”.

Ridículo! Palavras exteriores não compunham o ser. Aceitamos elogios tão carregados de mentiras que a ilusão de podermos acreditar pode fazer tropeçar.

No dia em que se puderam conhecer, a única oportunidade que houve na vida, ele não quis saber. As palavras usadas e desgastadas estavam anexadas a outras pessoas, repetimos tudo vezes e vezes sem conta, ela não era assim. Chegou ao ponto de ele não ter mais interações com ela, passando a ser, apenas um olho, um fantasma, de palavras bonitas e sujas, levadas para todos os outros bairros.

Foi nesse dia que ela pôs um ponto final, numa história que nunca aconteceu, com alguém muito desequilibrado, que só sabia usar palavras porque se achava grande aspirante a algo, quem saberá? Mas aspirantes somos todos, sem exceção.

O romance permaneceu, na arte, apenas criada por ela – escrita, pintura, fotografia, musica e teatro – ela, passou a expressar-se com Arte.

E ele? Oh, ele desapareceu, é só um logótipo – que tipo, sem voz…

Não foi a primeira nem última vez que ela se deparou com estas palavras, alguns chegaram mesmo a ama-la mas, ela já sabia, que essas belas palavras só poderiam residir - para e dentro de si (conservem bem algumas). As expectativas dos outros fogem à nossas possibilidades e o amor? Bem esse encontra-se onde menos se espera - numa construção com muito cuidado e dedicação.

Se ela fosse acreditar em tudo o que a pressa tem para lhe contar... por isso continuou a caminhar de-va-gar. E assim, ela própria, se tornou ridícula de tanta incompreensão - que loucura que ridículo de situação.


– Irina Marques

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