Com o decorrer das nossas vidas e no dia a dia, facilitou-se um código visual comum a todas as culturas e sociedades, pelo menos algumas cores sabemos serem associadas a diferentes sentimentos. Está estudado que estas cores provocam estimulações no ser humano.
Generalizou-se o vermelho como perigo, um grande exemplo está no código da estrada. Mas o vermelho carrega ainda outras simbologias, pelo menos, atribuídas: ira, calor, amor, paixão, raiva, violência, excitação e fúria. Engraçado como uma só cor pode carregar sentimentos tão opostos conforme já foi referido. Mas estas oposições não se encontram apenas nesta cor, vejamos as restantes.
O caso do azul que para muitos representa serenidade, tranquilidade e calma, trazida até nós na observância do céu ou mesmo do oceano. Atribuem-lhe os sentimentos de confiança, tranquilidade, lealdade, harmonia, limpeza, frio e depressão.
Devia ter prestado atenção porque está estudado que o roxo é uma excelente cor para acabar com os bloqueios criativos. Na altura do bloqueio, dediquei-me aos cinzas, vermelhos, pretos e brancos. Funcionou na mesma.
E agora, poderia falar de mais e mais cores e escrever exaustivamente sobre isso, mas para este tópico existem inúmeros artigos na internet e em livros que falam mais pormenorizadamente sobre tal.
As cores, para mim, nem sempre funcionam conforme as ditas “normas” dizem ser. Os meus sentimentos oscilam imenso e dentro de uma mesma cor pode haver outras atribuições de significados. Sei que já existem estudos que abordam estas nuances também.
As cores, a meu ver, contêm mais do que isto, são sentimentos, são palavras, cheiros, sabores, diálogos, conversações, comunicações, toques… As cores, trabalham juntas a querer transmitir algo, além da primeira observação. O melhor observador é aquele que conversa com a obra e escuta o que ele tem a dizer, a partir daí amplifica a sua visão. E estas conversas são íntimas, são de toque na sua essência. São o abrir de uma porta e descobrir que existe algo mais, talvez uma outra porta para um outro compartimento e assim sucessivamente, uma constante descoberta. A abstração é isso mesmo, não está ali por estar. Não é algo concreto é dedutível, está ali para questionar.
Um dia perguntaram-me porque não falo muito sobre as minhas obras e eu respondi que elas falam por mim. Não me cabe a mim explicar algo que possui inúmeros significados e por norma o meu significado é aquele que menos pessoas, ou ninguém, vê. Se o vissem, com certeza, iriam rotular de louca. O que seria de um artista plástico sem o seu pequeno (grande) grau de loucura? Vejo coisas onde ninguém vê, normal… Abstração é isso mesmo, olhar além, ver outros ângulos, perceber novos caminhos, descobrir outras situações e às vezes, para tal, é mesmo necessário sair um pouco da realidade.
(continua)
Irina Marques
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