Tenho andado a falar com as cores. Debater com elas como criar composições, como me expressar. Este período - cinza, vermelho, preto, branco - tem me ajudado bastante a ultrapassar diversas questões.
Tento largar o meu perfeccionismo, ao qual me encontro demasiado agarrada. Sempre quis fazer obras com proporção, harmonia, geometria. O que se reflete em obras castradoras para a minha imaginação. Porquê? Porque quando vou criar, se me ponho a pensar em todas as regras - perco a vontade.
Estou num período de impaciência e é geral, impaciência comigo e com os outros. Logo se crio obras demasiado detalhadas perco logo a vontade de as criar. Só de imaginar as horas que vou perder a fazer uma linha - resulta em nem começar.
Isto tudo deveu-se a quebras na minha rotina. Tinha uma rotina fixa de acordar de manhã e escrever, durante a tarde pintava. Mas depois das exposições alguma coisa mudou, talvez por ter visto que o esforço de anos retornou em imensa indiferença sobre o público. Ora, não procuro fama. Aliás, se a fama me encontrasse, eu não sabia o que fazer com ela. Provavelmente escondia-me dela, fugia-lhe ou fintava-a. A questão após a exposição foi outra... o vazio. Todos estes anos de trabalho eu tinha como objetivo fazer uma exposição, heis que se realizou, não uma mas duas seguidas e de repente, o vazio.
Como explicar este vazio? Eu nunca fui uma pessoa de saber-me promover de contactar com outras pessoas, saber espaços para expor. Digamos que aqui o meu lado anti-social está muito presente. Quando o faço sinto sempre que estou a dever favor a alguém. nunca fui boa em compromissos - e isto é visível quando alguém me encomenda uma obra - demoro eternidades a criar. Facto: não me sei promover.
Daí depois das exposições a minha mente pensou - Vais fazer todo aquele trabalho de te promoveres e procurares espaços novamente. Não me posso queixar que em ambos os locais aos quais me candidatei para exposições fui muito bem recebida, pessoas interessadas no meu trabalho, pessoas que me ajudaram a montar a exposição, pessoas extremamente prestáveis e atenciosas.
A questão prende-se ao outro retorno, e não falo financeiramente. Falo daquele que as obras se encontram expostas e não sabemos o feedback, não sabemos quantas pessoas se interessaram pelo trabalho, são sabemos o que sentiram, não sabemos... E houve quem me deixasse a opinião num pequeno caderno que lá deixei. Aí, consigo ter algum feedback, o qual ajudou bastante, saber que todo o meu trabalho tocou no coração das pessoas.
Estas considerações artísticas advêm disto mesmo - o sentimento por trás das obras de arte expostas. E claro, tenho a minha forma de ultrapassar estas questões: férias (para inspiração). O que aconteceu nas férias foi - um sismo - que me traumatizou de tal forma a levar-me a pensar que a vida era relativa. Porquê me esforçar tanto e ter todos estes pensamentos quando de um dia para o outro tudo desaparece?
Levou-me a questões de perder motivações.
Agora, encontro-me neste período, conforme já referi - cinza, preto, vermelho e branco - sem procura de harmonia. Talvez seja um grito dentro de mim que se quer expressar artisticamente novamente, talvez seja uma outra coisa qualquer...
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