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Foto do escritorIrina Marques

Correntezas

Atualizado: 26 de out. de 2022

Movo-me devagar

tão devagar

que por vezes sinto

que o tempo não passou

oiço o relógio em tempo brando

os segundos parecem demorar horas.

Outras vezes

ele passa tão depressa

que nem dei conta

da sua velocidade

apenas via algo

que me puxava a atenção

tão focada, sem contenção.


E o que senti?

Que não fiz nada

pilhas e pilhas de desenhos

acumulados, mas nunca consegui

transmitir o que queria,

alguns riscos perdidos na folha.

Ora porque sou interrompida

pelos meus pensamentos invasivos

esses, não se cansam

ora porque, tenho que estar noutro lugar.

Alívio as minhas histórias

em pequenas pinceladas

demoradas e apressadas

tal como o meu pensamento

traduz o meu sentimento.

Quero fazer tudo depressa

mas o depressa e bem

são incompatíveis

perco-me na perfeição

adio as noites de sono

acordo no meio de sonhos

que não se realizaram

outros, teimam em me chamar

pelo nome? Não…

Peço licença em os contornar.


Figuro no espaço

do meu cansaço

de viver em oposição

acompanha-me esta condição

não a sinto como um peso, não

permite-me ver todas as situações

condições e associações

e nos melhores dias são produtivas

nos piores sou espectadora

de um passeio de cenas

absurdas.

Assim que pego no pincel

sinto que tenho a batuta

que controla a orquestra

do meu coração

que pulsa e teima em ir

mais além…

Por vezes fica aquém

das expectativas geradas,

expectativas…

Podia nomear todas elas

sim porque elas têm nome

e a cada idade, uma nova se cria

generosa sou eu em dizer uma.


Nunca aprendi a escrever

apenas colocava palavras

encadeadas umas nas outras

formavam frases

com letras tortas.

Nunca aprendi a pintar

manchava as telas com tintas

riscava e errava, rasurar

colocava mais tinta em cima

colorações

de obras imperfeitas,

abandonadas.

Nunca aprendi a expressar

corretamente

o meu mundo sempre foi

uma enchente emocional

para a qual não estava permitida a sentir

com tanta afirmação

prisioneira das próprias introspeções

e posso passar por extrovertida

mas sou contida

no que tenho a falar

expressar

a minha história cabe a mim contar.

Nunca aprendi a comportar

mas sim a aprisionar.

E ali reside uma barreira

onde vejo à distância

e tento resgatar

toda a contenção

e libertá-la na expressão.


Irina Marques

Texto ao abrigo da lei de copyright

®Todos os direitos reservados


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