Movo-me devagar
tão devagar
que por vezes sinto
que o tempo não passou
oiço o relógio em tempo brando
os segundos parecem demorar horas.
Outras vezes
ele passa tão depressa
que nem dei conta
da sua velocidade
apenas via algo
que me puxava a atenção
tão focada, sem contenção.
E o que senti?
Que não fiz nada
pilhas e pilhas de desenhos
acumulados, mas nunca consegui
transmitir o que queria,
alguns riscos perdidos na folha.
Ora porque sou interrompida
pelos meus pensamentos invasivos
esses, não se cansam
ora porque, tenho que estar noutro lugar.
Alívio as minhas histórias
em pequenas pinceladas
demoradas e apressadas
tal como o meu pensamento
traduz o meu sentimento.
Quero fazer tudo depressa
mas o depressa e bem
são incompatíveis
perco-me na perfeição
adio as noites de sono
acordo no meio de sonhos
que não se realizaram
outros, teimam em me chamar
pelo nome? Não…
Peço licença em os contornar.
Figuro no espaço
do meu cansaço
de viver em oposição
acompanha-me esta condição
não a sinto como um peso, não
permite-me ver todas as situações
condições e associações
e nos melhores dias são produtivas
nos piores sou espectadora
de um passeio de cenas
absurdas.
Assim que pego no pincel
sinto que tenho a batuta
que controla a orquestra
do meu coração
que pulsa e teima em ir
mais além…
Por vezes fica aquém
das expectativas geradas,
expectativas…
Podia nomear todas elas
sim porque elas têm nome
e a cada idade, uma nova se cria
generosa sou eu em dizer uma.
Nunca aprendi a escrever
apenas colocava palavras
encadeadas umas nas outras
formavam frases
com letras tortas.
Nunca aprendi a pintar
manchava as telas com tintas
riscava e errava, rasurar
colocava mais tinta em cima
colorações
de obras imperfeitas,
abandonadas.
Nunca aprendi a expressar
corretamente
o meu mundo sempre foi
uma enchente emocional
para a qual não estava permitida a sentir
com tanta afirmação
prisioneira das próprias introspeções
e posso passar por extrovertida
mas sou contida
no que tenho a falar
expressar
a minha história cabe a mim contar.
Nunca aprendi a comportar
mas sim a aprisionar.
E ali reside uma barreira
onde vejo à distância
e tento resgatar
toda a contenção
e libertá-la na expressão.
Irina Marques
Texto ao abrigo da lei de copyright
®Todos os direitos reservados
Comments