Escrevo esta entrada sentada no Alfa Pendular, carruagem 6 lugar 46 com vista para a janela, a caminho de Lisboa numa viagem que irá tomar três horas do meu tempo. E quando não se tem nada para fazer, digamos, apenas escrever e desenhar - opta-se então por passar o tempo nestas actividades.
Ontem referi a inspiração que tenho no Fantasma da Ópera. Ontem ao falar com uma amiga minha, numa conversa ao café matinal sobre este assunto, ela disse-me que eu a inspirava. Confesso que foi um espanto para mim, sou uma pessoa simples eu, inspirar alguém foi algo de surpreendente.
O que ela me disse, quando perguntei o porquê de a inspirar, foi que é fã dos meus trabalhos artísticos - os quais já adquiriu bastantes, e da minha forma de ser. Que no decorrer da aprendizagem que ela está a ter comigo muito provavelmente alguns dos meus trabalhos poderiam servir de inspiração e ter alguns traços semelhantes.
Eu nunca me imaginei ser uma pessoa que inspirasse alguém, tenho demasiados defeitos e sou demasiado introspetiva apenas falo com poucas pessoas mas, pelos vistos, as que falo sentem-se inspiradas e motivadas.
A minha amiga é a minha professora de violino - andamos em aulas mútuas eu com ela e ela comigo. Dou algumas dicas para desenho e pintura e neste momento estamos no processo das mandalas.
O outro dia no almoço da festa de anos de uma outra amiga, também teceu alguns comentários aprazíveis a meu respeito. O que novamente me fez ficar sem jeito e agradecida.
Confesso que não me considero uma pessoa de muitas amizades, sou sociável à primeira vista, mas isso não quer dizer que faça amizades com facilidade - para mim amizade é uma construção de vários momentos partilhados com outras pessoas e é normal que apenas, após anos, é que consideramos as pessoas amigas.
Quanto às minhas inspirações, obviamente que sou inspirada pela minha professora de violino - ela é uma profissional que tem o meu respeito e no campo da pintura, uma aluna esforçada com vontade de aprender e progredir.
Mas se for a falar de pessoas que me inspiram sou um pouco reservada, apesar de dizer que um artista plástico é inspirado por toda a sua envolvência tenho uma pouca reservas. Facto é, há coisas que definitivamente não me inspiram e até retiram inspiração - guerras, fomes, pessoas que ficam sem casa, sem família, pessoas doentes - somos empurrados para este mundo e é a realidade em que vivemos mas queremos andar adormecidos e anestesiados então tapamos os olhos e distraimo-nos com as mais diversas coisas sem sentido.
Confesso que em termos contemporâneos muito poucas pessoas me inspiram, se é que nenhuma mesmo. O mundo está saturado de tudo e o que vemos já não é propriamente novidade alguma - já foi escrito, falado, abordado, composto, desconstruído, saturado. Até mesmo este texto não trás conteúdo novo, digamos que os meus escritos, são apenas registos pequenos.
Hoje vou a caminho de Lisboa e lembro-me de pessoas, locais, situações, vivências e sinto-me grata de quem me rodeia e dos poucos amigos que tenho especialmente por me dizerem palavras tão carinhosas. Num mundo onde já ninguém elogia ninguém.
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