Antes da pandemia virei-me um pouco "demais" para as redes sociais, postagem de conteúdo online - escrita, os meus trabalhos de pintura, fotografias que faço como hobbies, poesia, etc...
Na altura, devido às condicionantes que nos encontrávamos, era um pouco impossível divulgar/dar a conhecer os meus trabalhos de uma outra forma. As redes sociais e virtuais são, sem dúvida, uma forma interessante de conectar com o mundo. É sempre agradável publicar ou demonstrar algo que fizemos e esse trabalho ser apreciado pelo público. É bonita a comunicação, a partilha de ideias, as críticas e outras situações que possam surgir da divulgação.
Toda esta partilha foi interessante até começar a deixar de ser. Tudo tem seus tempos e os meus estavam a ser investidos de uma forma que começou a tornar-se insustentável. Entre partilhas e opiniões, entre exposições e divulgações comecei a perder algo que era extremamente valioso para mim - tempo. Publicar, escrever, divulgar algum artigo interessante (a meu ver) provoca no leitor uma "reação", e hoje em dia estamos num mundo de opiniões/opinantes, quando digo isto assim, com esta frieza não quer dizer que isso me afeta pessoalmente, todos temos direito à nossa opinião. Simplesmente hoje todos temos que ter uma "coisinha a dizer" sobre determinado assunto e, por vezes, essa "coisinha a dizer" é fruto do que não é dito cara a cara, ou que se encontra nas entranhas por vezes não entendidas. Tão fácil estarmos atrás de um computador e "mandar o nosso bitaite" sem querer saber a repercussão que esse comentário possa ter, por norma, nos outros (quantos males entendidos surgem) - que já não leem os artigos mas sim procuram as opiniões dos restantes comentadores, acabando por ser mais fácil se apoiar em algo que já foi escrito a respeito do artigo, em vez de terem a capacidade de lerem e possuírem uma opinião própria.
É esta a sociedade em que vivemos, deixamos de raciocinar, vivemos do aparente sem aprofundar qualquer tema, a impaciência reina, queremos ser vistos mas antes passamos por todo o tipo de filtros para manter a boa imagem, apoiamo-nos da opinião de outrem, de preferência, sem questionar e passamos a agir em bando. E é claro, que em muitas situações só o agir em grupo é que têm peso para se fazer ver alguma situação, talvez uma forma de se abrirem os olhos para assuntos importantes.
Confesso que não é um ambiente muito agradável de se estar. O outro dia, recebi um email a perguntar porque havia "imigrado" de um local para outro na internet, pois antigamente encontrava-me num espaço onde alcançava mais público, visualizações, conversas e diálogos, a pessoa em questão (a qual pedi autorização para referir aqui neste texto) achou estranho ter deixado de ter aquele espaço, que sentia que lá, era como um local seguro onde podia desabafar o que sentia. Após um tempo de conversa, a pessoa compreendeu a minha reflexão e aceitou.
Na minha vida, sempre gostei de me manter na margem, naquela linha bem tênue, no local em que não sou invadida por todo o tipo de opiniões. Se as tenho em conta? Tenho e com respeito, agora, não são elas que me definem ou me fazem alterar a forma que estou a criar. E aqui, chegamos a pontos que até opinião nas proporções do corpo de uma imagem que eu criava ou em cores, me chegaram a dar. Eu, se quiser, sei fazer desenhos académicos com as proporções, perspetivas, sombras, anatomias... agora, se o quero fazer? Não. Quero extrapolar nas minhas criações, é assim que as quero concretizar, é assim que as vejo e quero que as vejam.
Vamos lá bater de novo na situação dos comentários. Quando eu crio, escrevo, faço, nunca foi com o intuito de haver opiniões, mas sim, desenvolver raciocínios. Os comentários começaram a condicionar a minha criatividade, começaram-me a "obrigar" estar a par de tudo o que se passava com outros universos e isso, automaticamente, influencia o processo criativo (quer se queira quer não). E se para muitos, essa é uma boa forma de criar, para mim não é o meu critério.
Quando me dediquei mais ao meu espaço, este onde me encontram a ler, comecei a ter muito mais tempo para criar, que no fundo, é aquilo que eu amo fazer. Deixando de parte a componente da comunicação e respostas a comentários passei a "ganhar" mais tempo para as minhas criações e divulgações noutras áreas. Houve até quem me referiu que a qualidade dos trabalhos melhorou, e é generoso ouvir/ler estas palavras, tendo em conta que para quem cria nunca vê as suas obras como um observador normal... Nós, que vemos a tela "nua" e tentamos construir algo a partir do nada por vezes perdemos a noção (apesar de sabermos todas as regrinhas) de se está com profundidade, se tem volume, se está em perspetiva, o que eu vejo é camadas, e camadas, e camadas de tinta e tempo na produção do que eu me encontro a fazer. O meu olhar não é o olhar de um resultado final mas sim de um processo onde tempo, estudos, ideias, formulações de pensamentos, todos eles, entram em jogo - e quanto tempo de trabalho de bastidores não existe? Esses não se encontram visíveis no imediato.
No ano passado, tomei uma decisão, que me custou um pouco, tendo em conta que me encontrava num local onde travei conhecimentos com inúmeras pessoas, outras formas de ver situações... Contudo, comecei a perder a liberdade criativa, a "atrofiar" as minhas criações, nunca tive tempo para consumir as inúmeras quantidades de informações que os meus colegas produziam (não dizendo isto como crítica, mas o nosso dia tem um certo número de horas, ou criava, ou passava o dia a ler os outros). Escolhi o caminho que me traz mais satisfação, contudo o mais difícil, não temos as respostas imediatas às nossas publicações, não temos a opinião do público, o facilitismo desaparece e movo-me no campo do incerto, sem saber quem me lê, qual a reação, contudo, ganhei liberdade. É muito estranho dizer isto assim, mas sinto, de alguma forma que este é o caminho certo.
Tenho tido o dobro do trabalho mas a nível de produtividade, tem sido enorme! Quando em anos anteriores, criava cerca de quinze a vinte trabalhos por ano, passei a criar mais de cinquenta, a desenvolver textos, raciocínios que os acompanham de forma a explicar o seu contexto (pelo menos a nível de ser eu a criadora, deixando as críticas para o restantes). Nunca apreciei estar em locais de muita gente, nunca fui pessoa de me sentir à vontade assim. Prefiro ter dois a três leitores que me leem realmente do que estar a escrever e produzir para um sem número de pessoas que não se interessam pelo que escrevo nem as faz raciocinar. Se isto me incomoda? Não. Sempre gostei de ambientes calminhos e, pretendo assim continuar, sigo o meu rumo, com o meu tempo, com as minhas metas sem estar presa a likes. Até porque os likes são tão discutíveis... Assim como tudo o que escrevi aqui.
Irina Marques
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