Inês olhava para a caixa do seu violino atentamente, todos os dias, desde a sua juventude olhava para ele, pelas manhãs e noutras situações casuais durante o decorrer do dia. Esteve anos neste processo, um processo de desapego mas ao mesmo tempo fascinação. De uma história que se encontrava contada pela metade, algo que tinha ficado por contar e necessitava continuidade ou termino. Não se conseguia decidir, e foram muitos anos assim.
Culpava-o mas ao mesmo tempo sabia que ele era inocente de um período conturbado pelo qual tinha passado. Na sua juventude, quando o tocava, sentia-se a transcender o seu corpo, não era ela que ali estava. Era musica, só musica que ecoava pelo espaço, ora doce, ora amargo - seu violino tornava-se uma extensão de si. Sabia a força das notas e o arco, quando deslisava nas cordas, verbalizava sons suaves e agressivos, outras vezes, bem divertidos.
O seu repertório musical estava cingido à musica clássica. Queria entrar no conservatório, logo teria que aprender com os antigos. E houve um dia que ainda tentou tocar Lord of the Dance, o qual sua professora, Cristina, a repreendeu a dizer que não teria qualquer intuito, para se focar no que realmente era importante.
Mas esta história com o seu violino foi algo muito interessante. Teve dois violinos, um primeiro comprado na loja quando quis começar a tocar. Nessa altura ainda não tinha começado com as suas ideias mirabolantes de seguir musica, não, apenas tocava por prazer e para aprender. Mas cada vez mais a fascinação crescia dentro de si e abria portas e compartimentos seus doces e delicados. E como tudo na sua vida ao qual se dedicava, apaixonou-se pela sonoridade do instrumento, ficando obcecada em aprender mais, conhecer mais e se superar a tocar todos os dias.
Musicalidades e Sonoridades
Irina Marques
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