A janela da minha cozinha é fascinante, por vezes penso, que não quero sair daqui. Estou tão bem neste sítio, o dia trouxe-me as conversas dos pássaros que barafustavam uns com os outros, e agora? Ah, o silêncio. O conforto noturno.
Como ele é calmo, tranquilizante, agora ouço grilos e lá ao fundo, mesmo ao fundo, o mar. Sim, leram bem, o mar, a reconfortar-me pela luta do dia de hoje.
A escuridão quase que total, a brisa que corre timidamente os grilos e o mar... deixo-me levar. Sono, esse, espero que venhas, esse, tem tendência de se perder pelo caminho.
Olho para os montes, lá no fundo, e vejo os pontos onde moram outras pessoas, com tantas histórias, e penso, quantas delas não se encontram numa janela como a minha a ouvir exatamente os mesmos sons?
Penso em probabilidades, possibilidades e impossibilidades. Nada faz sentido, acho que não é para fazer sentido. Vou usufruir deste momento... apenas, aqui, presente. Estou e fico até o sono me levar.
- Irina Marques
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