top of page
Foto do escritorIrina Marques

O café

Café forte pela manhã é algo que não dispenso no dia a dia. Acordo cedo e nas minhas caminhadas matinais até à padaria é onde tomo o meu primeiro café, o que acontece antes deste acto, é uma espécie de borrão - estou em piloto automático - não raciocino, faço coisas sem saber muito bem o que faço, não falo.

Todos os dias, de manhã e antes de uma outra coisa qualquer, o café tem que ser consumido. Após o tomar, uma diferença notória. Sinto-me inspirada, começam a borbulhar na minha cabeça um sem número de ideias, associações, abstrações, poesia, escrita, ideias para pinturas, alegorias constantes...

Sento-me ao computador sem nada alinhavado, as ideias e frases vão surgindo, uma atrás da outra, e o texto vai-se compondo. Num ápice escrevi muito, e outras vezes nada, aí noto logo se é um dia de inspiração ou não, se não me sai nada ja nem insisto. As ideias são confusas e difusas, perco-me nos meandros das minhas conversações internas - nada faz sentido. Costumo dizer que sou "especialista em não fazer sentido" pois tenho as ideias, mas verbalizadas e escritas parecem sair outra coisa qualquer, a interpretação de um outro alguém fomenta exatamente essa argumentação que tenho comigo. Não entendeu.

Não fico por o café matinal, no decorrer da manhã tenho pelo menos mais três ou quatro encontros com este elixir, que me impulsiona a pensar. Já me disseram que é contra intuitivo beber tantos cafés mas no meu caso, e devido à minha mente ser hiperativa, o café tem o efeito oposto. Quantos mais tomar, mais relaxo e consigo fazer sentido.

O café acalma-me, organiza-me as ideias, faz-me imaginar, viajar, criar mas simultaneamente assentar. Mesmo em casa, muitas vezes tomo café e pego por momentos no telemóvel (é o meu momento de pausa) e quantas vezes não dou por mim a tomar café com inúmeras pessoas amigas de outros países enquanto estabeleço uma conversa de cinco minutos ou dez com eles. Pode então ser um acto social. Outras vezes não.

No inverno, quando faz dias frios e de chuva, hiberno com o meu café. Observo os vapores que saem da chávena e como se torcem e contorcem dispersando-se e evaporando no ar. Nestes momentos não há componente social mas sim meditativa e tento contrariar profundamente os lugares onde a minha imaginação me leva - ela tem tendência em me enganar.

Café com amigos é um impulso que me leva a sair um pouco de casa, por norma não em grandes grupos, duas ou três pessoas chegam, mais do que isso ninguém me ouve falar. Sim, sou assim, estranha. Passo de interveniente a observadora e muitas das vezes viajo, desligo do momento e faço reclusão nos meus pensamentos que vão a todo o tipo de assuntos.

O café, para mim, está associado intrinsecamente à criação e ao meu despertar imaginativo e pictórico. Aquele conforto distante social ou não - mundo de possibilidades. São os meus pequenos hábitos, dos quais não me consigo ver sem eles. Muito mais poderia falar sobre ele, embora a cumplicidade que tenho com ele vai além de qualquer escrita, qualquer descrição.



Comentarios


bottom of page