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Foto do escritorIrina Marques

O Caminho de Santiago - Minhoto Ribeiro VII

Atualizado: 12 de set. de 2022

Ao sairmos do albergue o tempo começou a ameaçar chover - continuamos os nosso caminho. A envolvência ao nosso redor era tão bela e rústica e a vegetação verde encontrava-se por todo o lado ao nosso redor. Seguimos caminho e fomos deixando para trás a igreja de São Miguel de Destriz.



Seguimos sempre a localização até Agra, e aqui deparamo-nos com o primeira dúvida de para onde haveríamos de seguir, ao chegarmos a um cruzamento com a estrada para Ourense não vimos a marcação na estrada coberta por vegetação, ainda andamos cerca de dez a quinze minutos a vaguear pelo local. Quando identificamos a marcação que consistia numa seta amarela com as letras de C.M.R. no chão continuamos em direção à próxima localidade que era Condado.

Neste trecho o caminho foi sempre feito na estrada, onde fomos acompanhadas novamente pela chuva. Íamos precavidas com os impermeáveis mas ela teimava em aparecer e desaparecer, o que nos fazia estar constantemente a vestir e a despir a roupa de protecção. Passamos ao lado da Igrexa de Santa Maria do Condado e estávamos preparadas para continuar a seguir a estrada de Ourense quando um senhor, que apareceu no momento certo, nos indicou que o caminho não se fazia pela estrada mas sim por uma ruela que virava à esquerda. Foi a pessoa certa no local certo, porque iriamo-nos perder, a indicação não estava visível na estrada já se encontrava muito apagada e novamente com vegetação em cima.

Descemos a ladeira e seguimos pelo meio da vegetação em direção a Sa, neste momento chovia bem e toda a vegetação estava molhada, o caminho inclusive não estava limpo devido à falta de pessoas a percorrê-lo, portanto acabou por ser um troço onde nos molhamos todas no meio das ervas e baldios. Confesso que a cada momento estava a ser posta à prova, a chuva e naquele preciso momento a vegetação toda molhada e sem ser cortada para as pessoas passarem estava-me a começar a mexer com o interno, piorou quando os meus pés ficaram encharcados - caminhar com os pés todos molhados não iria ser agradável e ainda nem havíamos andado 5 kms. Nesta altura modifiquei o meu pensamento e tentei abstrair-me de toda aquela insatisfação, só pensava onde iriamos dar depois daquela aventura e, o facto de me encontrar envolta de vegetação deu-me um outro ânimo. Não é todos os dias que andamos no meio da natureza, ali, sentimos o cheiro de terra molhada as gotas que se aglomeravam nas folhas e formavam espelhos de água sentia-me livre embora muito insatisfeita com a condensação que começava a formar-se no corpo e as sapatilhas que se haviam tornado poças de água novamente. Na altura só me deu para rir, porque é que me havia metido naqueles trabalhos?

Algo com que me deparei no caminho era que sempre que havia uma situação desagradável ou incomodativa a minha forma de encarar as coisas era com sentido de humor, dessa forma facilitava a situação, acalmava e prosseguia, parecia uma espécie de mecanismo de defesa.



Passado um momento fomos dar a uma estrada feita em gravilha e cimentada, passamos por um cruzeiro e seguimos a subir até novamente chegarmos à estrada principal de onde havíamos feito o desvio até Sa. Questionamo-nos o porquê daquele desvio, acabamos por andar muito mais, molhamo-nos todas nas ervas e lama quando poderíamos ter seguido em frente e ir ao mesmo local. Mas os caminhos até Santiago são mesmo assim, composto de desvios para podermos visitar determinadas localidades, outras vezes, para apenas cortar algum caminho e ser mais a direito. E depois de passarmos no meio de toda a vegetação o sol resolveu espreitar de volta, embora sempre muito timidamente.



Quando chegamos à estrada principal OU-801, havia uma indicação para seguirmos para a direita, contudo no dia anterior havíamos visto que aquele caminho ia dar a uma zona industrial, aqui resolvemos continuar a seguir em frente pois o caminho iria cruzar novamente com esta estrada um pouco mais à frente.

Não era uma paisagem fenomenal andar no meio da estrada nacional, o principal foco de atenção eram os carros e aqui deparamo-nos com um senhor que naquele momento tinha dado cabo do seu carro. À nossa direita encontravam-se montanhas de pouca altitude enquanto que à nossa esquerda, tínhamos a companhia do sinuoso rio Minho, embora não o conseguíssemos ver devido às várias árvores que cruzavam a paisagem.

Agora o nosso caminho só iria parar em Cortegada e seria todo feito pela nacional. Conseguimos ter vistas fabulosas na paisagem envolvente, várias serras verdes, cheias de árvores e cruzamos a ponte sobre o rio Deva.

A chuva havia-nos dado tréguas, e podemo-nos desprender dos impermeáveis, nesta altura seguia só com os pés molhados, mas todas as possibilidades que o olhar alcançava já não me faziam pensar no assunto. Sempre me senti muito bem no meio da natureza, consegue-me fazer abstrair de qualquer problema ou situação menos positiva que esteja a passar na minha vida - fazer trilhos, montanhismo, passear nos areais da praia ou em passadiços acalmam-me a mente. Era assim que me sentia, calma, apesar de me encontrar a caminhar sentia-me bem.

Apesar de ser Abril e o tempo começar a melhorar, nas semanas anteriores ao nosso caminho tinha chovido muito e feito muito frio, neste trecho do caminho olhamos um pouco para trás e vimos ao longe as Serras de Castro de Laboreiro ainda no lado de Portugal, encontravam-se cheias de neve.

Queríamos chegar à próxima etapa, Cortegada. Na minha mente estabeleci o caminho por etapas, desta forma era mais gratificante saber de onde vínhamos e para onde íamos e cada vez que atingimos essa localidade era como se atingíssemos uma pequena meta. Breves momentos antes de chegar a Cortegada começou a chover novamente, desta vez a chuva era forte, resolvemos parar um pouco para comer, arranjamos um pequeno abrigo e sentamo-nos a descansar um pouco e a restabelecer energias já eram horas de almoço e a fome começava a dar sinais. Na parte que percorremos da estrada chegamos a duvidar se nos encontrávamos no caminho pois não encontramos indicações nenhumas, mas uma das regras de seguir o caminho é, até não haver nova indicação seguir sempre o caminho principal, assim o fizemos.

Após esta breve paragem voltamos ao Caminho e, qual foi a surpresa em saber que nos encontrávamos mesmo ao lado de Cortegada. Começamos aos poucos a ver casas novamente e as grandes letras CORTEGADA davam-nos as boas vindas com uma vista incrível sobre o rio Minho. Paramos no café da Pensión Buena Vista, para adquirir novas energias e carimbar a nossa credencial. Estivemos um pouco a falar com o dono do café, questionamos se havia muitos peregrinos que paravam ali ou se passavam ali, durante este trecho todo do caminho não havíamos encontrado ninguém ao não ser pessoas em localidades nas suas lides do dia a dia. O senhor disse que não havia muita gente a fazer aquele Caminho contudo pontualmente apareciam pessoas e que de manhã bem cedo haviam saído duas raparigas que tinham pernoitado lá.

Cortegada faz parte das várias instâncias termais que podemos seguir no caminho, contudo não a fomos visitar. No centro da vila existe uma igreja onde se encontra a imagem de Santiago de Compostela, o Peregrino. É também nesta localidade que se junta o outro caminho Ribeiro Minhoto que vem pela parte do Gerês, da Portela do Homem, vai por Lobios (Espanha), passa por Castro de Laboreiro (Portugal) e entra em Espanha pelas montanhas de Monterredondo que segue em direcção a Cortegada onde se une a este caminho que vem da parte de Melgaço.


Por Irina Marques

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