Mas, o caminho é algo, muito mais que estes pensamentos envoltos em questões e respostas. É o vir ao de cima situações que nunca teríamos pensado é um aprofundar e um revelar de situações que acabamos por entender e, quando as visitamos, devagarinho e sem julgamentos, apercebemo-nos do que lá está, temos uma conversa muito intensa e interna, um diálogo, talvez um monólogo, compreensivo e resolvemos todos esses medos, questões e situações.
Antes do caminho, conforme referi, a vontade foi sempre me escapar à situação, procurar todas as justificações para não o fazer. Mas mesmo aqui começou a ambiguidade, a procura para não o fazer e a motivação para o fazer, estes diálogos e reconhecimentos apesar de não perceptíveis começam ainda em casa. E o engraçado é que o fazemos mesmo sem darmos conta. Não deixa de ser uma escolha, ir ou não ir.
Acima de tudo, procurava respostas, e quanto mais tempo estamos isolados mais profundamente conseguimos chegar a essas respostas, considero-me um pouco ermita, todas as minhas dúvidas são respondidas quando me encontro em silêncio, em contacto com a natureza, seja ela na mais alta montanha, no vale mais profundo, na praia mais ampla - no fundo, pertencemos a esta natureza, somos a vida animal que habita este planeta perdido num universo de outros planetas e galáxias.
O passado, tem que ser visitado devagarinho, com tempo, com reflexão e na procura de respostas, a nossa vida é marcada por diversos acontecimentos que por vezes, queremos esquecer, não pegar mais neles porque nos magoamos tanto que visitar a dor é demasiado doloroso, é como revivê-la. Mas com o tempo e com maturidade, temos que a visitar, para a entender com novos pontos de vista, com um olhar e percepção mais amplas e devagar, fazer as pazes com ela - integra-la. Há coisas que ficaram por fazer, atitudes que tomamos e não gostamos, conversas que ficaram por ter, medos e receios que não nos deixaram seguir em frente, situações em que deveríamos ter “tomado iniciativa” e não o fizemos, outras vezes, tomamos e arrependemo-nos, ou erramos, justificativas que não deveríamos ter dado e, outras vezes perdemos por falar demais ou a menos, eventos que poderiam ter sido evitados, outros deveríamos sentir mais preparados por os enfrentar mas não o fazemos, falta de coragem, receios ou outros medos, creio que qualquer ser humano é composto por estas fases. O caminho iria significar isso, fazer as pazes com o meu interno, abraçá-lo, integrá-lo, eu queria que isso acontecesse. Mas a cabeça continuava a boicotar, até que chegou o dia de ir, nesse dia, o meu coração acelerou de entusiasmo juntamente com medo um combate entre as minhas dúvidas e as minhas certezas tomaram lugar - resolvi ir, tinha mais argumentos para ir do que para ficar. E se desistisse a meio, teria sido uma experiência, mas ao menos tinha tentado, não ficaria arrependida de não ter tentado. Iria percorrer o caminho que me levaria ao encontro de algo muito íntimo, mas ainda não sabia.
Por Irina Marques
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