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Foto do escritorIrina Marques

O pós-impressionismo

Assim como o impressionismo e o neo-impressionismo encontra-se longe de indicar um grupo coerente e ligado, a terminologia aparece ligada ao trabalho de vários pintores que, entre 1880 e 1890, exploram as possibilidades abertas pelo impressionismo, com direcções muito variadas. O termo de pós-impressionistas é usado por o crítico britânico Roger Eliot Fry e Clive Bell após uma exposição no Inverno de 1910, em Londres "Manet e o Pós-impressionismo", que incluía também os pintores Paul Cézanne, Vincent van Gogh e Paul Gauguin apresentando uma nova atitude critica em relação ao movimento impressionista.

As três exposições pós-impressionistas organizadas por Fry (em 1910, 1912 e 1913) demonstram convergências estilísticas entre Cézanne, Van Gogh e Gauguin ou, pelo menos, uma de alargar o programa impressionista, o que já havia sido tentado por Georges Seurat e pelos chamados neo-impressionistas. Com Seurat e Paul Signac verifica-se a ruptura com as linhas mestras do impressionismo acrescido com pesquisa científica da cor, que dá origem ao chamado pontilhismo. Desta forma, os trabalhos se orientam a partir de um método: dividide-se os tons em suas componentes fundamentais. As manchas de cores puras que cobrem a tela são refeitas pelo olhar do observador e, assim, recupera-se a unidade do tom, longe do uso não sistemático de cores. Um Domingo de verão na Grande Jatte de Seurat, exposta na última mostra impressionista de 1886, anuncia o neo-impressionismo, explicitando divergências no interior do movimento, o impressionismo.

No caso de Paul Cézanne, este nunca se inclinou às representações realistas e às impressões fugazes cultivadas pelos impressionistas, opta antes pela análise estrutural da natureza, por meio de uma pintura que recorre preferencialmente à mente e à consciência, e não à visão. O conhecimento da realidade em Cézanne não é contemplação, mas sim, pesquisa metódica onde as sensações visuais são filtradas pela consciência. Visível na obra A casa do enforcado em Auvers (1873), exibida numa exposição impressionista mostra-nos o carácter original de sua pintura que se começa a se revelar, como a composição densa, os volumes sinuosos, a luz que produz um efeito material na tela, não possuindo brilhos nem transparências. Cézanne é o mais velho dos pós-impressionistas e característico no seu temperamento emocional. Após uma carreira inicial dedicada aos temas dramáticos e grandiloquentes próprios da escola romântica, Cézanne cria um estilo próprio. Nas suas obras introduz distorções formais e alterações do ponto de visão em benefício da composição ou para ressaltar o volume e peso dos objectos. Concebe a cor de tal modo que define os volumes e, neste sentido, é essencial para a composição. Mas não o subordina às leis da perspectiva. A sua concepção da composição é arquitectónica de acordo com o artista, o seu estilo consiste em observar a natureza nas suas formas fundamentais, redução à esfera, o cilindro e o cone e dar pouca relevância ao ambiente. Sua temática incide-se fundamentalmente sobre paisagens e naturezas-mortas embora também pinte figuras humanas e retratos. No caso de suas paisagens, estas são cuidadosamente estudadas e analisadas a nível de seu valor plástico reduzindo-as a diferentes volumes feitos de pinceladas paralelas, tornam-se subtilmente geométricas. As naturezas-mortas apresentam-se compostas por maçãs, onde leva acabo uma exploração formal exaustiva de onde futuramente irá ter as raízes do cubismo

Gauguin vai descobrir a novidade das obras de Cézanne, desta forma, explora, um estilo anti-naturalista, pelo meio de áreas de cores puras e planas, visível nas obras que realiza em Pont-Aven , ex. A visão após o sermão- Jacó e o anjo, de 1888. Com a ida para o Taiti em 1891, abre um novo horizonte nas suas pesquisas à cultura plástica dos primitivos, o que se revela no uso de cores vibrantes e na total simplificação do desenho, visíveis na obra Mulheres taitianas sentadas num banco, 1892 e De onde Viemos? O que somos? Para onde Vamos?, a obra é carregada de símbolos, figuras humanas, animal, o totem, a natureza, onde tudo se conjuga harmonicamente para suas questões acerca do sentido da vida. A alegoria vai do nascimento até á morte, este quadro encontra-se cheio de outros tantos símbolos e interpretações múltiplas.

Num estilo oposto a Cézanne, Vincent Van Gogh, diz-nos que o impressionismo não oferecia ao artista liberdade suficiente para exprimir as suas emoções. Foi dos pós-impressionistas mais persistentes, no seu uso abstracto da cor e da forma, vai possuir grande influência sobre toda a arte do séc. XX. Sua vida cruza-se com a de Paul Gauguin, a partir de 1888, quando o pintor holandês se instala em Arles. Embora estes dois apresentem flagrantes diferenças nos seus trabalhos. As linhas e cores de Gauguin tornam-se suaves diante do vigor expressivo dos coloridos e linhas serpentinadas de Van Gogh. As pinceladas em redemoinho e a explosão de cores em telas como é visível nas obras Trigal com ciprestes (1889), Estrada com ciprestes e estrelas (1890) e também os célebres Girassóis e Noite estrelada, conseguem-nos fornecer do timbre expressionista da produção de Van Gogh.

Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901) morreu com apenas 37 anos. A vida urbana e agitada de Paris que Toulouse-Lautrec registrou de forma inconfundível em suas telas. Interessavam a ele, os artistas de circo, as dançarinas, os frequentadores dos bares e cabarés, as prostitutas e as pessoas anónimas. Nunca partilhou o gosto dos impressionistas pelo gosto da pintura de ar livre nem pela técnica difusa. Sofre influências das estampas japonesas referentes á bidimensionalidade. Na sua obra possui proximidades com o pintor Degas, no gosto pelo desenho onde sai um linearismo delicado das formas, aproxima-se muito de uma linguagem da ilustração. Sua pintura é sinuosa, analisada com sentido critico, outras vezes brutal, chegando ao obsceno e grotesco, levando por vezes á caricatura. È a partir de suas obras, que saem os primeiros cartazes artísticos usados para propaganda.

Edgar Degas, estuda pintura em diversas academias e é discípulo de Ingres. Vai a Itália e é um dos primeiros organizadores das exposições impressionistas. Influenciado por Ingres e pelos seus seguidores, Edgar Degas não compartilha com os impressionistas a abolição das linhas. Suas temáticas são as bailarinas, tema que lhe permite estudar detidamente a anatomia e as atitudes do corpo, o equilíbrio das massas, o momento fugaz captado num gesto, a iluminação do lugar. Também cenas da vida quotidiana de Paris, como O Absinto (Num Café), Nus de Mulheres Secando-se ou As Engomadeiras.

Na sua técnica, seus ângulos de visão estão relacionados com o seu interesse pela fotografia, enquadramentos e cujo imediatismo estuda com interesse. Além disso, Degas é, como a maioria dos impressionistas, um apaixonado pelas estampas japonesas. Os pintores viam nestas estampas síntese expressiva, captação da fugacidade e uma procura de pontos de vista insólitos.

De todas estas figuras do pós-impressionismo, estão na base de outros distintos movimentos artísticos modernistas posteriores. A obra de Cézanne encontra-se na raiz do cubismo tanto de Picasso e Braque. Gauguin, por sua vez, irá influenciar os nabis e o movimento simbolista. Finalmente, Van Gogh vai deixar sua marca às orientações expressionistas futuras. No caso de Toulouse-Lautrec no caso de suas ilustrações aproximam-se da arte nova.

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