De 01.01.2022 a 06.03.2022
Hoje, escrevo em primeira pessoa, assim será no decorrer destes dias em pensamentos ao vento, vejamos até onde eles irão. Serão só e, apenas isso, desenvolvimento de pensamentos, talvez encadeados uns nos outros, soltos para quando os quiser terminar.
Inicio este ano com alguns pensamentos, por vezes são eles, que não nos fazem seguir em frente, acreditamos tanto que algo é de verdade que nem pomos em questão não o ser. Deixo claro que o que aqui escrevo não é nada que, de momento, esteja a elaborar a nível de trabalho/profissional. São apenas isso mesmo, pensamentos soltos, como costumo dizer, ao vento, pairam pelo ar não tem necessidade de assentar em lado nenhum.
A ideia surgiu de um pequeno livro, digamos, uma aventura que tive numa publicação na Amazon. Sabia que a minha escrita não era lida, e nunca escrevi com intuito de ser lida, pelo menos a público. Facto é, que alguém encontrou os meus escritos e acreditou que tinha potencial e material para começar a elaborar um projeto de escrita. Foi um complemento às minhas pinturas. É complicado afirmar o que quer que seja neste século, eu pinto, eu escrevo mas sempre o fiz sem qualquer propósito, apenas para me situar no tempo e anotar alguns pensamentos nunca com intuito de transmitir qualquer mensagem ou comunicar, era algo meu.
Obviamente que o ser meu, nos dias de hoje, e por identificações pessoais - passa a ser de todos, especialmente exposto. Algo que me tive que habituar, o que eu escrevia ou registar, obviamente, poderia ser levado como identificação pessoal e, eu própria, também sou influenciada pelo que leio. Daí, ter que reduzir um pouco algumas leituras, passei a dedicar-me mais aos livros, não que, uma vez ou outra visite alguns lugares online mas, já não diariamente, passei a dedicar menos tempo à internet e, voltei a ler mais livros especialmente de autores mais antigos. Senti que é muito fácil nos perdermos, começar a alterar a nossa escrita, quer por assimilação quer por comparação. Caminhos não era costume seguir e, estavam a acontecer.
Este ano resolvi iniciar o ano a deixar para trás algumas bagagens que não me pertencem de forma alguma. E nada melhor do que escrever sobre isso e deixar essa resolução assente. É bom libertar espaço da memória de coisas que não nos pertencem e adicionar aquelas que nos fazem sonhar, abrir portas da imaginação e viver - mover pelo ar.
Gosto de ler, é uma constante minha, e em determinada altura quando comecei a jornada de escrever a público, andava em busca de livros para ler. Foi nestas buscas que encontrei um dos meus autores preferidos, até à data só tinha lido um livro dele, agora, já li inúmeros, e ainda bem que enveredei por esse autor – só tenho aprendido com ele, tudo o que ele escreve é muito do que os meus estudos se fundamentam na vida de estudos. Sou uma pessoa de constantes aprendizagens, de várias áreas do conhecimento, obviamente, tendo em conta que o ser humano não tem o tempo de vida para aprender tudo que existe. Devido a isso, fez-me deixar episódios pelo caminho, aos quais não pertenço nem tenho intenção de pertencer.
Desde então, não me entram mais influências exteriores às quais não me pertencem, especialmente, das que primem gatilhos emocionais que não são os mais positivos, prefiro pensar pela minha cabeça, fazer as minhas pesquisas, assentar em factos (pelo menos nos fundamentados). E quando observamos que o moralismo, que algumas pessoas, fornecem em respostas não batem certo, deixamos de levar essas pessoas a sério. Para mim a vida é uma bagagem que se transporta com variadíssimas pessoas e a típica história do ele e ela/ ela e ele (que ambos são iguaizinhos em que os intervenientes da história falam exatamente da mesma forma) esta obviedade da situação, de musas e inspirações etc., perco interesse, sigo em frente, mudo de capítulo - não é tipo de leitura que me agrada. Todos carregamos algumas destas histórias, muitas passadas, outras presentes e ainda as que estão por vir, não se fica muito tempo agarrado a tal, o encanto perde-se. Mas como tudo na vida, não temos todos os mesmos gostos, e se há público para histórias óbvias e do género, serão os gostos de cada um. Nada contra.
Gosto de cultivar os meus próprios sonhos e pessoas que a eles pertencem e que sempre pertenceram, sei que essas pessoas estão aqui, a ler. São os que carrego comigo, tenho alguns, que se mantiveram e, enquanto me encontrar a criar – processo para o qual vivo – esses, serão certamente construções positivas, com partilhas de ideias, este processo contínuo que consegui manter com alguns leitores, muitos deles, amigos. Pois a confiança é um processo construtivo que as ações demonstram meios para tal confiança acontecer. Um incentivo mútuo, amigos com o qual partilho um espaço com suas próprias individualidades e ao qual nos respeitamos. Trocamos ideias, pensares, apoiamo-nos e temos conseguido avançar neste traçado da vida – trocas de ideias com variadíssimas áreas fazem-nos avançar e tomar consciência da vida exterior.
Com o tempo disseram-me que sou artista, embora não aprecie muito este tipo de classificações, assumo aquilo pelo qual lutei e, acima de tudo, para afirmar o que sou é, estar a par das necessidades do mundo, porque não se vive sozinho. Na arte tem que ser responsável e saber teorizar e transmitir uma mensagem – fazer com que o público pense e haja de acordo com suas próprias vivências - fazer questionar. Um amigo, dizia-me no outro dia, que um artista é alguém constantemente apaixonado pela vida e, que eu era assim, creio que sim, essa afirmação é o que me descreve, talvez até iludida com a vida mas tenho em mente algo que sempre afirmei – "a realidade é limitada às nossas percepções" algo que aprendi por contactar com diversas pessoas, culturas, e ambientes.
Claro está, que mesmo este texto é fundamentado na minha existência e realidade, e não poderá ser mais do que isso, uma imparcialidade parcial, sou a narradora da minha própria história.
Por vezes, tomamos certas coisas por garantidas, são tão habituais que nos esquecemos delas. Tenho andado a observar o que me tem feito falta ultimamente e, coisas tão simples como, apreciar um café pela manhã, acabar uma obra encomendada que me encontrava a fazer à um mês, escrever para o um livro que me encontro a desenvolver, fazer a pesquisa para o mesmo e encontrar material coerente, estar com amigos... são tão simples, e ao mesmo tempo gratificantes.
Creio que certas escolhas que fiz na vida, foram produtivas, trouxeram-me sempre algo. Espero assim poder continuar. É verdade que temos momentos menos bons mas, mesmo nesses momentos, consegui ter capacidade de me expressar, mesmo a sentir que ninguém entendesse, porque às vezes chegamos a parecer loucos quando temos algo em mente e a mensagem não é entendida. Descobri que há sempre, sempre alguém que vai entender que irá conseguir comunicar ou entender por isso, identificações à parte, é gratificante que o nosso trabalho, que muitas vezes fazemos com tantas dores, noites acordadas ou mal dormidas, enxaquecas, esforço que não é visível aos olhos e, ele acaba por ser reconhecido e possa ser usufruído.
Este ano, tracei um objetivo, a ver vamos como as coisas correm. Deixando algumas coisas, não essenciais para trás, ganha-se tempo, nunca se perde. Classificações à parte, sempre cresci com poucas pessoas a acreditarem em mim, por isso, sempre me esforcei ainda mais, o esforço foi sempre a minha recompensa, é um processo contínuo, o trabalho que construo, assente em algo fixo, sólido, não o que vejo e leio porque já li coisas que estão muito longe de serem verdade, mas se faz sentido para alguns, tudo bem - entre o que é e, o que se pensa ser, vai uma enorme distância, e que assim se mantenha. Infelizmente é assim, mundo competitivo que só a se rebaixar os outros é que, muito se fazem valer, então no campo das artes tenho tido muitas dessas experiências a servir de lições, enquanto eu genuinamente fico feliz por colegas artistas alcançarem determinados feitos (porque tenho consciência e noção do que custa), o mesmo não se observa de volta. Não seguindo esses moralismos pregados por aí, sigo em frente, com quem sempre me acompanhou e acreditou em mim sem me rebaixar, porque ninguém é mais que ninguém, mas a tecer críticas construtivas que façam pensar, é para isso que a arte serve - abrir horizontes e questionar - senão, seria apenas mais um objeto decorativo. É bom ouvir palavras de pessoas que andavam com a componente artística adormecida, começarem a produzir e conseguir incentivar nesse caminho, assim como outros a mim.
A muitos desses leitores, colegas artistas e amigos, estou grata por todo apoio que encontro e pela felicidade que partilharam comigo, e que sei que me acompanham aqui. Sigamos em frente, com o que nos faz sentido, porque de críticas e pessoas que se pensam superiores, está o mundo cheio. Força.
Quantas vezes me encontro a navegar nas nuvens dos meus pensamentos, talvez a explorá-los um pouco - ideias que surgem de ideias - a minha cabeça é sem dúvida algo muito complexo. Creio que todas as mentes são assim, ou as tranquilizamos ou exploramos locais muito específicos que nos trazem outras ideias, e outras. A nossa mente é, sem dúvida, uma geradora de ideias encadeadas umas nas outras. Isso, muitas vezes, pode ser uma mais valia, outras, um desespero. Todos os dias acordo sempre cheia de projectos, com vontade de concretizar coisas, durante muito tempo considerei um fardo, porque me questionavam “Como é possível, tu logo pela manhã, já te encontrares cheias de projectos?”. Facto é, se eu não forçar a tranquilizar a minha mente ela está sempre a gerar ideias. Ao final de um dia, vários, meses, pode-se tornar desgastante e nem me aperceber disso, é como funciono. Tive que optar por certos processos que não me levassem a esgotamentos.
Ontem, encontrava-me a trabalhar num projecto, estudos que me encontro a fazer e ao mesmo tempo a aplicar. Qual o meu espanto em, no meu momento de pausa, ver que alguém se encontrava a escrever exatamente sobre a mesma coisa que eu estava a estudar. Pensei para comigo, qual é a probabilidade de isto acontecer? Tendo em conta que não partilhei em lado nenhum, nem falei do assunto com ninguém nem o procurei na internet - ainda uso livros.
Uma vez, falei sobre as coincidências que temos na vida, é claro, que passamos por períodos em que no nosso exterior acontecem determinados eventos e podemos pensar mais ou menos sobre eles, manter os pés assentes na terra e dar-lhe o devido valor e importância. Mas quando navegamos nas nuvens da nossa imaginação e em algum local, vemos que nesse dia outra pessoa fala sobre esse assunto, são coincidências estranhas. Tomando conhecimento da inteligência artificial e o que ela faz nos bastidores, às vezes, não são meras coincidências, mas isso, são outros assuntos.
Prefiro pensar assim, é isso mesmo, coincidência, o que os meus olhos veem e o cérebro pensa ainda não transmitem em directo para o mundo. Nem tudo tem explicação e, é melhor nem ter, senão afundamo-nos em derivações. Ideias repetem-se e é só isso, não há mais nada, o resto é imaginação e processamento de realidades imaginativas.
Costumo dizer, que quando nasci fui dotada com um nome e, ser humana, não com uma característica ou atributo e, é com esse mesmo nome que sei que se fala comigo ou de mim. É o carácter individual que se distingue da generalização quando se tem conversas direcionadas. A ideia é seguir em frente como seres humanos dotados de comunicação.
Quantas vezes queremos falar, escrever pensamentos, divagar por ideias e elas são mal interpretadas? Muitas, até às vezes demais. Convém explicar que o que escrevemos, não agrada a todos, mas vai haver sempre a quem agrade, já por isso temos os nossos leitores e nós, também somos leitores de outrem. Mas existe algo que me faz pensar - o facto das escolhas - o porquê nos identificarmos mais com uns do que com outros. Talvez não haja muita predisposição para estarmos atentos às suas histórias, talvez pela forma como elaboram certas narrativas, talvez por serem pessoas consideradas irritantes para muitos. Mas será? Não serão essas pessoas, seres humanos com as mesmas emoções que nós temos, apenas a forma que têm de demonstrar é diferente, não é mais nem menos válida.
Se houve algo que aprendi na minha vida, e este ponto de vista vem desde muito nova, desde que segui Artes, a minha base de formação, é que para compreender o que vemos temos que dedicar 70% de observação e 30% na execução. Isto é, tudo possui um contexto, uma localização, algo que entendi melhor quando segui o curso em que me formei História da Arte. E com isto não quer dizer que a minha formação me faça ser melhor ou pior que ninguém, sou um ser humano, o que isto quer dizer é que a percepção se torna um pouco mais abrangente. A visualização de um todo.
Uma vez questionaram-me qual era a minha cor preferida, confesso como artista, não pude responder a esta questão de forma imparcial. Eu trabalho com todas as cores e sei que todas elas formam uma união cromática, umas não existem sem as outras.
É um pouco como o ser humano não? Todo o ser humano tem formas de estar diferentes na vida, não quer dizer que alguém que seja calmo, um dia, não demonstre ansiedade. Algo que entendi é que muitas vezes, as emoções mais reprimidas servem para passarmos aquilo que muitas vezes não somos. Eu faço-o na arte, ali estão trabalhos onde houve a exploração dos meus sentimentos mais profundos, aos quais tento colocar beleza. Também aprendi como direcionar para outros locais sem ferir ninguém, nada que com tempo não se aprenda.
O outro dia lia um artigo demasiado interessante, de uma colega, talvez mostrasse muito do que me encontrava a sentir de momento e que eu própria talvez não o conseguisse descrever melhor. Falava de já não se ter paciência para certas coisas, não porque nos tornemos arrogantes mas sim, porque determinadas coisas já não valiam a perda de tempo com algo que nos magoa ou desagrada. Deixei de ter paciência para quem era cínico, quem tece críticas excessivas, a inconsistência, pessoas que exigem demais de nós sem nunca vermos um pouco de apreciação no que fazemos. Seres humanos precisam disso mesmo, a componente humana que cada vez mais se perde.
Perdi a vontade de agradar quem não gosta de mim, quem me tenta manipular ou mente, não amo quem não me ama de volta, não sorrio quando alguém não sorri para mim. Deixei de conviver com quem só finge, quem é hipócrita, quem tece elogios baratos e desonestidade. Descobri também que odeio conflitos e comparações, o mundo em harmonia é feito de opostos, e entendimentos de ambos e, evito pessoas com personalidades rígidas e inflexíveis e especialmente moralistas com quem não se consegue manter conversas porque essas pessoas nunca mudam e nós não mudamos ninguém, só nós mesmos. Erros, todos cometemos, temos que ter a humildade de nos conhecer e saber pedir perdão quando o fazemos, quando inverso, esperamos que o mesmo aconteça, senão, é mais um tipo de coisa que não perco mais tempo.
Na amizade não gosto de boatos, traição e falta de lealdade, tenho dificuldade em manter relacionamentos com pessoas que não sabem tecer um elogio, não que isso me faça valer mas demonstra que essa pessoa tem humildade, sabe encorajar. Tudo o que seja exagerado aborrece-me e deixo de ter paciência para quem não merece a minha paciência. Não descarto que existem inúmeros pontos de vista e, este não é o único que se faça valer. Gosto de pessoas que tratam bem os animais.
Creio que este é o ponto da minha vida em que me encontro, há quase quarenta décadas nesta terra e, o registo que faço, é mesmo esse. Ainda nutro muito respeito por todas as opiniões mas, muitas vezes vemos que elas não são sustentadas, pelo menos para quem observa e, as explicações também não são observáveis/plausíveis e nas atitudes muito menos. E lá está, existe sempre um contexto no qual escrevo este meu pensamento e, sabendo que o leitor, apenas me conhece pelos meus escritos não pela minha vida (erro, alguns conhecem pessoalmente). Aqui entram algumas das bagagens que se deixam pelo caminho conforme referi na abertura destes pensamentos ao vento.
Outra coisa que me apercebi, é que todos lemos/vemos as coisas com nosso olhar interno. Este texto não foi escrito para ninguém em particular nem para ofender/fazer valer ninguém é apenas mais um registo na minha nuvem de pensamentos que me passam pela cabeça.
Hoje, dei por mim a pensar se haveria de continuar ou não estes pensamentos ao vento. Não é nada que acrescente, é simplesmente isso, algo estático que voa por aí. Contudo, tive uma surpresa inesperada, a qual me fez relembrar algumas coisas que haviam sido esquecidas. Por vezes é bom que nos façam recordar de determinadas situações porque podemos cair no erro de voltar a repetir algo que não nos trouxe experiências muito agradáveis, tenho tendência a, por vezes, esquecer-me desses sinais.
Muitas vezes, na vida, possuo determinada opinião ou ponto de vista e, com o passar do tempo e alterações que sofremos passamos a ter outra opinião relativamente ao mesmo assunto. Não porque nos modificaram a forma de pensar, nós próprios é que acabamos por alterar essa mesma forma de ver as coisas, juntamos mais experiência, conhecimento, procuras e pesquisas. Sempre gostei muito da partilha de conhecimento, sempre adorei ver novos pontos de vista sobre determinados assuntos mas, hoje em dia, tenho-me sentido um pouco desconfortável na partilha de determinados assuntos. Ás vezes chego a escrever páginas e páginas de artigos, sejam eles narrativas, artigos históricos, pesquisas que me encontro a desenvolver, quadros que me encontro a pintar, teorias (não da conspiração), ficções, poemas e, por vezes, até mesmo registros fotográficos - mas penso, para quê? Para quê partilhar tanta coisa? Eu sei que pontualmente uma ou outra pessoa ainda se encontra com interesse no que produzo mas, no meio de tanta informação e de tanta gente, o trabalho que elaboro, faz alguma diferença? Obviamente que esta é uma pergunta retórica, é o desenvolvimento do meu pensamento sem qualquer tipo de respostas dadas.
Qual o intuito de tanto criar, se não existe quem olhe para o esforço feito e possa usufruir? Daí acabar por me reservar um pouco mais, diria que como que me retirasse para continuar os meus processos fora de excessos de exposições.
Quantas vezes dou por mim a pensar, tudo o que era para ser feito já foi, poucas ideias são novas e, as que são novas mais cedo ou mais tarde parecem se tornar destrutivas. Todas as pessoas com boas ideias partiram de bons princípios, pelo menos à luz de seus tempos, elas não conseguiram ver o que a longo termo o benefício se tornou. E quanto a isto, não há muito a fazer.
Qualquer coisa que seja dita, pintada, falada, escrita, sentida, será sempre mediante condicionantes que não podemos ter mão no assunto, e os estados de espírito em que os elaboramos podem ser totalmente diferentes dos estados de espírito que a pessoa que observa tem. Daí muitas vezes, escrever sobre os assuntos, mas mesmo assim não vão haver dois seres humanos que vão sentir exatamente da mesma forma. Esta é uma das razões para que já não me perco em explicações, por mais que se tente, a realidade nunca é aquela que desejássemos que fosse. Resta-me imaginar que sim, que certas utopias pudessem ser realizadas - iludo-me, fantasio, tento criar, transporto para o meu trabalho as minhas emoções e muitas vezes coloco os pés no chão para saber que ainda piso em solo firme.
Não saberei muito bem o rumo destes pensamentos ao vento, se irão continuar ou se serão efêmeros, sei apenas, que enquanto aqui aparecer ainda são feitos sobre algo e que logo, logo passa a outro estado - imaginativo e fragmentado, algo que não tenho controle.
Talvez estes pensamentos ao vento seja apenas um sinal, algo a dizer, que ainda me encontro por aqui, neste inúmero espaço, a ter um ou qualquer pensamento. Embora com pouca vontade de os partilhar, não sei.
Não tinha pensado em continuar estes pensamentos ao ventos, como lhes gosto de chamar, e chamo-os assim porque conforme já referi em tempos anteriores, são pensamentos soltos que me passam na cabeça, voam com o vento e movem-se pelo ar, sem qualquer forma especifica e sem assentar em nenhum lugar, é uma espécie de essência que me move cá dentro e que se tenta verbalizar.
Hoje resolvi desenvolver e, explicar o porquê, de ultimamente me ter afastado um pouco de redes sociais e ter deixado de parte o meu blogue no Wordpress. Tive alguns contactos que me perguntaram porque já não escrevo lá e comecei a escrever aqui, que não têm possibilidade de entrar em contacto comigo e gostavam das nossas conversas.
Acima de tudo, muitas das conversas que tinha no Wordpress eram produtivas, era uma forma de debater diversos pontos de vistas, pensar de outras formas, sentir que estava inserida em algum coletivo. A questão é que muitas vezes, estar inserido num coletivo obriga-nos a comportar, pertencer e fazer coisas e eu tenho grande dificuldade em fazer coisas por obrigação e, por vezes, até discordamos de determinados assuntos mas não queremos entrar em conflitos. Ontem relia um livro de um dos meus escritores favoritos, Umberto Eco e no seu livro Bauldolino dizia algo que me assentou que nem uma luva e ainda me ri:
"- Compreendeste, senhor Niceta? - disse Baudolino. - Agora o Preste João para mim tornara-se um dever, e já não uma brincadeira. E também já não devia procura-lo em memória de Otão, mas para cumprir uma ordem de Reinaldo. Como dizia o meu pai Gagliaudo, eu sempre fui um espirito de contradição. Obrigando-me a fazer alguma coisa, passa-me logo a vontade."
Foi esta sensação que comecei a sentir no meu antigo blogue. Sempre gostei de escrever pensamentos soltos, muitos, sem propósito - deixar-me levar ao sabor do vento. Uma espécie de mutação, quando sinto que estou a fazer algo por obrigação perco a vontade.
Outra questão foi que perdi imensos amigos no decorrer dos anos, talvez por ninguém nunca entender o meu processo criativo, outras vezes, por palavras mal entendidas e interpretadas. Sempre senti um sentimento de não pertencimento, não encaixe, mas isso não é algo necessariamente mau, simplesmente, não me sentia no lugar certo de uma comunidade. Foi algo que sempre nasceu comigo, ser um ser um pouco solitário em que as situações exteriores mexiam muito comigo - sempre fui muito sensitiva - e não estava a conseguir acompanhar todas as pessoas que me seguiam de volta, então, fiz o que sempre soube fazer - afastei-me para me conseguir encontrar, uma procura que leva uma vida.
Não agradamos a todos, é uma verdade que sempre ouvi dizer, há pessoas que nos vão odiar, sem nunca entendermos o porquê (e não vale a pena tentarmos agradar essas pessoas, elas nunca nos verão com outros olhos) e pessoas que sempre nos irão apoiar, e esses, conservo aqui no meu coração. Apesar de maioritariamente a internet já ser composta por bots e pessoas não reais, ainda há muitas que conseguimos conversar. Apesar de ser uma pessoa de poucas palavras e muito complicada de entender - difícil - por assim dizer, demoro muito a confiar.
Creio que o Wordpress foi uma experiência minha onde estava no sitio errado à hora errada. Talvez porque certas situações minhas ainda não estavam resolvidas e, acreditei em determinadas palavras, que não correspondiam a verdades. Preferi seguir um caminho muito próprio, a nossa arte parte de dentro de nós e não o contrário. Mas nós, como seres sociais queremos sempre que algo em nós seja valorizado, porque somos isso mesmo, seres sociais e não existe arte se não houver a quem mostrar. Mas será que estaria no sitio certo? Com o tempo vi que talvez não, já me tinham avisado desta questão, mas a minha teimosia levou as consequências avante. Criei este espaço, provisório, enquanto me encontro a trabalhar no meu próprio site. Aqui, tenho todas as minhas artes juntas, explicadas - a minha confusão artística está condensada.
Sempre fui uma pessoa com ideias muito próprias, com formas de ver as coisas muito diferentes, não que isso seja uma coisa boa, por vezes não o é, é mesmo um tormento - pensamos tanto nas coisas que para tomar uma decisão é complicado porque compreendemos todos os pontos de vista e conseguimo-nos por no lugar do outro o que por vezes, nos trás um mar de indecisões. Mas quando as decisões estão tomadas, estão bem delineadas. O tempo que eu estava na plataforma fazia eu não ter tempo para restantes coisas que gosto de fazer. Sou uma pessoa que se encontra em processos criativos constantes, ideia leva a ideia e procuro diversas fontes imaginativas, e isso, ao contrário do que se pensa, não é egoísmo, porque durante muito tempo da minha vida pretendi sempre agradar os outros, tanto que, desaprendi a agradar a mim própria e o desprender de muita coisa foi isso mesmo, encontrar, encontrar-me quem realmente sou através das formas que o sei fazer - escrita (com a qual me zango ás vezes), poesia, pintura, música e outros projetos artísticos.
Nunca fui de me dar bem no meio de multidões, sei estar, mas ninguém me ouve falar. Apesar de ser leão (signo, falo neste ponto porque tenho alguma afinidade com os seus traços) existem algumas características com que não me identifico - não gosto de ser o centro das atenções, nem de falar de A, B, C, D, etc, e é impossível estar inserido numa comunidade e fazer parte dela se não conseguimos ter determinados comportamentos.
Gosto de procurar a solidão sim, mas também me rodeio das pessoas que sempre me apoiaram e entenderam, não procuro formas diferentes de o ser. É uma sensação boa ser valorizada mas, muitas vezes, as pessoas dizem coisas só para ser simpáticas e não por realmente sentirem, foi algo que me vim a aperceber com o tempo e como não consigo ser assim, prefiro me afastar - talvez seja um mecanismo de defesa, quem sabe?
Estas defesas são um pouco ambíguas porque, por vezes, isolo-me de tal forma que me chego mesmo a sentir só, mesmo que acompanhada no meio de uma multidão. Talvez aqui entre o meu espirito de contradição. Quando quero estar acompanhada, procuro pessoas, quando estou com pessoas, só quero voltar para casa e trabalhar. Sou um pouco viciada em trabalho, provavelmente, por não o encarar como trabalho mas sim como uma expressividade. É a minha forma de comunicação mais profunda, a que possui a minha justificativa, a forma como consigo alcançar um outro ser humano - mesmo que esse ser humano me compreenda de forma totalmente errada. E quantas destas interpretações já não aconteceram? Razão pela qual, me reservo um pouco em tentar explicar. Não consigo distinguir muito bem o sarcasmo, tendo em conta que por vezes sou irónica mas na escrita, e mesmo presencialmente, tenho muitas dificuldades em perceber esses conceitos.
O ser humano tem um a certa dificuldade em vestir um outro papel, diferente dos seus olhos. Isto foi algo que aprendi no teatro, desde muito cedo - tinha que sair de mim e personificar alguém que não era eu, que não falava como eu, que não tinha a minha postura, etc... Razões pelas quais, me levaram a estudos comportamentais, observâncias de outras pessoas/personagens. A coisa complica quando por vezes o personagem que fazemos é um gato, foi o caso, onde tive que estudar o musical do Cats vezes e vezes sem conta, e arranjar forma de não chegar ao final do dia com os joelhos todos esfolados.
É incrível como em cima de um palco a representar consigo me sentir mais à vontade do que num palco a fazer uma apresentação qualquer, especialmente quando diz respeito a algo que crio como o caso do livro publicado ou as minhas obras de arte. Existem coisas que por mais que se tente, não se consegue aproximar de uma explicação lógica pois, estes trabalhos vêm de uma essência, talvez muito inconsciente - e todos sabemos que explicar o inconsciente é impossível. Mesmo nestes pensamentos ao vento, que me encontro a elaborar, nunca conseguirei os explicar da forma como quero, a minha cabeça encadeia pensamentos aleatórios e consegue sempre arranjar uma ligação. Daí tentar compilar, de forma mais aproximada que consigo, estas várias ideias que me passam pela cabeça na tentativa formular textos que façam sentido. Tão depressa me encontro a escrever sobre contos, poemas, como volto aos meus pensamentos e divagações - são aquilo que chamo dos meus labirintos - e não é que ande perdida, talvez me encontre em procuras de soluções (não sabendo ao certo de quê), mas de uma coisa tenho a certeza, musica e cores fazem-me assentar. Apesar de me classificarem como escritora e artista plástica, tenho imensa dificuldade em me expressar - não deveriam estes, ser os agentes de discursos coerentes? Talvez esta seja uma razão pela qual me sinta deslocada constantemente, tentar formalizar em palavras ou obras o meu caos interno, sem perceção por parte de um outro alguém, daí não me considerar artista. Quando crio, é como se entrasse num outro plano, um plano que não tem explicação, perco a noção do tempo e espaço. E quanto mais tento explicar certos procedimentos, menos sentidos têm, por eles são isso mesmo, sentidos (de sentimento).
Uma pequena breve explicação sobre os meus procedimentos - difícil, muito difícil de descrever - busco uma espécie de perfeccionismo nas obras que crio, contudo, não deixo de fazer as minhas experiências. Não me gosto de prender a um estilo só, razão pela qual as minhas obras vão desde a abstração, padronagem, etc... A padronagem, ou mandalas, talvez representem a contenção do meu caos interno, a forma que tenho de dar "sentido" aquilo que não tem explicação e anda meio que perdido dentro de mim. E muitas vezes sinto que o que digo num outro dia, já não tem qualquer justificação.
Continuo então nesta tentativa de explicar o inexplicável, sempre com uma música de fundo que me acompanha nestas divagações, normalmente musica acompanhada de violinos. Instrumento que estudo com muito cuidado pois desperta-me os mais variados sentimentos tanto me põe no maior astral como me deixa de rastos com o seu dramatismo, para mim um dos mais puros instrumentos - voltei a tocar, a aprender como esta extensão de mim se comporta, ou como eu me comporto com ele - é incrível a energia que o seu som provoca. Tem-me influenciado muito nas minhas obras de pintura.
A música foi sempre algo muito presente em mim, talvez por ser o meio mais puro que me deixa exprimir a emoção, é como um veículo. Daí sempre ter admirado muito as obras do Kandinsky, ele aliava o som musical ás suas obras, era alguém que tinha sinestesia. E como é magnifico aliar toda esta musica à expressão corporal, em oposição ás minhas obras mais "clássicas" das padronagens, as restantes são impulsos que tenho, quando não pretendo conter o meu caos, desta forma a musica, a expressão corporal tomam como posse de mim e fazem-me criar. Porque de vez em quando também é bom soltar um pouco e deixar ir é nesse contexto que surge algumas obras como as "Cordilheiras" onde o ritmo e as cores se fundem, ou o "N.B.W." onde as cores como que brincam umas com as outras. Agora, de momento encontro-me nas Sonoridades, uma série de linhas que se laçam e entrelaçam em movimentos musicais, todos inspirados na exploração de temas tocados ao som de violinos.
É uma espécie de fantasia musical onde crio cenários na minha própria mente e onde inclusive, me influencia na escrita. Esta sonoridade permite-me viajar para muito longe, para além do espaço tempo, o ritmo é algo que sinto com se estivesse contido dentro de mim e necessitasse sair da forma mais energética e expressiva possível. É como o batimento do coração, algo intrínseco a mim, uma essência pulsante sem dúvida. É o meu inconsciente a manifestar-se na linha, no traço nas cores vibrantes, não consigo arranjar palavras para descrever.
Experimentei vários instrumentos musicais, ainda frequentei inúmeras aulas de cavaquinho (um instrumento muito similar ao ukulelê). Mas com o decorrer dos anos foi, sem duvida o violino, que me prendeu no sonho, no imaginário, que fala por mim, é uma voz melodiosa que me lança e se funde comigo.
Desde muito nova que sempre me encontrei ligada á musica e ritmos e danças. Aos cinco anos andava em ginástica rítmica, com fitas coloridas que acompanhavam os movimentos. Talvez tenha sido estas influências de quando era tão nova que me levaram na adolescência a fazer malabares, também com fitas e mais tarde essas transformaram-se em fogo, animando assim as noites ao som de jambés e guitarras. Eu brincava com o fogo literalmente.
Lá estou eu a divagar pelas minhas criatividades, ou pensamentos perturbados como alguns gostam de me referir. Sejam, são eles que me dão vida, é um amor incondicional que tenho pelas expressividades que crio é como se fossem uma extensão de mim, sem eles a vida não teria o "propósito". Mas esta é apenas uma das minhas influências criativas, tenho inúmeras que se fosse a descrever daria uma explanação bem complicada de se entender e de se ler, com certeza que quem os lê morreria de tédio, mas estou aqui para deixar o testemunho da minha vivência e assim continuarei - sem juízos de valor com a maior honestidade que conseguirei ter. As minhas criações e expressividades sempre foram o meu refugio e é como se adoecesse se não as pudesse expressar, é o monstro que carrego dentro de mim - vai lá alguém entender...
Esta jornada pela minha mente irá muitas vezes se contradizer, porque á medida que avançamos na idade e com leituras e estudos vamos alterando os nossos pensamentos, modificando, ganhando novos conhecimentos, fazendo ver as coisas de outras perspetivas.
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