Hoje é domingo, e doravante, serão períodos onde não escrevei nestes dias - o descanso também é necessário, depois de uma semana reflexiva e trabalhosa.
No decorrer das minhas criações atravessei inúmeros períodos e, continuo a atravessar. São viagens a interiores muito profundas, estudos para tentar compreender, as obras que criei representam cada um desses períodos, daí não conseguir ficar agarrada a um "estilo" ou "moda" - confesso que nunca assim fui na minha vida. Os aprofundamentos levam-me a contrariar a minha forma de pensar, constantemente. Por vezes esta situação, conforme já ouvi, pode levar ao erro de pensar que tento agradar quem em rodeia. Isto não poderia estar mais errado, é claro que não crio conflitos com outras opiniões, respeito-as, simplesmente não entro em discussões, nem opino - prefiro sempre criar, aperceber-me dos sentimentos e estruturar uma obra.
Todos nós nos agarramos a portos seguros, pontos de referência, inspirações, ideias, etc. para seguirmos em frente com os nossos propósitos - poderia referir que a vida sem estes seria muito conturbada e poderia levar à depressão e outras questões. Todos nós, para seguirmos em frente, agarramo-nos a algo nem que seja inconsciente ou impossível, diário ou a longo prazo, para caminharmos neste espaço/tempo que aqui estamos. E não há mal nenhum trocarmos de propósitos e objectivos, desde que faça sentido para nós.
Tenho a imagem na ponta dos dedos, imagino cenários, observo a sociedade, observo o ser humano, o que os faz movimentar - o que acreditam e o que rejeitam - crenças tão profundas para serem funcionais. Eu tenho as minhas, estão bem escondidas e pouco verbalizadas, são expressadas. Quando olho para uma tela em branco, surge uma nova crença, uma possibilidade, uma visualização, ou uma outra questão qualquer. No final, quando terminei, a obra pertence aos gostos, opiniões, manifestações e agregações de quem as vê. Ela, é minha, antes de a expor, escrevo os meus estudos e formulações do que quis representar e após exposição, agrego mais um pouco, do que é construtivo.
Devido a não possuir um "estilo" ou depressa ser atraída a outras questões compreendo que por vezes o observador se identifique com alguns períodos meus, e noutros nem queira saber. Quando vejo e reflito sobre a minha própria vida, sei, que também assim o sou. Não que desprenda completamente de determinados estudos ou períodos, apenas, a vida corre, flui, move-se para outros sítios - e nós, como seres em constante construções (e destruições), movemo-nos junto. Ou contrariamos, isto aqui, cabe a cada um.
"São períodos que vêm e vão, para dar lugar e espaço a outros que virão e irão... assim se esboça uma construção, um caminho com as suas derivações. Assim vamos deixando na vida as nossas escolhas, em função de umas perdemos outras e vice-versa. É seguir em frente e aceitar que este foi o caminho que escolhemos, fazer as pazes com ele."
Irina Marques
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