Muitas vezes acontece que, com querer apenas organizar os teus processos de aprendizagem, ainda te perdes mais. Nestes registos que tive ao longo dos anos e escrevi, hoje, não penso da mesma forma. Será que valerá a pena registar os pensamentos ou aprendizagens?
A escrita sempre me serviu de guia para entender os processos pelos quais passei, contudo, de que vale a pena os registar se quando voltas a olhar para esses registros só os pretendes reformular porque já não estás no mesmo sitio que te encontravas quando os escreveste, este "conhecimento" valerá a pena ser partilhado? Com o tempo tenho visto que não. A partilha é feita no dia a dia, com pessoas para pessoas, no toque e no agir, no interagir - tem sido muito do que tenho aprendido no exterior.
É gratificante o contacto com outros artistas e pessoas e a interação com o trabalho que tanto nos esforçamos em criar, ouvir as opiniões, as críticas, outras ideias, ajuda a crescer e fundamentar e até mesmo a alterar alguns processos pelos quais passamos, muitos deles, passam exatamente pelo mesmo processo que nós e compreendemo-nos mutuamente. Determinadas críticas, podem ser muito construtivas e até mesmo divertidas, relembro uma situação de dois senhores que passavam pelas minhas obras e perante as minhas ilustrações comentaram:
- Já viste? Compras uma peça de decoração e colocas aqui com a mesma imagem que vêm nela, acrescentas uns euros e tens aqui coisas para vender.
Automaticamente o meu cérebro pensou "mas será que já me encontro a fazer peças tão profissionais que já parecem feitas por uma maquina?", aqui compreendi muita coisa sobre mim e sobre a sociedade. Normalmente agarramo-nos aos pensamentos negativos e aquela crítica negativa que alguém faz, está estudado cientificamente que o cérebro tem tendência a assimilar mais depressa um estimulo negativo do que positivo, mas o que ocorreu internamente foi ter assimilado algo negativo e como resposta brincar com a situação. Claro que eu não conhecia os senhores de lado nenhum, isso por si só ajuda na forma de pensar. Se fosse alguém que tivesse conhecimentos mais aprofundados sobre arte, artesanato ou até mesmo algo criativo esse comentário realmente poderia ter significado algo. Mas se o fosse, essa pessoa também saberia perfeitamente discernir que o que ali estava exposto tinha sido fruto de trabalho por parte da pessoa a expor e teria uma mente mais ampla no sentido de entender a diferença entre uma obra feita manualmente e outra feita por uma maquina. Entretanto, inúmeros pensamentos sobre como deveríamos educar melhor a nossa sociedade surgiram, pensamentos sem soluções aparentes. Estes pensares levaram-me a colocar questões se valerá a pena continuar a escrever, pelo menos, estas pequenas situações que se passam no dia a dia. Num local cada vez mais indiferente e que somos bombardeados de assuntos que nos fazem tornar cada vez mais indiferentes até perante assuntos considerados graves. Neste mundo tão vasto da internet um qualquer pensar não faz ninguém questionar, ninguém conhece o nosso passado, muito menos as nossas experiências e, acima de tudo, o que nos leva a pensar que estamos a contribuir com algum "conhecimento" para alguém? E provavelmente foi essa mesma indiferença que os dois senhores que passeavam pelo local de exposição tiveram, provavelmente foi essa indiferença que tive perante aquele comentário.
Creio que estas e muitas outras, serão questões que ficaram sem respostas, neste mundo perdido e vasto em que pouco representamos. Contudo, sabemos representar muito para aqueles que partilhamos o dia a dia, e sabendo que contamos com poucos, esses, fazem valer por milhões.
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