"Tentei arranjar aqui, trocar ali, retocar acolá... Tudo uma questão de toque."
Confesso que durante muito tempo não gostei de desenhar as mãos humanas, por mais que tentasse, elas, não me saiam como queria. Não as compreendia, como funcionavam em conjunto o seu comportamento em equipa com os cinco dedos. Com o tempo, a minha visão modificou-se, comecei a observar atentamente como eles comunicavam, como saiam da palma e para que lado se estendiam.
Observei as minhas próprias mãos, analisei-as, e percebi a sua anatomia, ligação e sua poesia. Criei inúmeros textos em que o toque com suas analogias estavam presentes. Sempre fui de criar e escrever os meus pensamentos soltos, já desde a altura do secundário que assim era, gostava de experimentar várias abordagens - ainda hoje assim o sou. Escrita, poesia e outros materiais de suporte sempre acompanharam os meus estudos.
Tudo uma questão de toque
de linha que curva e recurva
contracurva
elo de ligação
conexão.
Sem noção recrio
uma mão
com cinco pontos de indicação
cada dedo,
sua expressão.
Numa mão cabe inúmeras
coisas, que não são coisas,
tenho uma mão cheia
de linhas
que o oráculo me diz
saber interpretar
não acredito em nada disso.
Na mão, ao toque
tocamos um no outro
delicadamente
suavemente
com linhas de expressão
feitas a carvão.
Ver além da mão
anatomia
postura
cruzamentos
tudo na ilusão do olhar.
Irina Marques
Uma questão de toque
Oficina de Artes, 1999
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