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Foto do escritorIrina Marques

Vários poemas, Escrita Poética (I)

Primeiro poema


Vocês não ouvem a frequência dos meus gritos

algures longínquo num espaço tempo

descartamos, reciclamos, jogamos fora

- nada

nem solo, nem água, nem fertilizante


Palavras: construção, ciclos, existência, incerteza


Ciclos que brotam

da minha voz distante

por vezes aguda

outras, grave.


Quão grave pode ser?

Gritos, surdos, sussurros

sonoridades

vazias ou cheias

acordes como colcheias

ondas de frequências.

Falo mas pouco som emito

círculo nos ciclos

movimento-me em todos eles

usufruo de cada momento

com o sentimento

cíclico, um dia feliz

para no outro ser invadida

pela tristeza mais profunda.

Consegues ouvir?


Dos tempos que correm

das narrativas

contadas, passadas, das palavras

construções

derrocadas de memórias

passadas na oralidade

com o intuito de virar histórias

desmoronamentos

cicatrizes terrestres

que se renovam

constantemente

que ficam somente períodos

dos que ficam e não vão.


Conseguimos fazer florescer

do solo a coerência

de uma explicação

quando no fundo

bem no fundo

não sabemos - nada

não compreendemos - nada

somos - nada.

De quantas partes partimos

e com que rumo?


Sabemos espalhar ao vento

para as palavras ecoarem?

Será que elas espelhariam algo?

Ou traduziram algum som?

Gritos abafados, em que tom?

Será que conseguirias ouvir

a minha pronúnciação

com estes ciclos frequenciais?


Segundo poema


Contamos as noites em claro e os dias a escuro

Ah e se mente! E cala, e consente.

E no fundo, quem somos nós?

Num lugar qualquer da memória.


Palavras: morte, silêncio, narrativas, dia-a-dia


Tumultuosos são os dias que passam

numa adição de qualquer coisa

que não chega a terminar

e logo quer chegar a um outro lugar

vemos os pores de sol e amanhecer

diariamente até um amanhã qualquer

não chegar mais.


Infinitamente conto as mesmas narrativas

desgastadas que de tantas vezes contadas

caem em desuso

mostro a realidade descontinuada

da minha imaterialidade comunicativa

palavras não são rochas para esculpir

contudo podemos talhar

a mensagem passada.


Calo os meus pensamentos abusivos

abafando os seus gritos

que me perturbam,

peço-lhes silêncio

mas eles não me obedecem

e nas suas inquietações

disputam as minhas perturbações.


No fim, para que serve?

Todas narrativas a que nos agarramos

todo o desgaste sentimental

que carregamos no corpo.

Onde nos dirigimos?

No final, todos os tumultos

e todas as inquietações

serão jogadas ao chão,

cobertas com cascalho e areia

para nunca mais ninguém se lembrar.


Poesia inspirada em conhecimento adquirido no Laboratório de Expressão Poética, em que tento por em pratica, alguns métodos novos, aprendidos. Saindo da zona de conforto, porque a aprendizagem passa por isso. Agradeço à Marta Moreira pelas aulas e partilha de conhecimento.

Irina Marques

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