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Foto do escritorIrina Marques

A Pintura Metafísica

É uma corrente pictórica italiana que tem como principais intervenientes, Giorgio de Chirico e Giorgio Morandi que já começa os seus ensaios deste novo estilo desde 1910, presente nas obras “Enigma do Oraculo” (1910) e “A Torre” (1911-12), é uma recusa ao futurismo tanto nas suas soluções formais como na sua ideologia nacionalista e politica. Estas duas obras já contém elementos metafísicos: colocação exterior à temporalidade, negação ao presente e da realidade natural e social. A sua pintura dirige-se a “outra realidade” metafísica, para além da sua realidade. Os cenários projetados pelo pintor entre 1910-15 definem um novo estilo que terá seu auge entre 1917-20.

Nas suas composições possui elementos arquitetónicos (colunas, praças, torres, monumentos…) juntamente com elementos do mundo industrial, simultaneamente, acabam por causar um certo desconforto. As dimensões dos edifícios são enormes relativamente ao ser humano, estes últimos, carregam consigo um forte sentimento de solidão e silêncio. São meios-homens, meio-estátuas, vistos de costas ou bem longe. Quase não é possível entrever rostos, apenas silhuetas e sombras, projetadas pelos corpos em construções.

As atmosferas são de melancolia e enigma presentes nas obras “Enigma da Hora” (1912), “Melancolia de uma Bela Tarde”(1913) e “Melancolia Outonal” (1915). Incorpora elementos presentes nas naturezas-mortas (como luvas, bolas, frutas, biscoitos, etc.) desta forma reforça a ideia de deslocamento e a sensação de irrealidade que rondam os trabalhos: as peças não se articulam, antes, parecem se repelir “O Sonho Transformado” (1913), explora os efeitos de luzes misteriosas, sombras sedutoras e cores ricas e profundas, de plástica despojada e escultural.

Entre 1914 e 1915, a temática dos manequins começam a entrar entre as temáticas do pintor, estes, passam a ser explorados, resultado são as obras “As musas inquietantes” (1916) e “Heitor e Andrómaca” (1917), consiste numa fusão de homem-robot e estátua. Os manequins enfatizam o carácter enigmático e o sentido onírico das construções De Chirico. Mas antes que qualquer outro sentido, são formas geométricas que cercam e definem os corpos dos manequins. O pintor introduz ainda, instrumentos da construção. compassos, réguas, esquadros, habitam o conjunto da obra “Ansiedade da Vida” (1915).

As fontes de invenções metafísicas, para este pintor, são as filosofias de Nietzsche, Schopenhauer e Weininger, assim como as imagens mórbidas do pintor suiço Arnold Bocklin e elementos fantásticos das águas-fortes do artista Max Klinger. Há quem sugira que se ainda encontram matrizes da pintura de De Chirico na cultura clássica de Nicolas Poussin e Claude Lorrain, e o romantismo do pintor alemão Casper David Friedrich.

Outro pintor de referência é Giorgio Morandi, notável por suas naturezas-mortas, onde buscava a unidade das coisas do universo. Conferiu imobilidade e transparência de formas, recorte intimista e atmosfera de luz cinza-clara às naturezas-mortas que pintou usando como modelos frascos, garrafas, caixas e lâmpadas velhas. São assim suas obras como “Still Life” (1946) e uma sucessão de obras com temática de naturezas mortas.

Carlo Carrá, pintor futurista, adere à poética metafísica em 1917, no decorrer de sua pesquisa científica, observa-se um ênfase na investigação sobre a forma e com extensão de recuperação da integridade dos objetos, desta forma, encontra apoio no grupo de artistas reunido em torno da revista “Valori Plastici”. Suas obras “The oval of the apparitions” (1918) e “Penélope” (1919) possuem algumas características cubistas (uma inspiração que vai ser uma constante).

Devido à aproximação insólita de objetos díspares e uma preocupação com o universo onírico presentes na arte de De Chirico e Carrà, vão ter forte impacto no dadaísmo e no surrealismo.

A pintura metafísica de Giorgio de Chirico antecipa elementos que depois aparecem na pintura surrealista: padrões arquitectónicos, grandes espaços nus, manequins anónimos e ambientes oníricos. Do dadaísmo, os pintores surrealistas e, com eles, De Chirico, herdam diretamente as atitudes destrutivas e niilistas. O que o próprio artista qualifica de «pintura metafísica» corresponde à necessidade de sonho, de mistério e de erotismo próprio do surrealismo. É assim, desde que este movimento vê a luz, a obra de De Chirico conheceu um êxito considerável.

- Texto por Irina Marques

Carlo Carrà, Oval das Aparições, 1918. Coleção particular.


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