O cubismo surge como uma tendência artística moderna, em 1906, segundo este movimento, o quadro ou escultura devem ser considerados como acontecimentos plásticos independentes da imitação da natureza. Sua denominação cabe a uma observação feita por Matisse, aquando observou uma paisagem de Georges Braque, no Salão de Outono de 1908.
Em 1908 forma-se em Montmartre, colina nos arredores de Paris, onde moram Pablo Picasso, Max Jacob, Juan Gris, o grupo do "Bateau-Lavoir", que além desses, compreende Guillaume Apollinaire, André Salmon, Maurice Raynal, Gertrude Stein , Leo Stein, entre outros.
Surge num contexto marcado por uma série de avanços científicos, desde a descoberta das ondas magnéticas, descoberta dos raios x, a telegrafia sem fios e a interpretação dos sonhos de Freud. Todas estas descobertas trarão consequências de uma forma ou outra, para esta nova arte. É um período de descontentamento com o positivismo, determinismo e materialismo, daí que surge a critica ao cientismo, a polémica espiritualista e a tentativa de alcançar o primitivismo.
Tem de base, referencias nos fauvre, no que respeita á desvalorização da tridimenssionalidade, uso de cores puras, da arte ibérica, africana e japonesa, também na obra de Cézanne “Grand Baigneuses” (1900-05). Cézanne apresentava o princípio que tudo na natureza podia ser reduzido ás formas geométricas básicas (cilindro, cone e esfera), a simplificação de planos. Matisse, ao entrar em contacto com sua obra referiu-se a “petits cubes”, e juntamente com um crítico de arte vem a utilizar, pela primeira vez num artigo, o termo “cubisme”. No entanto, os cubistas foram mais longe do que Cézanne. Estes, passam a representar os objectos com todas as suas partes num mesmo plano, como se eles estivessem abertos e todos eles apresentassem os seus lados no plano frontal em relação ao espectador.
Rejeitam a representação da projecção para além do plano do quadro, cria-se um campo pictórico que aceita a materialidade objectiva da tela, e onde se desenvolve uma superfície em que os objectos plásticos se situam e se interrelacionam. Em 1912 surge a técnica inovadora da “collage”, tentando demonstrar que a obra pode ser um objecto capaz de sensibilizar o observador, apenas pela simples disposição, dos elementos materiais que a compõem, por outro lado, não é necessário que estes elementos tenham qualquer ligação entre si (areia, vidro, espelho, tecido, etc.), podendo mesmo ser objectos do quotidiano (fragmentos de papel de jornal, papel de parede, etc.), agora possuindo um valor estético. Tanto as letras, os números ou as texturas, pintado ou impressos sobre a tela aparecem-nos agora como elementos estéticos ou formais.
É importante uma referência á obra de Pablo Picasso, “Les Demoiselles d’Avignon” (1907), que ainda não é uma obra cubista mas já apresenta valores que vão permanecer, é um princípio de uma reflexão de Picasso, de uma fase pré-cubista ou fase cézanniana (inspiração na pintura geométrica de Cézanne). Apresenta uma falta de unidade na composição e 3 planos que se apresentam de tratamento diferente (visível através da figura humana) – as figuras não têm equilibro, ora seu corpo funde-se com a cortina ora encontram-se em posições impossíveis. Mesmo o corpo, possui um tratamento diferente em 3 momentos e dá-se maior relevância á mascara do que propriamente ao rosto. A partir desta obra retiram-se importantes valores: a fragmentação, a ausência de modelado e de unidade de composição, a estrutura geométrica, o uso de diversos pontos de vista e o uso de dimensões e proporções não realistas.
Pode-se apontar 3 fases distintas do cubismo. Entre 1907 e 1909, a fase cézanniana ou pré-cubista, onde se nota particular influencia da obra final de Cézanne, especialmente as suas paisagens na obra de Picasso e Braque. È uma fase anterior ao movimento cubista. Tem como temáticas a figuração humana, as naturezas-mortas e as paisagens, nestas ultimas demonstram já uma tendência para tentar uniformizar o fundo, embora o volume ainda seja indicado. É uma fase em que as obras de Picasso se confundem com as de Braque. São exemplos deste período as obras, “ três figuras sob uma arvore” (1907-08), “Três mulheres” (1908) verifica-se um pouco das lições tiradas da “Les Demoiselles d’Avignon”, onde apresenta o uso da mascara, as figuras inacabadas ou que se fundem com a natureza envolvente, é a criação de um novo cânone, todas estas obras pertencentes a Picasso. De Braque temos, “Grande Nú” (1907) que após ter contacto com a obra de Picasso faz o mesmo tipo de rostos-máscara e os mesmos tipos de traços, “Casas em L’Estaque” e “Viaduto em L’Estaque” (ambas de 1908) mostra uma tendência para simplificar os planos aos motivos geométricos básicos.
Nas obras “Natureza-morta com garrafa de licor” e “mulheres com livro”, de Picasso (ambas pertencentes a 1909) começam a mostrar indícios de uma fase de transição entre a Fase cézanniana para a fase analítica, começa a haver uma aproximação entre o 1º e 2º plano, retira-se os volumes aos objectos e pretende-se dar indicações do objecto todo num 1º plano, desta forma rebate as várias facetas do objecto para o 1º plano.
Na fase analítica, que se dá entre 1909 e 1912 começam a esbaterem-se os volumes e dão-nos uma indicação do ponto de partida, os objectos são desmontados nos seus componentes, regista todos os seus elementos em planos sucessivos e sobrepostos. São exemplos deste período a obra “Retrato de Ambroise Vollard” e “Rapariga com bandolim” (as 2 de 1910) de Pablo Picasso, caracterizam-se pelas sensações de estilhaços, intercepção dos planos, a paleta muito reduzida que produz uma sensação de quase monocromia, o facetamento mas há indicação do objecto em causa. Também do mesmo pintor, “Garrafa de Rum” (1911) inclui caracteres tipográficos, são duas linguagens em paralelo (escrita + pintura). De Braque, neste período temos a obra “O português” e “Homem com violino” (1911-12), em ambos os casos recorre à representação das formas no espaço e representação de um objecto a partir de diversos pontos de vista simultâneos, usa as lihnas rectas e segmentos de circunferência em intercepção, corta planos, reduz a paleta de cores a verdes ocres e cinzentos e junta dois tipos de linguagem (escrita + pintura).
Outro pintor de relevância foi Juan Gris que em 1912 pinta “Retrato de Picasso” e “Homem num café”. Este pintor difere um pouco dos anteriores, é mais sensível aos aspectos decorativos e estéticos, suas imagens são mais apelativas ao decorativismo e aproxima-se, na sua paleta, às cores originais.
Na fase sintética, entre 1912 e 1914, há um uso mais recorrente a um método que se desenvolve a partir de 1912, a colagem. È a fase dos painéis colados (de materiais diversos) onde se liga a percepção visual á táctil, é todo um processo de construção. Outras características são: o abandono da análise do objecto no espaço, a excessiva fragmentação dos objetos e à destruição de sua estrutura, a ruptura com a figuração naturalista tradicional, o emprego de "sinais plásticos" livremente inventados. Uma obra que possui todas as características deste período é “Natureza-morta, com cadeira de palha” (1912) de Picasso, representa a síntese entre a colagem e o trabalho em pintura. É a junção de um objecto do quotidiano (um linóleo que representa a imagem da palhinha) mais a pintura a óleo, o papel, o desenho e escrita. Tudo é emoldurado por uma corda. Cria um conflito entre o que é escultura e o que é pintura. Do mesmo pintor, pertencentes a esta fase, é também “Violino e folha de música” e “Pauta de música e guitarra”.
Desta fase, Braque faz também a “Fruteira e cartas” e “Natureza-morta com letras”, cria um efeito engraçado com a imitação de madeira sobre o papel.
Merecem referência os três grupos diferentes de cubistas que se formaram a partir de 1912: o Orfismo, formado por Robert Delaunay que exaltava o papel dinâmico da cor; o núcleo do grupo original à volta de Gleizes e Metzinger estes que designavam como "Les Artistes de Passy"; e um grupo que se chamava "Section d'Or", com sede em Puteaux, nos ateliers de três irmãos, Jacques Villon, Marcel Duchamp e Raymond Duchamp-Villon, que na exposição participaram, além desses, Juan Gris, Jean Metzinger, Andre Lhote, Delaunay, Marcoussis, entre outros. O comum de suas pesquisas baseava-se na admiração por Cézanne e sua lição construtiva.
O Cubismo está pois a meio caminho entre a Arte Figurativa e a Arte Abstracta. O Abstraccionismo não é mais que, uma “tendência para a arte não figurativa”. De 1911 a 1912, o Cubismo tornou-se mais conhecido internacionalmente e impulsionou vários movimentos como o Futurismo, Cubo-Futurismo e Construtivismo. Mas Guerra de 1914 dispersa os criadores do movimento, cada qual seguindo seu destino.
- Irina Marques
Comments