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Foto do escritorIrina Marques

Realismo e Fotorrealismo


Realidade e realismo é algo presente para todos nós. Por os pés no chão, decifrar o obvio, encarar a realidade é uma forma de nos encontrarmos. Tudo tem sentido assim sendo. Olhar, assimilar, encontrar as explicações mais plausíveis.

O realismo surge na Europa simultaneamente quando a fotografia começa a aparecer também. Este aparecimento surge da realidade, artistas que começavam a observar a vivência do dia a dia, pondo de parte temas religiosos ou mitológicos de suas obras, que eram comuns até então. O caso de Gustave Courbet, pintava pessoas do dia a dia, locais do seu próprio tempo, mais corajosos e menos idealizados. Outros nomes mais conhecidos nos surgem, Jean-Françoise Millet que pintava cenas rurais, Edouard Manet suas primeiras obras têm traços fortes de realismo embora siga seu percurso para o impressionismo, Edward Hopper com seu realismo imaginativo, entre outros…

Realismo era encarar o mundo como ele era, em vez de como queríamos que ele fosse mas não se tratava de pintar o mundo como o real de uma foto – quem o fará será o naturalismo. Embora ambos ás vezes eram incorporados nos mesmos trabalhos. Nem o realismo nem o naturalismo era algo novo, já no passado inúmeros pintores eram influenciados por vivências do dia a dia e representavam-nas nas suas obras muitas sobre os olhos de componentes mitológicas ou religiosas, a base, a influência era em cenas comuns do dia a dia. Realismo surge de uma estratégia, entre muitas, que são combinadas com outras aproximações e aplicadas a uma inúmera variedade de fins.

Mesmo antes do aparecimento da fotografia, os artistas já utilizavam objetos reflexivos para auxilio das suas obras, suspeita-se que Johannes Vermeer, já utilizava algum mecanismo que se aparentava a uma camara obscura, suspeita-se que muitos artistas já tivessem determinados mecanismos para auxilio nas suas obras, assim como Caravaggio. O que acontece no século XIX foi a criação de químicos que permitiam que estas imagens fossem fixadas. Assim que houve este aparecimento muitos artistas começaram-na a usar como suporte ás suas obras, ora para situações especificas, seja para pinturas sobre a natureza. Em contraste com o realismo surge a abstração, ela irá ditar grande parte do século XX, mas o realismo permanecerá em diversas formas e por diversas razões.

No século XX, artistas começam a criar pinturas em que a fotografia eram o seu suporte visual, este movimento irá ser conhecido como Fotorrealismo, os artistas fazem a reprodução da fotografia com detalhes incríveis. Este movimento foi mais visível nos Estados Unidos Assim como a pop-arte, o fotorrealismo faz questionar o que a arte deveria ser. Ela trazia temas, ás vezes cruéis e não artísticas do nosso dia a dia, situações de propaganda, comerciais e sociedade de consumo que tomava parte na vida americana depois da segunda guerra mundial.

Ás vezes os sujeitos ou assuntos presentes no fotorrealismo não são algo muito marcante, a técnica para os conseguir, essa sim, é. Os artistas não têm receio de usar as ferramentas que têm para conseguir alcançar os efeitos realísticos – podiam recorrer ao uso de uma grelha, uso de projetores ou slides. A fotografia começa a ser vista como uma ferramenta importante para os artistas, fixa um momento no tempo com os seus jogos de luz mas também nos mostra uma componente mais dimensional, como organizar um mundo de três dimensões num suporte a duas dimensões.

Muitas vezes, os artistas fotorrealistas começam a utilizar novas técnicas nas suas obras, com o evoluir da fotografia convencional, começam também a usar cores mais manipuladas, criam ambientes mais complexos, criam ambientes mais dramáticos com escalas diferentes que contrastam com a da vida real. E á medida que a tecnologia avança, os artistas apresentam-nos vistas hiper-reais, que ultrapassam as capacidades da nossa vista humana. A arte realista tem um vestígio de relacionamento dos objetos, locais e pessoas que descreve – mas indireto. O realismo que transmite pode não ser o realismo da experiencia vivida mas sim o real de uma fotografia física. Durante o processo o artista controle uma nova realidade, uma que temos que nos lembrar que não é uma janela mas uma rede complexa que podemos explorar de imagens, momentos, atos e traduções.

Podemos hoje em dia olhar a fotografia como uma enorme transformação, as imagens que nos passam a cada momento no nosso olhar – de amigos, alteradas, com filtros, outras creditadas. Existem também as imagem que nós captamos e pomos á vista. Este fenómeno está a alterar a forma como vemos as coisas e o realismo demonstra bem isso.

A visão é um processo e bem vulnerável a muitas influencias. Esta arte convida-nos a ver como o realismo entra nas nossas vidas e como diverge dela. Lembra-nos que não vemos a duas dimensões e desafia-nos a distinguir o que é real de virtual. Questiona como processamos a realidade, como a organizamos e também como mostramos a nossa realidade com os outros.


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