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Foto do escritorIrina Marques

Artista Plástico XI

Atualizado: 2 de dez. de 2024

Continuarei com esta série para quando me apetecer tecer consideração sobre as minhas obras. Hoje lembrei-me de um estado de espirito que me acompanha quando crio e ele chama-se - hiperfoco.


O hiperfoco pode ser muito bom porque consigo estar extremamente focada no que faço e tudo o que é exterior à elaboração de um trabalho desaparece falamos de ruídos, distrações, etc... É como entrar num estado meditativo (na falta de melhor termo) mas não é assim tão meditativo porque ideias e construções continuam-me a passar pela cabeça. Mas reutilizo esses pequenos rompantes no pensamento para transformar em arte.


É simples, digamos que me encontro a desenhar um circulo e foco-me totalmente na sua elaboração, mas quando estou perto de terminar esse circulo novas linhas começam-se a formar a partir daí então crio, e através dessas novas linhas, novas formas aparecem e eu crio, assim sucessivamente até algo muito estranho aparecer. O hiperfoco não me permite ouvir quem esteja a falar comigo, daí muitos dos meus trabalhos são feitos isolada, numa solidão com barreiras intrespassáveis. Enquanto estou ali dentro nada entra.


É um estado estranho de descrever porque pode ser confundido com concentração mas não o é. Concentração é talvez o eu tentar pintar o circulo mas tudo o resto não é concentração.

É o hiperfoco que me faz investigar, ir ao fundo as questões e arrumar com elas, ou, continuar por outros caminhos. É ele que me faz escrever este texto - sento-me na cadeira, ligo o computador, coloco os headphones (com ou sem música) e aos poucos o universo desaparece e um outro aparece no seu lugar.


Existe um pequeno reverso nesta condição, tão depressa esqueço facilmente determinadas coisas e circunstancias (apago completamente da memória, como se não tivessem existido), porque a atenção está tão focada numa nova coisa ou situação que esquece todo o passado - mesmo quando adquiri uma má experiencia. Outras vezes fico hiperfocada durante longos mas mesmo longos períodos de tempo numa obra ou trabalho, chegando mesmo a passar anos.


Acho interessante como as pessoas com deficit de atenção e hisperactividade dizem que o hiperfoco é um superpoder - eu sinceramente não o considero - não consigo ser multifunções e por vezes admiro pessoas que conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo. Para mim é um sentimento de exaustão. Mas demasiado tempo hiperfocada também se torna uma exaustão. Quantas vezes me esqueço de beber, comer, levantar da cadeira e estou horas e horas a fio super hiper concentrada no que estou a fazer. O mundo real desaparece.


O hiperfoco pode, com facilidade, se tornar obsessão mas como já sei trabalhar com ele, sei também como fazer que ele não se torne assim, iludindo com outras situações (por vezes uma obsessão pode ser facilmente reposta por outra). Por vezes temos que saber domar os nossos pensamentos e foco, a partir do momento que aprendemos isto, não caímos em muitas armadilhas da nossa mente.

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