Lá por volta dos dezanove anos, resolveu ir trabalhar, queria a sua independência, pensava. No fundo estava perdida, não sabia bem o que fazer com a vida - algo que a acompanhou sempre. Naquela altura, o pai de uma amiga sua, estava á procura de pessoas para trabalhar aos fins de semana no bar. Pareceu-lhe uma boa ideia para juntar algum dinheiro e pensar seriamente o que iria fazer com a sua vida doravante. Na altura, haviam várias opções: seguir para a faculdade (algo que ela não estava com cabeça, nem se achava capaz); trabalhar para juntar algum dinheiro e ver o que iria fazer com a sua vida; seguir o conservatório (um sonho muito recente, que por alguma razão achou que era um desafio, por isso, aceite).
É claro que na altura a sua cabeça não estava muito funcional, seus pais haviam-se separado e daí, toda aquela estrutura que estava habituada, havia-se desmoronado. Mas de certa forma diziam-lhe "Ainda bem que foi com esta idade e não mais nova" (as pessoas, tinham sempre alguma opinião a dar, nunca se ajustava ao que ela sentia). Nunca entendeu o que queriam dizer com aquilo, a dor era grande demais e, resolveu fugir - a trabalhar. Meteu na cabeça que não haveria de fazer nada que seus pais sentissem orgulho dela, não por egoísmo, mas porque não via o porquê de sentirem orgulho em algo que tinham construído os dois e de repente - foi perdido.
Pensou, seguir a faculdade iria ser um desperdício de dinheiro, pois não ia conseguir estar atenta nas aulas, os estudos não a estavam a satisfazer. Quanto ao conservatório, o grande sonho, passou-lhe. Os seus pais sentiam orgulho no que ela tocava, como tocava e na dedicação que tinha - logo, desistiu. Trabalhar, sim, parecia-lhe uma boa ideia.
Começou a trabalhar aos fins de semana, sexta, sábado e domingo e passado dois meses, surgiu-lhe a proposta de trabalhar todos os dias da semana. Não tardou muito até se tornar gerente do bar em questão, por apenas seis meses, que correspondeu a altura em que o seu patrão fez uma viagem para fora do país.
Enquanto todos os seus amigos saiam ao fim de semana, descontraiam, divertiam-se, ela, trabalhava. E levava o emprego muito a sério, com responsabilidade. Nesse período, muitas histórias passaram por seus ouvidos, sempre foi uma boa ouvinte e os clientes gostavam de falar com ela. Claro está, sempre mantendo uma certa distância. Foi nessa altura que as noites de insónia apareceram e nunca mais a deixaram em paz.
Mais tarde, seguiu a faculdade, na altura com um pouco mais de maturidade pois já havia trabalhado e sabia quanto as coisas custavam a fazer/adquirir. Poucas pessoas souberam desse seu episódio, tinha vergonha em falar que tinha andado perdida, o que sentia, o que lhe passou pela cabeça, mas com o tempo percebeu - foi mais um processo, as coisas foram, como tinham que ser. Aceitou e fez as pazes com o seu passado até porque se recordava de momentos hilariantes dessa altura, tinha algumas histórias para contar. Aprendeu a brincar com suas historias, muitas delas, tinham situações bem engraçadas.
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