top of page
Foto do escritorIrina Marques

Exposição Comunicação Inquietante hoje na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga

Atualizado: 12 de jul. de 2023




Existem inúmeras emoções que antecedem à Exposição. E estas emoções podem ser um pouco contraditórias, são mistos. Com o tempo tenho-me vindo a aperceber que cada emoção está ali para percebermos algo em nós, e é complicado desvendarmos o que cada uma nos trás.


Não me sinto à vontade com sessões solenes. Porquê? Porque não gosto de falar de mim perante o público. Eu sou aquela espécie de eremita que está muito bem no cantinho dela sem chatear ninguém, sem ter grandes interações, todos os meus trabalhos são produzidos na solidão ou, na falta de melhor termo, numa espécie de retiro que crio para mim própria. E quantos pensamentos me passam pela cabeça nesses retiros. Ainda para mais tendo uma mente demasiado activa em que alguns deles tropeçam noutros, misturam-se, envolvem-se e de repente aquilo que era para ser passou a ser a derivação da derivação da derivação, tornando-se outra coisa qualquer, longe daquilo que deveria ser.


Nesta sessão solene não irei ter ninguém a conduzir a minha entrevista, serei apenas eu a falar, ou antes, divagar sobre as minhas obras com uma mistura de vivências, histórias e mais não sei... Tenho muita dificuldade em apresentar o que quer que seja e poderia levar um papel com texto escrito com pontos para me lembrar e desenvolver, mas até isso não iria resultar. Iria-me prender ao que lá estava escrito e sentiria que o que quer que tivesse a dizer era um guião, iria me esquecer na mesma de tudo o que teria a dizer, pior, bloqueava. Se ao menos em vez de falar, pudesse escrever... aí sim, sentia-me à vontade, se ninguém lesse. Contraditório não é? Mas é mesmo assim, gosto do meu canto e do meu espaço, sem interações, quando as quero, procuro-as.


Não deixo de pensar em quantas pessoas vão aparecer. E dentro de mim quero que não venha ninguém (porque evitaria de falar) mas também, quero que venham porque o meu trabalho merece voz. E quanto ao merecimento, aí então outras questões entrariam em jogo. Nunca me acho merecedora de algo, embora lute muito para conseguir esse algo. Claro que gostaria que as pessoas viessem.


É engraçado, ponho-me a pensar... Eu já tive uma exposição no local onde vou ter contudo fiquei no corredor, na altura pensei: "eu quero a sala de exposições", curiosamente, agora, estou nessa mesma sala e ver as minhas obras que requisitaram tanto tempo da minha vida expostas é sempre gratificante, dá um pouco de orgulho. Orgulho esse, que depois da exposição, passa. Estranho, não é? É um misto de um pico de entusiasmo e depois uma queda enorme ao ponto de estagnação.


Sei que logo, a minha comunicação inquietante vai entrar em jogo - vou-me perder, vou-me encontrar, vou-me desviar do assunto, vou-me tentar focar, vou-me distrair do que dizia, vai uma coisa levar a outra... Expor, é arriscar.


E com isto tudo não quero dizer que estou insegura ou que me desvalorizo, simplesmente gosto de falar das emoções sem grandes expectativas, simplesmente abordá-las como elas são. Nós, seres humanos, temos esta grande tendência de mostrar apenas os lados bons, o que conseguimos, e tudo ser maravilhoso. Existe, porém, tudo o que envolve estes processos para lá chegar - as dores, as incertezas, as inseguranças, as frustrações, os falhanços, tudo o que corre mal. E somos compostos dessas dualidades, mesmo que a pessoa aparenta ter a maior segurança do mundo, ela vai ter as suas inseguranças, pode é disfarçar muito bem, inseguranças e medos, todos temos.


Eu acostumei-me a ser "ermita", na falta de melhor termo, mas sei que procuro aceitação. Simplesmente não sei fazer algo para agradar e perder a minha personalidade, escolho este caminho porque me custa muito mais deixar de ser quem sou do que continuar na minha jornada do que pode ser bom para mim e não ser. E já me acostumei.


Logo, irei olhar para as paredes daquela grande sala, ver as minhas obras e senti-las em conjunto umas com as outras. Às vezes brinco e imagino o que elas falariam se tivessem voz, que conversas teriam entre elas e seria muito interessante pensar "o que é que as minhas obras mitológicas diriam às abstractas? Como é que os Arlequins ganhariam vida?" - mundos à parte.


O que antecede à exposição? É tudo isto, e muito mais...


Comunicação Inquietante

Irina Marques

Comments


bottom of page