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Foto do escritorIrina Marques

Influências artísticas

Picasso & Kandinsky

(republicação de um texto escrito em 2018)


Não escondo a grande admiração que nutro por estes grandes artistas. Seus trabalhos, suas constantes lutas, durante a vida, para quebrar com arte elaborada nos seus tempos, como muitos outros grandes artistas da sua época.

Em cada país surgiam agitações de novos tempos, novos movimentos artísticos rompiam por toda a parte – estes, rebeldes, queriam cortar com os padrões impostos pelas acadêmicas, fruto de uma sociedade que já não se queria repetir, buscava um novo ponto de vista. Um cunho individual na sua arte, muito, fruto do que se passava na história – as guerras, moldaram a sociedade e as pessoas. Na arte, esse processo foi tão visível, que o artista já não pintava o “bonito” e o real mas sim o sentimento, desconstruia e expressava de forma compreensível, ou não, o que observava ao seu redor, o real era algo mais. O mundo deixava de ser estável, certo, luminoso e natural.

Claro está, perante uma sociedade habituada a padrões naturalistas e realistas, estes movimentos experimentais de ruptura, com o que os artistas, não achavam certo e não se identificavam a fazer, não foram, à priori, bem aceites. Foram incompreendidos, provocaram desdém, dúvida, repulsa, desprezo.

Aqui, encontra-se o meu fascínio com estes artistas, eles não deixaram de fazer e desobedecer aos critérios só por não serem aceites na sociedade, não, continuaram suas lutas, cada vez mais ferozes e desconstructivas mostrando como o mundo realmente era, aos seus olhos, com um cunho da sua individualidade, através das suas pesquisas – desconstruiram o mundo, mostraram o lado mais negro mais desentendido.

É nesta altura que demonstro a minha admiração perante Picasso. Se eu pudesse ser um artista que vive de paixões seria Picasso, certamente, num mundo fantasioso de heterônimos, possuiria todas as suas características. A sua paixão pelas artes claramente, acima de tudo, a constante busca pelas inspirações, e, todos nós sabemos quais eram as inspirações do artista, foram inúmeras (cada uma delas com suas características) davam um estímulo, uma perspectiva. Mas, de inspirações curtas, Picasso sempre foi um insatisfeito, enquanto havia inspiração ele movia-se criava mundos, era completo. Deixando de haver teria que procurar outra, tornava-se indiferente ao que se passou, sabia se desligar emocionalmente, porque tinha um propósito, a arte, e essa nunca poderia morrer – era seu propósito

Simultaneamente, ainda no contexto de artistas que marcam o início do séc. XX, um outro artista prende-me num interesse genuíno, Kandinsky. Engraçado, esta pequena ambiguidade de possuir a mesma admiração por dois artistas que partiram de um ponto comum, mas traçaram caminhos tão diferentes chegando mesmo até serem rivais – o objecto, diferia as suas visões.

Kandinsky, não era fugaz e tão entusiasta como Picasso. Não era quente, rebelde, caloroso, muito antes pelo contrário. Kandinsky, com o qual também me identifico, era introspectivo, analista, observador, calmo, emotivo no seu ser, estudava o mundo, a música, a psique, estudava processos. Estudava muito, procurava, pesquisava, aprofundava, tentava saber bastante para criar - talvez um precursor da psicologia nas artes.

Deixou-nos com obras interessantíssimas de comportamentos de cores, de geometrias, padrões, da busca interna do artista não pelo objecto concreto mas sim pelo sensorial, o efeito provocado pelas sensações. Sua arte não era perceptível aos olhos só explicada e mesmo assim, se o fosse, perdia o propósito.

É neste tipo de balança que eu gosto de criar, possuo um Picasso e Kandinsky juntos, a argumentarem a contestarem ideias. Claro está, grande parte do tempo, nunca de acordo. Mas eu não os julgo, vou escutando o que me têm para dizer, vou sentindo o que me querem transmitir e vou decidindo que caminho quero tomar.

Estes, são quem me definem no momento, mas muitos outros habitam o meu ser, portanto, ficamos com um “…



Este texto foi escrito em 2018, já passaram cinco anos desde que o escrevi e a base da minha pintura continua a mesma. Contudo, e com o tempo, outras inspirações influenciaram-me, a vida mudou, os gostos mas a base continua a mesma.


Irina Marques

Escrito no antigo blogue It's my life, 2018.


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