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Foto do escritorIrina Marques

Linha ténue, Conhece a ti próprio

Atualizado: 12 de jul. de 2023

Já há algum tempo que não faço/crio mandalas. Tenho cerca de três obras que deixei pela metade, porquê? Porque o meu "estado de espírito" já não se alinhava com a criação das mesmas. Elas pertenceram a um período muito específico da minha vida, foi o começo de uma jornada interna, pelo que sentia, pelos pensamentos, pelas acções. Foi como se desvendasse aos poucos e poucos as camadas que me compunham. Numa altura em que me encontrava presa nos meus pensamentos, necessitei de ter algo que os desconstruísse e os aprofundasse.


Desenhei e criei mandalas de origem durante cerca de dois a três anos. Deram obras incríveis aos olhos das outras pessoas, contudo, para mim, o significado era outro. O que me fazia criar estas obras? O relaxamento. O mundo tornava-se leve. Os pensamentos eram diluídos e "domesticados". O meu hiperfoco eram a repetição de padrões e um certo controle do meu caos interno, focava-me na linha, no traço, no desenho e nunca elaborei uma mandala sabendo previamente como iria sair. Cada círculo que a compunha levava a outro círculo em volta com outros padrões e o próximo, interligava-se com o anterior e assim sucessivamente.


Cá dentro, o que se passava eram outros assuntos: cada pensamento era desconstruído, reformulado e arrumado - não em gavetinhas e caixinhas mas sim percebido - cada pensamento era o que era, apenas um pensamento. Precisei das mandalas e deste sistema para conseguir atingir um pensamento mais abstrato. Deixei de ser refém dos meus pensamentos e entendi que cada um trazia-me uma emoção. As iniciais eram de culpa de vitimização, de sentimento de fracasso, tristeza mas aos poucos perguntava porquê? E olhava com a maior honestidade para cada situação que me trazia essa emoção mais negativa.


Com o tempo, cheguei à conclusão que foi desgaste emocional e comecei a contrariar todas estas emoções negativas com o pensamento: Mas de tudo isto, o que trouxe de positivo? Escusado será dizer que inicialmente não via nada de positivo em determinados acontecimentos que me ocorreram, e friamente falando, ainda não vejo. Passei por situações muito graves. Mas pensava que apesar dessas situações alguma coisa positiva tinha que encontrar. E encontrei, uma constante foi algumas pessoas maravilhosas que me deram imenso apoio, outra, foi uma aprendizagem para que certos erros não se voltassem a repetir.


É claro que a nossa personalidade é algo muito forte e alterar determinados traços de personalidade é uma luta, que por si só, já se traduz num outro traço de personalidade - ambíguo este pensamento. Algo que me vim a aperceber foi o conceito de generalização e particularidade, é verdade que todos nós seres humanos temos denominadores comuns, mas nem tudo o que caracteriza alguém pode caracterizar um outro alguém. Temos as nossas particularidades. Cada pessoa é uma pessoa.


Agora, voltando ao assunto do qual me entrava a desviar, como de costume... As mandalas serviram para possuir um conhecimento profundo de mim, os pontos fracos, os fortes, e especialmente para uma maior aceitação de determinadas situações, assim como um corte radical com outras. E vejamos, corte radical porquê? Porque à medida que nos conhecemos sabemos melhor o que queremos e o que não queremos, o que nos faz bem e o que nos faz mal. E novamente, o que pode ser bom para uns é mau para outros. Foi no meio destes conceitos todos que descobri algo que desconhecia - toxicidade, e que havia pessoas que possuíam esta característica num grau muito elevado. Não mudamos pessoas assim, até porque chamam toxicidade a uma característica que as pessoas possuem que é uma grande falta de autoestima e amor-próprio, então o melhor é o afastamento e a indiferença, não procurar estes ambientes nem os frequentar, estes casos são situações para especialistas e terapeutas. E penso, que provavelmente quando frequentava determinados ambientes também tivesse lá o meu grau de toxicidade, quem sabe? À medida que nos afastamos começamos a sentir que a vida se torna mais leve. Rodearmo-nos do que nos faz bem e enchemos os pulmões de ar puro.


As mandalas serviram-me para ver o mundo, sentir e permitir-me a disfrutar dele. Não foram apenas repetições e repetições, foi um desvendar - sair de um comportamento automático e aprofundar, ir ao fundo, bem fundo e vir de lá com a experiência e conhecimento emocional e sentimental que teve o seu culminar no Caminho de Santiago, onde a minha vida mudou completamente. Tudo à minha volta se alterou, os meus relacionamentos, o meu trabalho profissional, as minhas participações - foi como uma nova fase da minha vida despertasse.


Quando fiz a minha primeira exposição, denominei-a de Linha Ténue, conhece-te a ti próprio, e sim, estou familiarizada com o Conhece a ti mesmo, inscrito na pronau do Templo de Apolo em Delfos. Porquê do uso desta frase? Talvez por este grande mergulho em leituras e filosofias e usos desta frase tão conhecida. Até porque ela demonstra muita ambiguidade, sua interpretação é tão vasta que ainda nos dias de hoje se discute. Esta Linha Ténue, pertence aos diálogos, à comunicação (inquietante, ou não).

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