O que vos posso dizer sobre mitologia grega? É algo que me fascina, muitas vezes aprofundo o meu conhecimento ou ideias em vários períodos históricos. Nunca vamos chegar ao cerne da questão, até porque, a sua representação pertence a um período histórico muito específico, contudo algumas situações ainda são bastante actuais. O encanto de podermos tirar as conclusões ou pressupostos e aprendermos o que os antigos deuses e heróis nos tinham para ensinar é algo encantador. Os ensinamentos baseados nos erros, nas tentações, na loucura, na demência, em actos heróicos, criaturas imaginárias e tudo isto trazido até nós contado por poetas em cânticos.
O Minotauro foi fruto de amores contra-naturais, filho de Posídon, Deus dos mares e Pasífae, mulher de Minos. Desse amor nasceu um monstro, com cabeça de touro e corpo de homem. Minos, era rei de Creta e aterrorizado e envergonhado, pediu a Dédalo que construísse um imenso palácio, composto por um emaranhado de corredores e salas onde ninguém, ao não ser quem o projectou, soubesse sair de lá. Logo se deu a construção do Labirinto onde foi encerrada a fera. Mas o Minotauro, possuía umas exigências que não eram fáceis de saciar, uma constante procura por carne humana. Desta forma, Minos impôs um tributo a Atenas para que de nove em nove anos (há quem diga que de três em três anos) lhes fossem enviadas sete raparigas e sete rapazes para serem sacrificados no labirinto.
E assim foi, quando foi a altura do sacrifício, os catorze jovens, incluindo o filho do rei de Atenas Egeu, o jovem Teseu foi enviado para o labirinto. Mas Teseu ia com outro intuito, o de matar o monstro. Ao chegar a Creta conheceu Ariadna, filha do rei Minos, pela qual se apaixonou, esta, decidiu ajudá-lo dando-lhe um novelo e uma espada sobre a promessa de que quando saísse a levaria consigo e se casavam. Ele assim o prometeu.
Ao entrar no labirinto, seguiu o novelo e foi sempre entrando, até que encontrou o Minotauro e cortou-lhe a cabeça, de seguida, voltou a seguir o novelo para trás e conseguiram sair do labirinto.
Levou Ariadna e os catorze jovens rumo a Atenas, mas ao pararem numa ilha para descansarem, este abandonou Ariadna. E devido à sua emoção de regressar a casa esqueceu-se de hastear a vela branca que tinha prometido ao pai que significava que tinham saído do labirinto vitoriosos. Egeu, sem notícias do filho, vira que a vela continuava negra, pensara que tinha perdido o seu herdeiro e num gesto de desgosto atirou-se ao mar ficando esse mar conhecido como mar Egeu.
É um mito fascinante, sem sombra de dúvida com muitas conclusões a retirar, cada um terá as suas, cada um verá o mito com o seu próprio olhar. Este mito não fica por aqui, mas, vou apenas focar-me no que andei a pensar. No meu ponto de vista, o Minotauro, não representa nem mais nem menos do que os nossos medos. Os medos que habitam as nossas mentes, que nos fazem duvidar, questionar, achar que não somos capazes - digamos que talvez as situações que arrumamos em gavetas ou não pegamos nelas e ficaram por resolver. E o que me leva a crer isso? Porque ele encontra-se dentro do labirinto.
O labirinto, essa encruzilhada no meu ver, poderá representar a nossa mente, esses caminhos que pretendemos descobrir, no fundo, o labirinto, é símbolo de auto-reflexão de conseguirmos nos centralizar de nos conduzirmos ao nosso interior e qual melhor labirinto senão o nosso cérebro? Ao conhecermos-mos e explorarmos por vezes deparamos com obstáculos difíceis, impasses, dificuldades para conseguirmos chegar onde queremos, por vezes até se torna difícil raciocinar, ultrapassar - medos - Minotauro. Explorar os recantos da mente não é fácil, pensar e chegar a algumas conclusões é algo bastante complicado. Mas quanto mais nos aproximarmos dessas questões e elas ficarem resolvidas talvez se traduza nos tais actos heroicos ou, uma paz com os nossos "monstros".
E aqui temos que ter em conta a palavra labirinto, porque em português esta palavra não possui uma característica que em inglês possui. Em inglês temos a palavra "maze" e "labyrinth", ambas com significados diferentes: a primeira representa um local onde percorremos com vários locais sem saídas que temos que voltar atrás e nos podemos perder, o segundo, representa um caminho sem a parte de se perder, apenas um caminho que possui uma entrada e saída e que vai-se desvendando enquanto é percorrido.
O caso do novelo para mim traduz-se na forma de raciocinar, no autoconhecimento, numa ordenação de pensamento - um guia. É conseguir raciocinar como um todo, com os medos arrumados, com as resoluções feitas, tendo-nos auto-centralizado tudo se torna fluído, novelo como algo que represente uma coerência, objectivo ou propósito.
Mas esta é apenas uma das muitas interpretações deste mito, cujas nuances, derivações e outros pressupostos não estou sequer a abordar. Infelizmente não temos cá a civilização antiga que os produziu para questionar o que queriam, ao certo, dizer com suas simbologias. Os mitos serviam como uma forma de aprendizagem, e nós? Que aprendizagem é que os dias de hoje podemos adquirir deles?
A propósito do mito, crê-se que o labirinto se situava em Creta e correspondia ao palácio de Knossos devido à sua estrutura labiríntica, as partes que restam hoje do grande palácio de Knossos - quase todo reconstruído no século XVII apontam para uma extraordinária perícia no projecto e organização. Possuía mais de mil quartos, com dois ou três andares, escadarias, corredores, pórticos e rampas próprias para veículos e, tudo isto se desenvolvia em torno de um enorme pátio central retangular.
Existem muitas outras culturas que nos referem labirintos e representam-nos na sua arte, este caso, talvez seja o mais evidente.
Por Irina Marques
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