"A multidão percorre sala a sala, considerado as telas "bonitas" e "sublimes". Aquele que podia ter transmitido algo ao seu semelhante nada disse, e quem poderia ter entendido, nada percebeu.
É o que se chama "a arte pela arte"".
A destruição da sonoridade mais profunda, que é a vida das cores, a dispersão inútil das forças do artista, eis a "arte pela arte".
O artista procura recompensa material da sua habilidade, do seu poder inventivo e da sua sensibilidade. O seu objectivo é satisfazer a ambição e cupidez.
No lugar de um trabalho profundo e cooperante entre os artistas, surge a rivalidade pela aquisição de bens materiais. Lamentam-se de um excesso de concorrência e de uma consequente superprodução. O ódio, a parcialidade, a inveja e a intriga são as consequências desta arte materialista, despojada de sentido.
O espectador afasta-se do artista, que numa arte privada de finalidade se recusa a ver o fim da sua própria vida e procura ir mais além. "Compreender" é educar o espectador e atraí-lo para o ponto de vista do artista. Anteriormente dissemos que a arte é filha de seu tempo. Uma arte assim concebida apenas pode reproduzir o que na atmosfera do momento é já um dado adquirido. Esta arte, que não contém em si mesma qualquer potencial futuro, que é um mero produto do tempo presente, e que jamais conceberá um amanhã, é uma arte castrada. Tem uma duração efémera e, privada da sua razão de ser, morre quando se altera a atmosfera que a gerou."
In Estudos, citações Kandinsky
Irina Marques
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