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Foto do escritorIrina Marques

A escrita - páginas da vida IX

Atualizado: 7 de nov. de 2022

Conforme já referi anteriormente, a escrita, neste período acompanhou o meu pensar. Era como se as questões que eu tinha cá dentro fossem expressas e ao manifestar estas questões, apareciam as soluções. Muitas das vezes soluções impossíveis de se concretizar, outras das vezes clarificações nítidas de caminhos por onde tinha passado e onde me encontrava presentemente. Era como, um desenrolar de pensamento, um “pensar alto”, tive várias abordagens a situações que tinham ocorrido na minha vida: expectativas, o tempo, amizades, comunicação, sociedade, comportamentos sociais, infância, adolescência e juventude, como a arte sempre me acompanhou, sentimentos, solidão, depressão, superficialidades, indiferenças, valores, mitos e crenças, relacionamentos, viagens e locais e aos poucos comecei a fundir a poesia com os meus estados emocionais.

Nunca me considerei, nem considero escritora, apesar de esta me acompanhar desde que aprendi a desenhar letras. Talvez na altura me dedicasse mais a romances e questões que nunca entendi. Sou mulher existe sempre esta veia meia sonhadora de finais felizes e como gostaríamos que as coisas corressem - mas com o tempo, o mundo foi-se descobrindo e desde os dezanove anos perdi essa componente romântica para me dedicar à investigação. E claro, com isto não quero dizer que todas as mulheres possuem esta componente romântica, não generalizo apenas refiro que em jovem, passei por esse período. Era pessoa de fortes paixões, constantes, o ser humano apaixonava-me, contudo, tudo mudou desde a idade referida. Automaticamente as minhas paixões modificaram, passei a ter interesse nos estudos, na investigação, tomar conhecimento, adquirir conhecimento - todas estas ferramentas davam-me combustível para seguir em frente.

Ainda conservo muitos dos textos escritos na altura, que vão desde crises existenciais a ilusões, a questionamentos que na juventude se faz. Antes de entrar para a Universidade estive quatro anos a trabalhar, um pouco sem rumo, sem saber ao certo o que queria, perdida. Neste período uma pessoa marcou-me e soube ver além daquilo que se passava, essa pessoa era um jornalista, o Sr. Pacheco, que era meu patrão. Ele curiosamente gostava das coisas que eu escrevia e discutimos sobre os mais diversos assuntos, sempre achou que eu tinha muito jeito para a escrita. Ora bem, isto dito por uma pessoa ligada às letras e conceituada era um elogio e as suas palavras tocaram-me, ele sabia comunicar comigo. Foi ele mesmo que me deu força para seguir os estudos e não ficar apenas pelo secundário, disse-me que eu tinha muito potencial e que deveria aproveitar e dedicar-me ao que gostava realmente de fazer. Na altura deu-me muito em que pensar e acima de tudo força, algo que não estava habituada a que me dissessem. Sempre fui acompanhada pela “distraída”, “cabeça no ar”, “lenta”... coisas que aos poucos, com maturidade, vamos deixando para trás.

Nesse ano, estudei com todas as minhas forças e consegui entrar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, no curso de História da Arte. Já que não tinha média para seguir Belas Artes segui algo que também me despertava muito a atenção, a vida e vivências dos pintores, a cultura e sociedade, a história em que se criava a arte, a sua simbologia e conteúdo - e isto marcou-me para a vida. A área em causa fazia com que constantemente estivéssemos a aprender, estudar, e a investigar. Agora, estava numa área que eu gostava, dediquei-me de alma e coração e isso reflectia-se nas notas - a aluna "distraída" e afins passou a ser uma das melhores da turma.

É claro que a minha distração não me abandonou, apenas aprendi a conviver com ela, aprendi a focar-me nos assuntos que tinha interesse. Enquanto muitas vezes havia histórias que se passavam entre colegas e notas eu dedicava esse esforço a estudar, já havia aprendido a não pertencer a grupos nem me inserir entre colegas. Nas aulas, focava-me a tirar apontamentos para não me distrair, a escrita serviu como âncora para o meu pensamento e foco, todas as aulas tirava folhas e folhas de apontamentos o que me permitia fixar mais facilmente a matéria e claro, não me escapei ao rótulo de “graxista” por realmente gostar do que estava a aprender e não fazer parte de grupos. Hoje em dia, quando olho para trás penso, ainda bem que assim foi. A escrita e as artes sempre foram as minhas melhores companheiras e agora a história e a vida dos pintores fascinavam-me, as minhas paixões eram os estudos em artes. Não eram os pintores e artistas seres de fortes emoções?


Irina Marques

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