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Foto do escritorIrina Marques

Período pré-mandalas/meditações - páginas da vida VIII


Após realizar a minha obra Soltei os Gatos, os meus pensamentos começaram a ficar um pouco confusos, essa confusão manifestava-se na arte. Tive que ponderar o que andava a fazer com a minha vida, com as escolhas que tinha feito - estava feliz? Tinha que começar a ter uma nova forma de pensar na vida. Sempre fui ligada à investigação, à procura de conhecimento, à escrita de artigos, confesso que durante muitos anos abafei essa componente e ela tinha culminado numa depressão.

Neste período uma amiga minha ia fazer 40 anos e tinha-me convidado para a festa de anos. Como andava num período um pouco confuso queria-lhe oferecer algo simples, algo que tinha conteúdo meu, mas que pudesse ser aplicado a ela, era muito ligada ao reiki e outras terapias, então, resolvi criar uma mandala.

Esta primeira mandala foi feita sem nenhuma referência, apenas criei o núcleo central com uma grelha e tudo se desenrolava a partir desse núcleo. Os traços e ornamentos que vinham não eram estudados, apenas queria transmitir uma harmonia e vibração entre curvas e linhas angulares. Uma camada, levava à próxima, da próxima compunha uma outra e assim sucessivamente. Quanto às cores, usei aquelas que me pareciam mais vivas, mais vibrantes. Assim nasceu a mandala Vibrações.



Quando a ofereci fiquei feliz com a reação dela, deu imenso valor ao trabalho, adorou - tanto que nos dias de hoje encontra-se emoldurado na parede da sala dela. Tocou-me o gesto, saber que um pedacinho meu reside com outra pessoa é gratificante, saber que um pedacinho meu diz algo a outra pessoa é muito positivo para mim.

Mas não foi nesta fase que me dediquei às mandalas. Ainda fiz alguns estudos primeiro, aos poucos os meus pensamentos iam aparecendo na minha mente, começava a tomar consciência de algo que tinha ficado adormecido e, ia explorando devagar.

Nesta fase tive que entender com o que mais gostava de trabalhar, quais eram os materiais, e descobri que sou muito versátil, todos os materiais serviam de meios de comunicação e, podia não resultar de forma a como eu tinha pensado, mas era uma questão de tentativa e erro.

Peguei nas minhas tintas a óleo que estavam paradas aos anos e tentei criar algo, nunca fui muito boa a trabalhar com óleo, não é uma tinta que seque rápido e como sou um pouco apressada acabo por ficar impaciente e fazer disparates nas telas e desenhos. Contudo, uma obra surgiu neste período - Miragens no deserto. Na altura, como acontece com quase todas as obras, não gostei do resultado final. Sabia que não tinha dominado a técnica de pintar a óleo e fiquei um pouco frustrada. Esta obra resume um sonho que eu tenho muito antigo que é ir ao deserto, é um local que me fascina, ver as estrelas à noite sem luzes à volta, e observar o amanhecer e anoitecer naqueles mantos infinitos de areia que se estendem no horizonte. Ele também representou um outro momento que eu estava a passar, uma espécie de despertar de consciência em que a névoa se começava a dispersar e começava a observar a vida com mais clareza, contudo ainda com alguns filtros, a minha imaginação ativa sempre fez parte de mim a névoa iria-me acompanhar sempre. O sol tinha que estar presente, para mim, é ele que nos traz clareza, que nos ilumina a visão, que nos dá força todos os dias. Agarrar-me a este sonho/imagem era fundamental para mim.



Aos poucos e, em simultâneo comecei a escrever sobre estas miragens e suas clarezas em textos para o blogue, visitava compartimentos antigos daí a miragem, porque ao visitar o passado apenas podemos confiar na nossa memória que fica marcada pelos nossos sentimentos perante a situação que passamos, e por vezes esses sentimentos na altura representam algo, mas com a maturidade vemos outras perspetivas, amplificamos a visão compreendemos outras realidades que nos trouxeram tal emoção. O sol clarificava esses momentos. Textos em redor de questões sociais e pessoais começaram a surgir.

Irina Marques

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