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Foto do escritorIrina Marques

A figura humana - contornando o assunto

Atualizado: 5 de jun. de 2023

Depois do treino de retirar as linhas de acção começou uma nova etapa, o contorno das linhas. Foram interessantes estes exercícios, sem propriamente desenhar a figura humana, desta vez, trocaria o captar da linha de acção pelo contorno exterior da volumetria do corpo.



Acho fascinante a analogia que o desenho do corpo humano, seus traços e contornos, suas visibilidades têm relativamente à forma como entendemos o ser humano. Se retirarmos/acrescentarmos camadas e camadas e contornos com suas linhas de acção - existem percepções e comparações muito curiosas. O desenho, sempre me vez ver esses traços, linhas, essas composições de seres humanos. Cada ruga, representa uma expressão vincada que essa mesma pessoa teve na vida, cada cicatriz, uma história, cada gesto, uma aprendizagem. Observar o ser humano para o desenho, não deixa de ser uma observação comportamental - quer se queira quer não.


Na altura em que concretizava estes desenhos, fazia inúmeras anotações, escritos e escritos sobre vertentes comportamentais, gestos ansiosos que captava nas pessoas que observava, outros, descontraídos. As emoções estavam intrinsecamente ligadas às posturas.


A fase que se seguiu foi - ver para além de - portanto, deixar a aparência e entender os músculos e estrutura do esqueleto humano, como se comportavam em conjunto e como se movimentavam. Novamente, os desenhos não passavam de 2 a 3 minutos, portanto, era bom ser rápida. A ideia aqui, foi captar apenas determinada parte do corpo, em foco, o tronco e a cinta.





Foram tentativas e tentativas, sem muito sucesso. A minha veia perfeccionista sempre considerou estes esboços algo vergonhoso, embaraçoso, contudo, continuei a tentar, a treinar, a ver, a observar, a tentar compreender e tive inúmeros desenhos que a frustração tomou posse de mim. Passaram-me pensamentos de desistir, que desenhar não era para mim, via pessoas a conseguirem fazer coisas tão perfeitas e incríveis.


Quando pegamos num lápis e começo a desenhar, tenho mais ou menos uma ideia do que vou representar, a situação é que, na minha cabeça, imagino um desenho perfeito, quando o elaboro e o vejo apercebo-me que o que ali coloquei estava longe de ser perfeito e (pior),longe de ser aquilo que imaginei...


Mas esta tendência de achar que não estava a fazer algo de jeito, como o tempo, começou a ficar para trás. Apercebi-me que as minhas expectativas eram demasiado altas, e comparava os meus desenhos a pintores com muitos anos de experiência - é claro, aos meus 18 anos, estava longe de alcançar a capacidade que tenho agora (que já passaram uns aninhos).


Compreender e apreender que criar algo do 0, olhar para a folha em branco e imaginar, construí-la com a nossa história, imaginação, captação, visualização, narrativa, etc... Requer paciência e dedicação, com os anos aprendi, que nem todas as pessoas são capazes de o fazer, e apreciam o trabalho de outros. O que para mim parece simples e intuitivo, para um outro alguém, representa uma grande dificuldade (e vice versa).


A nível da criatividade posso dizer que na minha vida nunca me esforcei muito, ela aparecia (muitas vezes sem eu pedir). E é claro, que quem é criativo tem o seu "grau" de loucura, pelo menos perante maioria da sociedade, pois a cabeça é treinada a ver coisas que não existem, que podem vir a ser, panoramas hipotéticos - e isso traz coisas para o bem e para o mal.


E, conforme disse quando iniciei este post sobre o desenho do ser humano, ia-me desviar do assunto. Lá estou eu a fazê-lo. Retomando à terra, o que se seguiu foram os desenhos finais, aqueles que juntavam toda esta aprendizagem.


(continua)


Irina Marques


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