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Foto do escritorIrina Marques

Alheamentos

Adoro criar em locais longe da multidão, sem confusões e ninguém a olhar - ver se a minha caligrafia é bonita ou feia, se dei muitos ou poucos erros. E com a pintura não deixa de ser diferente.


Eu não tive tempo de ler todos os antigos clássicos da literatura, nem muito menos de conhecer todas as obras de arte criadas, não me debato com poetas e filósofos e muito menos com algum especialista em qualquer coisa que seja - sou de poucas palavras verbalizadas e sei que qualquer conversa cai num grande poço sem fundo de argumentos, justificações onde as pessoas tendem a camuflar os seus sentimentos (grande parte das vezes anestesiados ou sem análise). Sou apologista da inteligência emocional.


Normalmente a minha parte emocional traduz-se na pintura - que carrega um período ou vivência, uma história. E o observador quando percorre a galeria ou espaço de exposição diz “que quadro tão bonito ou feio” - mas a obra é muito mais que uma questão de gosto. É como se por exemplo a minha “confusão mental” que representou o meu período dos dezanove anos em que os meus pais se separaram, eu não sabia o que fazer à minha vida, poucos amigos me apoiaram, é como me dissessem “que coisa feia”, sendo eu a vítima na altura de vários acontecimentos que me escaparam entre mãos. Como representar, expressar, contar, dizer uma amálgama de sentimentos que pouca expressão verbal tinha? Mas o observador, muito conhecedor da estética ao olhar, habituado a Monalisa e seus cânones de perfeição reverba “é feio”. Não argumento com especialistas.


Neste momento, encontro-me a trabalhar numa das obras mais penosas que criei até à data, tão penosa que apenas consigo elaborar cerca de cinco a dez minutos por dia e sei que para o dito observador vai ser uma daquelas obras “feias” - pois é claro que vai ser, representa um período terrorífico da minha vida que carrega uma história bem pesada.


Nestes anos que vão passando cada vez mais me apercebo, quando as pessoas não entendem uma situação, generalizam com rótulos tendenciosos - as pessoas são dotadas de uma falta de paciência em conhecer, aprofundar - por sem dúvida, ficar pelo superficial ou alheados traz-nos muito mais paz para suportar o dia a dia.


O que representa o que eu escrevo? Não sendo escritora representa a voz das minhas telas, aquilo que está contido nelas - e quando falamos de abstração - está lá, todo este pensamento ou lixo que me passa na cabeça (como já generosamente me apelidaram). A minha escrita é como um suporte teórico do que está representado e muitas vezes, contorno a questão de facto, porque há assuntos que apesar da “abertura de mentes” existentes na nossa sociedade, ainda são tabus.


No final de contas, eu represento apenas uma pessoa chateada... dizem.


Uma pessoa chateada

in Comunicação Inquietante

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