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Foto do escritorIrina Marques

Depois do Detox - páginas da vida I

Atualizado: 31 de out. de 2022

Em Abril de 2021 tive que dar um novo rumo à minha vida, necessitei focar-me no que realmente era importante para mim e o que eu andava a fazer de errado. Andava-me a sentir pressionada pelas redes sociais, provavelmente devido ao excesso de uso das mesmas. A questão não se prendeu apenas com as redes sociais, alguns locais também me estavam a parecer começar a entrar em universos bem estranhos.

Apaguei inúmeras contas que tinha e registos em diversos locais, houve alguns que custaram, pois, tinha amizades formadas ao longo de anos. Lá estavam amigos que tive a oportunidade de presenciar vivências e outros que se foram formando no contexto virtual. Inicialmente fiquei um pouco relutante em sair destes espaços, havia uma mistura estranha de receio com tristeza. Mas mentalmente sentia que alguns espaços não me estavam a fazer bem, no ano anterior havia passado por um período semelhante e, não só, apercebi-me que todos os anos passava por algo difícil de descrever - cheguei a questionar a minha sanidade mental.

Mas no ano passado, pus um ponto final no assunto, apaguei as contas e estive ausente durante alguns meses. Como um amigo meu dizia - precisei de fazer um detox. E foi exatamente isso, por vezes estamos viciados em determinados padrões comportamentais. Acordar, ver o telemóvel; ir para o computador, responder a emails; trabalhar, interromper para ver o telemóvel; postar qualquer coisa, ver feedback... entramos num loop que dificilmente conseguimos sair. E o pior de tudo é que o nosso cérebro assimila esses mesmos padrões. Há qualquer coisa no ser humano que precisa de ser aceite em determinados grupos ou pessoas, mas, nem sempre depois de ser aceite, verificamos que era o local ideal para estar. O que acontece é que, de fora, esse grupo ou comunidade parece incrível só que com o tempo e após nos encontrarmos inseridos, começamos a perder a nossa identidade e passamos a ser mais um a fazer o que o grupo faz - muitas das vezes nem concordando, mas existe sempre aquele sentimento de não querer ficar de fora.

Durante a minha vida, sempre tive uma grande dificuldade em inserir-me em grupos - pelo menos grupos demasiados homogêneos - muitas das vezes porque após lá estarmos inseridos começamos a ver uma falta de compreensão por outras pessoas que nos cria repulsa. Em nova passei por muitas situações que eu era a de fora, as constantes mudanças de cidade que tive fizeram com que as minhas raízes não se assentassem daí fosse fenómeno de estar exterior a um grupo constantemente. Na altura magoava a forma como era tratada, posta de parte, gozada, foram momentos que me marcaram no crescimento. Mas hoje em dia, vejo as coisas com um novo olhar, no fundo aprendi algo sobre mim nessas vivências e experiências, algo que marca muito a minha forma de estar na vida. Eu nunca gostei de pertencer a algo porque nos tira a individualidade então, sempre me dei com pessoas que também não pertenciam a algo. Fez com que as nossas ideias colidissem, houvesse discussão de diferentes pontos de vista, víssemos sempre novas perspetivas, procurássemos soluções, praticássemos a aceitação de novas ideias. E isso formou-me, faz parte de mim, ser uma pessoa que entende diversos pontos de vista e eu própria também os tenha - não há mal nenhum mudar de opinião, desde que faça sentido para nós está tudo bem, a vida do ser humano não é estagnada é uma constante descoberta.

Na altura que fiz o detox, não tinha pensado bem no que ia fazer, apenas comecei a ter sentimentos muito estranhos e não sabia se era o excesso de exposição, se eram coisas da minha cabeça que é demasiado imaginativa criava, ou se outra condicionante qualquer. Mas esses sentimentos estranhos tinham que se resolver.

Uma coisa foi certa, na altura que o fiz, consegui entender quem eram as verdadeiras amizades que tinha. Foi como se houvesse um desvendar em saber com quem podemos contar e quem está ali só porque quer seguidores ou outras situações que me passam ao lado. No decorrer da minha ausência tive quem me mandasse emails, telefonasse, mandasse mensagem no whatsapp... incrível como algo que precisamos de fazer - que no meu caso era desligar um pouco daquele sítio, foi sentido por algumas pessoas. Fez-me ver que o sentimento que eu tenho por outras pessoas na internet, uma espécie de preocupação e carinho, foi também sentida do outro lado. Na altura expliquei que estava num detox de redes sociais e as pessoas entenderam até, porque já tinham percebido que o conteúdo que andava a postar não era muito característico meu.

Quando senti a minha cabeça mais assente, resolvi voltar, não tinha apagado a conta, apenas suspendido. Algumas pessoas acolheram-me e isso foi tão gratificante, sentir que não somos apenas uma imagem na net, sentir que alguém sentiu realmente a nossa falta é bom, é um sentimento bom porque eram exatamente as pessoas que eu também tinha o mesmo sentimento. Obviamente que também houve outras que me deixaram de seguir, me apagaram, e nunca mais disseram nada - por mim tudo bem, foram aquelas que tive uma profunda clareza que não queriam saber de mim, para essas pessoas era apenas mais uma conta, um número, as coisas ficaram bem esclarecidas.

O momento em que fiz o detox foi deveras elucidativo, a par de estar sem consultar a internet dediquei-me a fundo nos meus trabalhos e como o velho ditado refere - quando se dedica de alma e coração a algo aos poucos colhe-se frutos - foi exatamente o que aconteceu, comecei a expor e a falar do meu trabalho. Contudo, agora sabia quem eram as pessoas no meio das redes sociais, que genuinamente gostavam ou apoiavam o meu trabalho e a minha pessoa, foi tão nítido que me fez virar algumas páginas e seguir com a cabeça bem desanuviada e deixar de parte outras andanças. Passei a dedicar-me mais às coisas que realmente gostava, melhorar os meus trabalhos, conhecer novas pessoas com interesses similares ou não, estudar, etc... E isso fez-me até escrever um livro, coisas que nunca tinha imaginado acontecer.

Ao contrário do que se pensa, não vejo as redes sociais como um espaço negativo, por vezes acontece, algumas pessoas cansadas do seu dia a dia vão para lá, descontar no trabalho árduo de outros - que usam a mesma plataforma para falar do seu trabalho ou dar a conhecer. Hoje em dia qualquer local para onde se mande portfólio quase exige que tenhamos conta online, nomeadamente numa plataforma social entre outras. Para tal, criei esta página, onde tenho concentrado todo o meu trabalho e onde envio newsletters para assinantes sobre futuros eventos e alguns contos, textos e estudos que não são publicados aqui neste espaço de escrita.

O tempo que despendia em alguns assuntos na internet foi focado em dedicação a mais tempo a criar (as minhas descobertas, imaginações e outras realidades) e não estar constantemente dependente do que possa ser ou pensar, aprendi a ter a liberdade que eu queria. E em alguns casos, aprendi mesmo a desligar, conforme no detox. Eu sempre afirmei que nunca fui muito seguidista e, continuo a não ser, conforme referi pertencer a algo faz-nos deixar de parte o mais importante que temos em nós - a nossa individualidade - e isso não tem preço.


"Things might have been different, but they could not have been better"

J.R.R. Tolkien



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