Em 2018 tive uma depressão, é estranho agora passados cinco anos, falar assim friamente no assunto. Antes da pandemia, falar em depressão, para muitos era visto como fraqueza. As coisas mudaram um pouco, não foi? Engraçado é que não foi a primeira vez que a tive. Em 2003 já tinha apresentado sintomas mais ligeiros, mas tinha sentido na pele o que era ter uma depressão. Na altura não dei muita importância, até porque, não me foi dito directamente o que era - apenas receitado medicamentos e toca a andar.
Uma coisa que me apercebi é que quando estamos com uma depressão não é apenas o psiquiatra que nos vai ajudar, a ajuda feita por psicólogo com psiquiatra talvez seja a melhor. O psiquiatra pode ajudar a amenizar os problemas com as receitas de medicação, mas o problema prevalece. Pelo menos, foi o que aconteceu na altura, existem muitas condicionantes que podem ter acontecido: eu não me sentir à vontade de expor os meus problemas; as consultas serem tão pequenas que não sentia receptividade; a frieza da pessoa que me estava a ouvir… Foi o que senti na altura. Hoje em dia a minha opinião sobre psiquiatras já mudou, apercebi-me que como tudo na vida é preciso encontrar as pessoas certas, as que estão lá para nós e nos querem ajudar e não estão preocupadas se a consulta dura uma hora. É preciso ter sorte com os profissionais que encontramos e nem sempre os mais conhecidos são os melhores, muito antes pelo contrário, por vezes a fama pode ser prejudicial.
Mas ainda antes de 2003, quando era bastante mais nova, já tinha apresentado sintomas de comportamento depressivo. Lembro-me de andar no colégio e ter ido a variadíssimas consultas com o psicólogo, não consigo precisar a data mas sei que era bem nova. Na altura esse psicólogo também não ajudou em nada e hoje em dia vejo-o por aqui e por ali a dar palestras e penso que na altura ele não me ajudou realmente a nada.
Mas conforme referi, ter uma depressão não é sinônimo de fraqueza, muito antes pelo contrário. Quando temos dores no corpo é costume nos dirigimos a médicos especialistas para vermos o que temos e o que se passa com o nosso corpo. Quando temos alguma desregulação no cérebro, vamos a especialistas para nos ajudar também, a parte cerebral é sem dúvida a mais difícil de ver e compreender.
Desde 2018, ao ser acompanhada por duas profissionais comecei-me a conhecer melhor, especialmente a aprender e estudar os meus estados sentimentais. Entender as minhas emoções, o que me levou a uma curiosidade tão grande que aprofundei os meus estudos. Longe de mim dizer que sei alguma coisa sobre o assunto, não, quem está com problemas deve consultar ajuda profissional, eles são formados, têm experiências e conhecimentos que podem ajudar. Eu apenas sei os estudos que fiz sobre mim, sobre os meus estados emocionais e que me tornei interessada nas emoções e comportamentos sociais.
Algo que compreendi é que muitas das vivências que trazemos connosco quando não são expressas acumulam-se e cada vez que acumulamos mais descobrir o âmago da questão torna-se cada vez mais complicado. É como, por exemplo, uma garagem: colocamos lá uma mesa, mas depois colocamos um colchão na frente, depois móveis, depois caixas, depois, depois, depois… até que chegar à mesa começa a tornar-se impossível. A mesa está lá, mas antes de chegar à mesa temos que retirar todas as outras componentes e por vezes até já nos esquecemos que a mesa está lá no fundo. Por vezes os profissionais ajudam a compreender, com outros olhos, a forma de alcançar essa mesa e vê-la de outras perspectivas - a partir do momento que observamos as coisas de forma mais madura aceitamos a mesa ter ficado lá no fundo e não precisamos de tentar continuamente alcançá-la.
Quando esta acumulação acontece em vez de vivermos estamos a sobreviver, a evitar qualquer tipo de ameaça, nesse estado esquecemo-nos do mais importante - viver. Começamos a fazer uma interpretação da realidade que começa a ser feita por filtros e não pela envolvência circundante e toda a paisagem envolta. É natural que sejamos marcados por eventos negativos, mas se procurarmos os positivos, eles ajudam. Precisamos de nos entender, procurar o âmago e aos poucos nos curar, precisamos de nos aceitar e aproximar de quem somos verdadeiramente, e especialmente o que sentimos. Somos mais do que as narrativas que constantemente contamos a nós próprios, somos mais que os comportamentos e as palavras que nos magoam.
Podemos seguir em frente, viver com o que está presente e saber que o passado foi algo que ficou para trás, não precisamos de o carregar no nosso caminho para a frente.
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