Sei que muitas vezes as coisas que escrevo neste espaço podem não fazer muito sentido. Alguém habituado a seguir um pensamento mais lógico e uniforme olha para os meus textos e pensam que estou sempre a divagar - talvez não estejam muito longe da realidade. Se existe lógica no que escrevo? Ora aí está uma questão interessante.
Este não é o primeiro espaço de escrita que tenho, comecei muito cedo a escrever pensamento avulsos que me passavam na cabeça. Sim sou o tipo de pessoa que tinha diários porque em vez de falar dos meus sentimentos e pensamentos com outras pessoas preferia registá-los em frases, o que fez com que tenha registo das minhas memórias e histórias escritas ao pormenor (demasiado pormenor) e agora possa-as ler e saber onde a minha mente andava naquela altura.
Continuo a escrever alguns artigos sem expor na internet, continuo a conservar as minhas histórias e pensamentos escritos em registos. Por vezes imaginárias outras vezes bem reais, aqui existe uma linha muito ténue. Apercebi-me a ler as minhas vagueações que escrevo muita "palha", isto é, coisas que não interessam a ninguém ou são obvias para outros, para mim tem sentido continuar a manter os registos, não os deixarei de fazer.
Contudo, tive que aprender a saber o que escrever, aprendi há pouco tempo que sou demasiado genuína no que escrevo e que quando exposto, muitas pessoas se identificavam demasiado com o que eu escrevia - tive que ir ao fundo da questão e entender o porquê. Houve muita gente que dizia que parecia que me conhecia sem nunca me ter visto, contudo, nas observações que faziam estavam muito longe de me entender. Eu queria dizer algo e era entendido de forma completamente oposta, para variar e, como sempre me acompanhou na vida toda, a minha comunicação estava a falhar - estaria? A minha comunicação não é para todos entenderem.
Algo que entendi com o passar dos tempos foi que nem sempre a comunicação falha, muitas vezes acontece haver sobreposições de ideias, expectativas e projeções de algo que está exposto ou escrito. E quantas vezes escrevia ou expunha uma coisa de forma tão inocente, mas era lido, entendido ou compreendido de forma completamente oposta. Que faria eu? Argumentava com essa pessoa? Cada um tem seu entendimento do mundo e do que os rodeia e não estou cá para mudar mentalidades isso parte de cada um. Deixo de parte as situações que não me dizem respeito. Dou por mim a: ou trabalho ou ando num novelo sem fim - prefiro o trabalho, a criação, concretização, a ampliação, modificação, gerar ideias e não estagnar.
Com o tempo habituei-me a escrever, sim, escrever muito, pouco, mas não deixar de registar o meu pensamento confuso - e eu sei que é demasiado confuso, fui diagnosticada com deficit de atenção e hiperatividade em adulta e tive que estudar a fundo o que é viver com esta condição. Aprendi a lidar comigo e como os outros de fora vêm pessoas como eu. Entenda-se que falar desta questão, para mim, não é fácil - mas são questões que têm que ser abordadas. Não é fácil viver uma vida com determinados pressupostos na cabeça e perceber que havia algo errado connosco. Que todas as vezes que fui chamada a atenção não entendia o porquê e inúmeras situações que marcaram a minha vida foi devido a esta situação. Nunca fui desrespeitadora (talvez do contra, mas sempre respeitei e soube respeitar espaços - do contra sim, porque o meu pensamento move-se à procura de soluções constantemente, portanto ele observa algo e pensa em todos os cenários possíveis, o que me faz perder do cenário original), contudo sempre disseram que era alguém muito difícil de entender - mas também não pretendo que qualquer pessoa me entenda.
Este nome deficit de atenção e hiperatividade talvez não seja o nome mais correto, porque conforme já ouvi, as pessoas pensam que eu não tenho atenção. Tenho, muita atenção, até porque todos os assuntos que me despertam interesse sou demasiado atenta, gosto de procurar, pesquisar, estudar e sobretudo criar. Talvez a atenção seja apenas focada às coisas que eu realmente gosto e não vou para outras coisas que não me puxam tanto a atenção. Quando fiz o meu curso e pós-graduação, passei com boas notas inclusive tive um diploma de mérito, portanto, não é não estar atenta é apenas ter atenção seletiva.
Sei que existe inúmeras pessoas como eu que durante uma vida viveram com determinados pressupostos e condicionantes, que a sociedade achou que eramos difíceis, que não entendíamos as coisas (entender, entendemos apenas focamos no que nos desperta mais a atenção e facilmente esquecemos ou não ligamos ao restante), os daydreamers, aqueles que interrompem constantemente as conversas que parecem não estar a ouvir os outros ou, não entendê-los... E depois, observar pessoas que não possuem qualquer conhecimento no assunto a opinar sobre o que é ser hiperativo é deveras curioso, senão triste... As formas como se aborda estas questões quer na televisão, quer seja na internet fazem com que seja fenómeno de gozo. Claro que só pode ser quem não entende não compreende as dificuldades com que lidamos no dia a dia, apenas observa que não nos enquadramos. Mas nós, mais do que ninguém, somos os primeiros a saber que não nos enquadramos - crescemos toda a vida a saber isso, porque nos diziam diretamente, até ao ponto de já não nos sentirmos enquadrados em lado nenhum quando adultos. E está tudo bem, habituei-me.
Não costumo durar muito tempo a fazer determinada tarefa ou estar em determinado sítio, mas quando algo me interessa hiperfoco, portanto, atenção tenho e consigo seguir um assunto a fundo (até demasiado) mas quando algo não me prende, não existe forma de estar atenta (existir até que existe - existem mecanismos, mas requerem demasiados esforços, às vezes não vale a pena exercer essa energia que se esgota).
Com o tempo habituei-me a trilhar o meu caminho, e sei, que há pessoas que compreendem esta situação de estar sempre a necessitar de ver coisas novas constantemente, é assim que o meu cérebro funciona, procura padrões, associa outros, vai buscar algo demasiado antigo e formula algo novo. Já não vale a pena lutar contra esta condição, apenas tenho que aceita-la e aceito. Relendo os meus textos antigos consigo me aperceber que eu sempre fui assim e sempre rejeitei esta parte de mim para me tentar enquadrar ou encaixar - sempre sem sucesso. Deixei de tentar e agora, ultimamente, sinto que tenho imensa dificuldade em estar inserida num grupo de pessoas. Porque consigo seguir a conversa de uma pessoa se estiver ao seu lado, consigo-me focar no assunto, mas quando estou no meio de muita gente já não consigo seguir todas as conversas, nem pertendo.
Conforme referi, já me habituei, creio é, que tenho que pôr em palavras porque é um assunto marginalizado nos dias de hoje. A arte ajudou-me a ter voz novamente, a expressar, a não me sentir posta de parte - aprendi a acolher-me e ser acolhida. A vida é assim, não podemos escolher como e quem vamos ser, temos que aceitar como somos. As minhas expectativas não são as expectativas de outras pessoas, a minha visão não é a visão dos outros, como sou, só a mim me diz respeito e pouco importa se se compreende ou não porque quem realmente importa esteve sempre ao meu lado nos bons e maus momentos e esses sim, têm o meu hiperfoco.
Quanto aos meus textos e o que escrevo aqui neste espaço, talvez alguma vez faça sentido outras vezes não - foi preciso um esforço sobrenatural para conseguir escrever sobre os caminhos de Santiago de forma encadeada... Sendo assim, uns dias aparecerão poesia, outras vezes tentarei escrever sobre viagens, outras histórias e narrativas, a minha mente divaga assim como as minhas obras, conecto pontos estranhos e nem sempre os sei explicar, sou assim não há nada a fazer a não ser treinar o foco e fazer com que isto não seja assim tão prejudicial - e eu já sei ver quando os meus dias prejudiciais - o conhecimento de nós próprios é fundamental.
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