Facilmente transito de uma fase para outra, depressa canso-me do que faço, é uma condição com a qual vivo desde que me conheço. Tem seus convenientes e por oposição, seus inconvenientes. Quando passo por estas fases existe uma ligeira perca de inspiração, tenho tido algumas soluções para estas pontuais "faltas de" que uma vez ou outra acontecem. É como um bloqueio criativo. Para evitar de os ter por norma sigo uma receita que é estar a fazer dois ou três trabalhos ao mesmo tempo, assim, quando um acaba tenho sempre os outros dois a que me dedicar.
Há dias que me apetece usufruir das cores e disfrutar do seu significado, noutros perder-me em detalhes, outros ainda, construir algo que projeto fazer. Para isso vou diversificando entre telas e já não é a primeira nem a segunda vez que abandono determinados trabalhos, ora porque já não me agradam, ora porque já não significam nada para mim. Em outros casos, insisto, porque creio que a temática, o jogo cromático ou a sua composição são aquilo que pretendo, ou até gosto.
Neste momento encontro-me num impasse e não vou encontrar solução em nenhum livro de receitas ou em qualquer conselho, este impasse é mesmo um bloqueio criativo. Tenho milhões de ideias a ferverem na minha cabeça, cheias de vontade de se soltarem e desbravarem horizontes contudo, vejo-me presa à minha comunicação inquietante. Mas estes bloqueios, não fazem parte desta mesma comunicação? É claro que sim. Estes desbravamentos de novas ideias, pensamentos idealizadores, ideias absurdas, abstrações, metáforas, todo este encadear de raciocínio pertence e faz parte desta temática.
Quando exponho o que acontece é a minha mente dizer-me: "Pronto, é isto, atingiste o auge mais do que isto não consegues". E daí, lá vem o bloqueio criativo. Depois não ajuda o facto de andar doente, não conviver, não ir à descoberta de novas aventuras... Eu preciso disso, de me soltar e neste momento sinto-me presa no meu próprio pensamento. Consigo observá-la, estudar e ver ela a boicotar-me aos poucos, as narrativas que me surgem, aquilo que ela quer que eu acredite. Vou ao encontro do passado e lá descubro, mais uma derrota, mais uma frustração, mais uma negação. Ligo os pontos e um a um entendo a argumentação que tenho com a minha mente. Não tenho por hábito ter muitos bloqueios criativos porque tudo me inspira um pouco mas não escapo a eles, que raramente me visitam mas quando assim é tentar encontrar novos pontos de vista.
Porque é que os artistas não falam dos seus bloqueios criativos? Como isso afecta o nosso trabalho, os momentos de mar alto em que nos encontramos (por vezes) sem encontrar terra. Ou então, no meu caso, ligo o gerador de ideias e tudo fica a meio. Como tudo na minha vida devido à condição que me acompanha, canso-me das telas, das cores, das formas, da temática, o problema é que se fosse só no trabalho estaria tudo bem, por vezes, estes cansaços estendem-se para além do trabalho. O meu cérebro procura sempre a novidade, o novo ponto de vista e depressa deixa para trás determinadas situações que por vezes necessitavam de um pouco mais de estudo. Ou então, aprofunda demais, cansa-se e parte para outra. Não é fácil, é como não encontrar referências em lugar nenhum, não ser referido em lugar algum. Por vezes as ideias movem-se, transformam-se e são grandes mas expostas, parecem pequenas, muito pequenas, pequenas demais.
Por vezes insisto nas coisas e ainda me questiono porque o faço. Talvez por ser dotada de uma teimosia extrema, teimosia essa completamente surreal, insana. Ás vezes essas persistências têm frutos, outras vezes, não e foi uma incrível perca de tempo. E são estas aglutinações de pensamentos que me trazem os bloqueios criativos.
Preciso de mudanças e provavelmente as minhas próximas obras irão trazer consigo essas mesmas reflexões. Uma forma de tentar contornar um bloqueio criativo é abordá-lo e escrever sobre ele, aos poucos um raciocínio aparece e um desenvolvimento do que estava bloqueado começa a desvendar.
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