Das recordações que possuo, inúmeras
são elas que me dão vida, o combustível
para continuar a viver.
Das leituras passadas sempre admirei
como fui e sou uma sonhadora
questionadora dos mais diversos assuntos
até à data não mudei, creio que não mudarei
sou uma investigadora da vida de vivências
das minhas experiências - tentativa-erro,
aplicação de ciências e técnica.
A ilusão também se desilude
e o especial pode-se tornar banal
ás vezes, nas investigações, perdemo-nos
aprendi a ter um pequeno fio condutor.
Aprofundamos tanto a fundo
que quando damos conta, somos nós,
estamos lá no fundo
perdidos em caminhos e derivações.
Tenho como referência uma realidade
não partilhada, perdão, e eu que partilho tanta coisa
esta não, já vi tanta fragmentação
de palavras escritas, descritas, aproveitadas, dilaceradas
que o que me dá rumo fica apenas cá dentro
é um sentimento que me faz continuar.
Tanto se vê e pouco se elabora
muito se fala e pouco se colabora
e eu própria já não sei o que falar
apenas um pouco da minha experiência posso contar.
Das primeiras recordações pictóricas, lembro de desenhar a cabeça de Sócrates, que tínhamos na nossa sala de aula, um exercício que me levou muito além do que apenas desenhar. Esse além, foi no sentido do questionamento, foi nessa jornada que comecei os meus estudos pictóricos e filosóficos. Mas não fiquei por aí.
Outro dos seguimentos foi, fragmentar o desenho que tínhamos acabados de fazer, desconstrui-lo, encontrar linhas de expressão geométricas, um pouco a tender para o cubismo. Outras, ondulações. Aí o exercício mental foi outro, abriu-se um universo de outras questões e, os estudos na altura em psicologia e filosofia ajudaram com o pensar. Questionar tudo o que visse, ir ao fundamento e argumento - ainda o faço, sempre o farei, sem me perder. Porque com os anos aprendi a haver a referência para voltar - algo que nos traga de volta. As artes, abriram-me as portas a um multiverso.
Há episódios da nossa vida que na altura que passamos por eles, parecem apenas isso, só mais um episódio, mas se víssemos bem o que aprendemos com eles. Nesse pequeno exercício que durou algumas aulas, apenas três, creio eu aprendi diversas situações. E claro, a minha mente ativa, registou todas essas divagações nos cadernos que guardo como historial da minha vida. É curioso agora olhar para trás, ver as pessoas com quem convivemos, os locais que frequentamos, os livros que lemos, todos os apontamentos e ainda hoje, com outros olhos, aprender mais alguma coisa, e por vezes, ainda rir um pouco de como desenhávamos na altura, tendo em conta que se tinha que desenhar em apenas dez minutos.
Desenhos da Cabeça de Sócrates, Oficina de Artes, 1997.
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